Óbidos mostra o peixe como “um mar de benefícios”

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O lançamento do projeto assinalou a comemoração do Dia Europeu da Alimentação e Cozinha Saudável | Fátima Ferreira

Ajuda na aprendizagem, concentração e memória, melhora a visão, protege a pele e previne doenças cardiovasculares mas, ainda assim, o peixe é rejeitado pelos mais novos. Para alterar essa situação, o serviço de nutrição da Câmara de Óbidos lançou o projeto Peixe-Um mar de benefícios, que pretende sensibilizar para a importância do consumo, sobretudo junto das crianças e idosos, bem como educar para a aquisição de hábitos alimentares saudáveis.
O lançamento do projeto inseriu-se na comemoração do Dia Europeu da Alimentação e Cozinha Saudável (8 de novembro), “onde a dieta mediterrânica ganha especial importância, com um consumo frequente de pescado”, explicou a vereadora com o pelouro da Saúde e Bem-estar, Margarida Reis. Com um vínculo gastronómico, a ideia passa por potenciar o consumo nas cantinas, fazer sensibilização junto dos encarregados de educação e criar uma maior proximidade com as famílias. Nas escolas e jardins de infância vão dinamizar o jogo do peixe, sessões de educação alimentar e o ateliê de gastronomia júnior, onde fazem receitas com os jovens. O programa quer chegar à população idosa, promovendo conversas à volta do peixe, com a Academia Sénior e atividades no programa Melhor Idade.
Óbidos candidatou-se também ao projeto Living Street, que irá decorrer entre 3 e 6 de junho, com foco na sustentabilidade e onde serão dinamizados showcookings à base de peixe. O conceito visa a recuperação do espaço público, redefinindo o uso, fechando temporariamente uma rua e proibindo a passagem de veículos. Paralelamente, são desenvolvidas atividades de forma a fomentar o envolvimento dos cidadãos.
Após a quadra natalícia, em que decorre a rota de sabores Delícias de Natal, o mote para a seguinte será o peixe, com a participação de diversos restaurantes. Paralelamente, serão potenciadas boas práticas na redução de desperdício alimentar, “tendo por base uma produção sustentável para um consumo razoável”, destacou a autarca, lembrando que já foi dado um passo grande neste sentido. As refeições são feitas na escola e diariamente têm uma nutricionista e uma técnica de nutrição a colaborar, tendo subido substancialmente o número de alunos a comer no refeitório, mesmo nos dias em que a refeição é peixe.

Os benefícios da cavala
Portugal é o primeiro a nível europeu, e terceiro a nível mundial, que mais pescado consome. E ainda que na sua costa seja abundante, ao nível da quantidade e diversidade, importa cerca de dois terços do pescado consumido. “A nossa balança comercial das pescas é deficitária e deve-se sobretudo a duas espécies, o bacalhau e o salmão”, explicou Patrícia Borges, docente na Escola Superior de Turismo e Tecnologias do Mar e promotora da empresa Docapesca, portos e lotas. A nível nacional as espécies mais descarregadas em lota são a sardinha, a cavala e o carapau, sendo que os dois últimos são os mais abundantes no mar português. “A cavala existe em tanta quantidade que nem quota tem e o carapau tem um limite de captura que não é atingido”, disse, dando como contraponto a captura da sardinha.
Defensora da aquacultura, Patrícia Borges referiu que o “mar não aguenta o consumo dos portugueses”. Isto porque, apesar de existirem muitas espécies, são quase sempre as mesmas que são consumidas e, devido à plataforma continental portuguesa, a quota para algumas é diminuta. Destacou ainda que é muito importante ver a proveniência do pescado e que no caso da aquacultura, os sargos, robalos e douradas vêm sobretudo da Turquia e da Grécia, o que acarreta problemas ambientais e económicos. Alertou também para o consumo do salmão de aquacultura, cuja cor rosa é dada por um corante e podendo acarretar problemas para a saúde.

O projeto surge como uma reação à rejeição do consumo de peixe, sobretudo dos mais novos

A espécie que defende e que mais promove é a cavala que, apesar de ser uma das mais abundantes do nosso mar tem uma conotação negativa. “É associada ao peixe do pobre, muitas vezes utilizado em piscicultura para os atuns e das mais utilizadas como isco na pesca, nomeadamente para a pesca do bacalhau”, explicou a docente que desenvolveu, em 2015, um hambúrguer de cavala e, no ano seguinte, almôndegas de cavala, pensando nas cantinas, um produto e lhe valeu o primeiro prémio num concurso do Intermarché Produção Nacional.
Patrícia Borges defendeu que, em termos de pescado, “devemos consumir as espécies que existem em maior quantidade”.
Também presente no evento, o vice-presidente da Câmara, José Pereira, referiu que projetos como este, ou a rede de percursos pedestres apresentada recentemente, “são pequenos oásis no período de pandemia, para criar esperança e alívio na comunidade e dizer às pessoas que há coisas importantes que temos que valorizar e cuidar”.