O mais antigo colaborador do jornal chegou à Gazeta com 12 anos. Fez um pouco de tudo. E assim espera continuar.
É difícil encontrar alguém nas Caldas que não conheça o “Zé” da Gazeta, tal a popularidade do mais antigo colaborador do jornal, onde já fez “de tudo um pouco”. E escrever, claro está. Há décadas que é o editor do desporto, apesar de assumir que não é jornalista. “Costumo dizer que sou um curioso do jornalismo”, explica José Alberto Campos, que, aos 60 anos, espera “continuar por muito mais tempo” a servir o jornal de sempre.
A relação do “Zé” com a Gazeta iniciou-se aos 12 anos. Pouco “virado” para uma vida na agricultura, decidiu responder a um anúncio de emprego no jornal para uma vaga de paquete. Na companhia da irmã, Teresa, abalou dos Vidais para “tentar a sorte” no jornal a 24 de novembro de 1972, uma sexta-feira. Três dias depois, apresentou-se ao serviço e nunca mais deixou de colaborar no jornal, mesmo quando enveredou pelo profissionalismo no Exército.
“Comecei por fazer recados e ensacava os jornais. Isto durante as manhãs. De tarde era disputado pela tipografia do jornal, onde tinha a missão de repor as letras nas caixas para compor as notícias”, recorda o homem que chegou a “carregar às costas mais de mil Gazetas para deixar nos correios”. “O jornal era dobrado e tinha de levar os exemplares destinados ao estrangeiro antes das 18h00. Os jornais para as Caldas podiam seguir depois das 18h00”, relembra o paquete, que trabalhava, então, num bissemanário, com data de publicação às terças e sábados.
No jornal e na tipografia, que era propriedade da Gazeta, conheceu pessoas que o marcaram. “Na redação era o braço direito do sr. João Camilo. E na tipografia trabalhei com Joaquim Nunes, Adelino Tomás, João Cascão, Joaquim Raimundo e António José Martins, com quem aprendi muito”, evoca José Alberto Campos, que tinha, entre outras, a importante missão de entregar as provas na censura. “Era um trabalho que me dava grande gozo, porque, como se costuma dizer, andava sempre a cirandar”, explica.
Chega, então, o 25 de Abril e o rapaz que trabalhava no jornal viu a história acontecer. “No 16 de Março vi as tropas na cidade, peguei na bicicleta e segui os militares, mas não pude passar do quartel. Só mais tarde percebi o que acontecera nesse dia”, assume o homem que, anos depois, se tornará militar.
Entrou aos 12 anos como paquete e nunca deixou de ter ligação ao jornal, mesmo com uma carreira no Exército, pois acumulou funções. Assume que não é jornalista, mas um “curioso do jornalismo”
Com a revolução, dá-se uma mudança profunda na Gazeta. Em 1975 é criada a Cooperativa Editorial Caldense, com o equipamento a ser vendido e o jornal a ser impresso em gráficas da região. José Alberto Campos mantém-se e assiste à entrada do diretor José Luís Almeida e Silva, que o convence a “estudar à noite”. “Consegui conciliar tudo, completei os estudos e assisti ao crescimento e afirmação do jornal, com o surgimento de jornalistas. Até aí, o jornal vivia apenas dos correspondentes e dos colaboradores”, explica.
Quando chega a hora de cumprir o serviço militar, no Exército, mantém a ligação à Gazeta. “Estive na tropa em Tomar e recordo-me de ter feito a reportagem de um U. Tomar-Caldas, que o Caldas venceu por 1-0, com um golo do Pombo e de sair a correr do estádio para ir para o quartel escrever”, relembra. Enquanto esteve em Tomar, tirava as segundas-feiras para “recolher os resultados” e enviar para a redação. “Sempre com autorização superior”. Aos 23 anos, conseguiu colocação no quartel das Caldas e mais uma proeza: autorização para acumular o trabalho no Exército com a Gazeta. Assim continuou até entrar na idade de reforma, em 2003, quando se dedicou em exclusivo ao jornal.
“Em todo o lado sou conhecido devido à Gazeta e isso é muito reconfortante, porque sinto que o trabalho foi reconhecido. Espero assim continuar por muito tempo”, remata o “Zé” da Gazeta.