O caminho das notícias – de um facto ou acontecimento até ao papel do jornal

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A passadeira com jornais
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Numa edição comemorativa dos 99 anos da Gazeta das Caldas contamos ao leitor todo o caminho das notícias

Maia (Porto). Naveprinter. Primeiras horas de uma quarta-feira normal. Passa cerca de meia hora da meia noite, mas a agitação é visível nas instalações da gráfica. Entre empilhadoras a carregar carrinhas, que depois de carregadas saem para a distribuição, os barulhos e os cheiros da produção propriamente dita, vemos movimento, com mais de 15 pessoas a trabalhar, com a constante entrada e saída de viaturas.
É aqui que, semanalmente e de há uns anos a esta parte, a Gazeta das Caldas é impressa. O jornal faz, todas as semanas, estes cerca de 210 quilómetros (em linha recta), em formato digital, para então se transformar em físico.
Mas recuemos ao início do processo. É que para as notícias saírem no jornal, tudo começa muito antes da gráfica. As notícias iniciam-se todas da mesma forma: o facto ou acontecimento a ser noticiado. Depois da recolha da informação, o jornalista trata-a (que implica, na maior parte dos casos, a transcrição de gravações de entrevistas, mas também a análise de documentos e dados) e produz a notícia, seguindo as técnicas e o código ético e deontológico que rege a profissão.

Hoje em dia, na Gazeta das Caldas, o jornalista escolhe um dos modelos de página existente (há dezenas deles) que mais se ajuste, tanto à importância da notícia, quanto à limitação do espaço existente. Depois cabe aos paginadores disponibilizarem a página com esse modelo. A partir daí começa o momento da escrita.
Feita a página e corrigida, uma e outra vez, por diferentes pessoas, é preparado um ficheiro em formato PDF. É a junção dos vários ficheiros, um de cada página, que depois é enviada para a gráfica. Na Maia, Manuel Teixeira, que é responsável pela pré-impressão, é quem recebe os PDF e confere em busca de algum erro. Dá-se aqui o início do processo do jornal na gráfica.
É cerca de meia-noite quando o jornal chega (o horário varia consoante a hora do fecho, mas nesta semana passava pouco da meia-noite quando chegou a Gazeta). Na gráfica a atividade já começou às 22h00 e o movimento, embora não seja o de outros tempos, ainda é grande.

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Na pré-impressão, Manuel Teixeira elabora o plano, consoante o número de páginas, e depois um programa faz, automaticamente, a distribuição das páginas para os lugares onde elas devem ficar. O objetivo é agrupar as páginas em conjuntos de quatro, que é o número que cada chapa levará.
As chapas são isso mesmo, chapas hidrofilizadas, onde é gravada, numa impressora a laser, a informação que está nos ficheiros PDF, ou seja, as páginas do jornal. Com uma particularidade. É que “aqui tudo se resume a quatro cores: o azul, o magenta, o amarelo e o preto, e com elas tudo se faz”, explica José Pinto, que nos guia pela gráfica. Assim, cada página é impressa quatro vezes em quatro diferentes chapas, cada uma com a informação de cada cor.
Depois da impressão a laser, as chapas passam ainda por um forno e por um banho, são levadas por uma passadeira a uma máquina onde são dobradas e furadas e estão prontas a colocar nas rotativas, num espaço de pouco mais de três minutos (todo o serviço de pré-impressão leva cerca de 20 minutos).
Dois técnicos de impressão colocam as chapas, manualmente nas rotativas e, entretanto, um grande barulho anuncia o início da produção. As máquinas começam a trabalhar e rapidamente somos invadidos pelo barulho ensurdecedor da indústria, vemos movimento nas passadeiras, papel ainda branco a rodar a uma velocidade estonteante e a sair mais à frente com as páginas já impressas. Cada rolo de papel tem 600 quilos e produz, no mínimo, 12 mil exemplares de jornais.
Na Naveprinter são impressos três jornais diários e 10 títulos semanários, além de suplementos esporádicos.
As rotativas, com mais de 20 anos, têm uma capacidade de impressão de 30 mil exemplares por hora e imprimem frente e verso, levando duas chapas de cada lado, ou seja, são 16 páginas. Mas a máquina tem três zonas de impressão, pelo que, neste caso, como era uma edição de 40 páginas, as rotativas trabalhavam com 16 páginas em baixo, mais 16 em cima e 8 em baixo à esquerda.
Uma particularidade: é que as chapas nunca entram em contacto com o papel, mas sim com uma borracha chamada cautchú, que absorve a informação gravada a laser e a reproduz no papel. Além da tinta, a chapa recebe água, que retira a tinta das zonas onde não está a gravação a laser, ficando apenas o texto, ou imagem.
Depois de impresso, o papel passa ainda por uma estufa, para secar, e por uma zona de arrefecimento com água a dez graus. Posteriormente uma outra máquina cortará à medida e dobrará as páginas, saindo então já pronto pela passadeira que o levará à expedição.
A impressão dos quatro mil exemplares semanais leva apenas cerca de 15 minutos, mas é um período de grande atividade. É que até ao momento propriamente dito da impressão, há o trabalho dos técnicos. Recorrendo a um conta-fios (tipo uma lupa), vão fazendo os acertos para o jornal sair com nitidez e com as cores corretas. Ora colocam mais magenta aqui, ora acertam o cilindro do azul meio milímetro para o lado para a imagem não sair “tremida”.
Quando está pronto, as edições começam a seguir para a expedição, por uma passadeira com curvas e subidas e descidas, com dezenas de metros (entre uma ponta e a outra cabem mais de 850 exemplares de jornais). Lá chegadas, uma máquina conta e faz os maços, que depois são expedidos pelas empilhadoras para as carrinhas da distribuidora. Há exemplares entregues nos quiosques e noutros pontos de venda, mas também na própria Gazeta e outros são entregues nos CTT que os enviam aos nossos assinantes, um pouco por todo o mundo. Tudo para que à quinta-feira de manhã possam ler o seu jornal de sempre e serem informados com as mais recentes notícias em mais uma edição do título quase centenário. ■

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