Iniciativa do movimento popular “Falo Pela Tua Saúde” é resposta à decisão do ministro de construir um hospital para todo o Oeste no Bombarral
Com a concentração marcada no estacionamento da Expoeste, cerca de três dezenas de carros e motos, seguiram em marcha lenta, percorrendo os vários acessos à A8, entre as Caldas e Óbidos. À ação de protesto, que durou duas horas e meia, foram-se juntando mais duas dezenas de veículos que, em marcha lenta e munidos de cartazes, chamaram a atenção da população para “o estado da Saúde” no Oeste e contestar a decisão anunciada pelo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, de localizar o novo hospital do Oeste no Bombarral.
A “caravana” passou junto ao Hospital caldense e terminou no recinto do mercado à hora de almoço, com a promessa de que haverá mais ações. “Se medirmos a distância entre o Hospital de Leiria e o de Loures o centro não é no Bombarral, mas é exatamente onde está previsto o novo hospital das Caldas-Óbidos”, salientou Jorge Reis, elemento do movimento “Falo pela tua saúde”, que organizou a iniciativa. Considera que, com esta manifestação popular, foi dado um “sinal muito claro” do que pretendem e reconhece que teria “mais impacto” se tivesse sido em Lisboa, junto à Assembleia da República, onde decorria, no mesmo dia, o debate da nação.
Jorge Reis alertou para a degradação que tem vindo a sofrer o hospital caldense e para a perda de valências, que leva os utentes a terem de se deslocar a Torres Vedras, a Leiria ou a Santarém. “O que era anormal passou a ser normalidade, ou seja, muitas vezes não temos a Urgência de Ortopedia, não temos Medicina Interna na Urgência”, exemplificou, pedindo uma maior mobilização das pessoas para lutarem por melhores cuidados de saúde no Oeste Norte. “O grupo que está a tentar fazer um novo 16 de março”, disse, numa alusão à intentona das Caldas, em 1974, que precedeu o 25 de Abril.
A caldense Ana Paula Loureiro foi uma das participantes na marcha lenta. Profissional no hospital das Caldas, recorda que a cidade cresceu à volta do Hospital Termal e que tem uma forte ligação à saúde, e realça que a unidade caldense do CHO possui mais de um milhar de trabalhadores. Falou das dificuldades de transporte diário para o Bombarral, a logística necessária com as respetivas famílias, mas acima de tudo porque as Caldas “tem muito maior atratividade”. É da opinião de que “se o hospital sair das Caldas sentir-se-á um grande impacto económico, tal como já aconteceu quando fechou o hospital termal” e porque “o nosso hospital sempre prestou um bom serviço, antes de ser CHO”.
Benedita marca presença
Entre os participantes na marcha lenta estavam também vários cidadãos da freguesia da Benedita, que pertencem ao concelho de Alcobaça, e são abrangidos pelo hospital caldense. José Belo mostra-se “revoltado com tanta incompetência”, realçando que as Caldas tem 500 anos de história ligada à saúde. Diz que a população “não está preparada para que se pense, sequer, encerrar o hospital” e contesta a decisão de terem de ir para o Hospital de Leiria, situado a 50 quilómetros, quando há uma resposta muito mais próxima, nas Caldas. O beneditense, que já esteve à frente da marcha lenta do IC2, defende a melhoria das condições da unidade caldense, em vez de construírem um “novo hospital mais próximo do de Vila Franca Xira e Loures”.
Também a participar na marcha lenta, o porta-voz da Comissão de Utentes do CHO, Vítor Dinis, realça a sua discordância com a dimensão do equipamento a colocar no Bombarral, que não obedece a determinados critérios, desde logo do ordenamento do território. “Somos do Oeste, não temos nada contra o Bombarral, mas é evidente que tinha de obedecer a critérios e não obedece”, manifestou.
O presidente da Câmara, Vitor Marques, não integrou a marcha mas esteve presente no início da concentração, onde realçou que “estamos todos juntos” na contestação da decisão do ministro da Saúde. “O hospital deve ser nas Caldas, não por bairrismo mas porque defendemos factores ideais para a região”, disse o autarca, acrescentando que as pessoas estão a perceber que há necessidade de criar condições para ter um hospital nesta região, para satisfazer a população do Oeste.
Também diversos presidentes de junta das Caldas marcaram presença na marcha lenta, assim como o antigo presidente de Câmara, Fernando Costa, o presidente da concelhia caldense do PSD, Daniel Rebelo, e o deputado na Assembleia da República, Hugo Oliveira. O parlamentar caldense fez questão de realçar que tem defendido a localização Caldas-Óbidos, em articulação com a sua colega do PS, Sara Velez, e entende que têm de se ampliar as formas de luta, que passam por ações populares mas também pela existência de um documento, a ser entregue à tutela, que justifica as razões pelas quais o hospital deve ser construído nas Caldas. ■