“No Verão a temperatura no Qatar passa dos 50 graus”

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2015-05-21Nuno Amaral
Moçambique
(viveu nas Caldas desde os cinco anos)
33 anos
Doha – Qatar
HSE Manager
Percurso escolar:Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro; Licenciatura em Saúde Ambiental – Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC); Licenciatura em Engenharia de Segurança – Instituto Superior de Educação e Ciências – ISEC – Lisboa; Técnico Superior de Higiene e Segurança do Trabalho – Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC); Pós-Graduação em Coordenação de Segurança do Trabalho na Construção Civil Instituto Superior D. Dinis da Marinha Grande (Grupo Lusófona); NEBOSH IGC (Internacional General Certificate)

 

 

 Do que mais gosta do país onde vive?

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Em primeiro lugar fascina-me a variedade de línguas e de nacionalidades existentes no Qatar. Todos os dias conhecemos pessoas dos mais diversos locais do mundo. A ostentação da riqueza é impressionante, mas também a quantidade de prédios, arranha-céus, shoppings e os carros topo de gama.

É interessante usufruir da rica cultura que este país tem para nos oferecer, nomeadamente entrar nos Souk’s e sentir todos os cheiros e aromas no ar vindos das especiarias e dos chás. Comprar algumas roupas e comer alguns pratos típicos do Médio Oriente. Para quem gosta de comidas condimentadas este é um local a visitar. Existem bastantes restaurantes turcos, libaneses, tailandeses, indianos, chineses, etc. Já experimentei num restaurante turco o famoso ensopado de camelo. Muito bom por sinal.

O que menos aprecia?

Considero que o clima é o aspecto mais difícil na adaptação. É necessário algum tempo para nos habituarmos ao Verão onde a temperatura passa dos 50 graus. A paisagem quase lunar e desértica também não é muito agradável. As tempestades de areia são constantes e existe sempre muita poeira no ar.

Outra coisa que incomoda é não ver muitas pessoas na rua durante o dia, pois refugiam-se em casa ou nos shoppings nas horas de maior calor. Parece que vivemos numa cidade fantasma. Tem que se ter algum cuidado com aspectos religiosos nomeadamente na altura do Ramadão. Também existe o problema relacionado com o consumo de álcool e carne de porco, sendo o consumo de álcool muito restrito e o consumo de carne de porco proibido no Qatar. Como qualquer “tuga” que se preze, sinto a falta da nossa feijoada e de beber um copo de vinho. Podemos ir beber um copo em alguns hotéis que têm bares para estrangeiros, onde é autorizado o consumo, mas as bebidas são muito caras.

De que é que tem mais saudades de Portugal?

Quando estamos fora as saudades da família são sempre o principal problema. Sinto imensa saudades da minha mulher, da minha filha e do próximo bebé que está a caminho. Os amigos também fazem imensa falta. Contudo, as saudades são minimizadas pois acabamos por conhecer novas pessoas quando estamos a trabalhar fora. A internet e o skype vão permitindo comunicar com a família.

Obviamente sinto uma grande saudade da nossa deliciosa gastronomia e como Benfiquista tenho imensa saudade de ir ver um jogo ao estádio e tenha pena de não estar presente para festejar o 34º título de campeão.

Tenho saudades de coisas simples como o nosso mar, das nossas praias, de comer um peixe grelhado à beira mar, de um bom bacalhau, ou de um pastel de nata.

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?

A minha vida vai passar por mais alguns anos no Médio Oriente. Aqui estão os maiores projectos de construção no mundo e pretendo fazer parte destes projectos. Claro que um dia quero voltar a Portugal, mas as políticas do nosso país levam a que os jovens tenham que emigrar se quiserem ter um futuro melhor. Em breve a minha família vem viver para o Qatar, o que vai ajudar imenso.

“Com o Mundial de Futebol em 2022, é premente que as estruturas de apoio estejam operacionais nos próximos cinco a seis anos”

Com a actual situação do nosso país, tal como muitos outros jovens tive que emigrar à procura de um futuro melhor para mim e para a minha família. Consolidar a minha carreira é um objectivo e neste momento já tenho cerca de cinco anos de experiência no mercado internacional, nomeadamente Angola, Cabo Verde e finalmente Qatar. Este ano também já estive em trabalho no Brasil pela empresa de formação iNLS-Solutions, na qual sou sócio e formador. A empresa tem negócios no Brasil, Moçambique e Angola, o que me vai levar a ter que ir algumas vezes a estes países também. A empresa é especializada em formação em Segurança e Ambiente e, neste caso, fomos dar um curso NEBOSH. Esta formação tem ajudado muitos técnicos de segurança portugueses a conseguir trabalho no mercado internacional.

No Qatar a vida é tranquila, mas trabalhamos mui tas horas. A semana de trabalho decorre entre sábado a quinta-feira, o que se traduz em 60 horas semanais. O dia de descanso é à sexta-feira; porém o sábado e domingo são dias de trabalho. Esta circunstância, tão diferente do que estava habituado, foi algo a que tive dificuldade de me adaptar e foi bastante duro nos primeiros tempos.

Trabalho numa empresa de construção Cipriota-Grega e estamos a fazer uma auto-estrada em Doha. Uma das mega obras que estão a decorrer neste país. Estamos dois técnicos portugueses a chefiar este departamento e temos uma equipa muito numerosa, dado que a exigência a nível de segurança é enorme.

Existe muito trânsito nesta cidade e tudo nos parece um “estaleiro” gigante de obras. O país está em pleno desenvolvimento e temos a sensação de que tudo está a acontecer ao mesmo tempo. Com o Mundial de Futebol em 2022, é premente que as estruturas de apoio estejam operacionais nos próximos cinco a seis anos.

Em relação ao dia-a-dia, o custo de vida é semelhante ao de Portugal. Os restaurantes e os supermercados têm boa qualidade de bens e serviços, e com preços bastante similares aos de Portugal. Comprar um carro neste país é bastante barato. As únicas coisas bastante mais caras são os apartamentos, escolas e, claro, o consumo de álcool.

Este pais é provavelmente dos mais seguros do mundo. Não há relatos de assaltos e as pessoas sentem-se bastante seguras em todo o lado.

 Nuno Bingre do Amaral

 

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