As obras no Serviço de Urgência do Hospital das Caldas não vão resolver todos os problemas e não acautelam o futuro. É que se não for aumentada a capacidade de internamento do Hospital, na prática a única coisa que esta empreitada – no valor de 1,7 milhões de euros – permite, é transferir os doentes do corredor para uma sala, o que é importante, mas não resolve o problema.
Além das obras, a recente vaga de calor, as férias o aumento da população sazonal e os problemas já conhecidos daquela unidade hospitalar, poderiam originar uma tempestade perfeita, mas parece que até agora tudo tem corrido na normalidade.
Numa altura em que se podia pensar que o serviço de Urgência do Hospital das Caldas estaria à beira de uma tempestade perfeita, com a vaga de calor, as obras na urgência e a falta de recursos humanos (agravada por ser a altura das férias), falámos com a directora do Serviço de Urgências do Hospital das Caldas, Cristina Teotónio, que faz um retrato positivo da actualidade, mas não deixa de fazer sérios avisos para o futuro.
Cristina Teotónio entende que as obras no serviço de urgências do Hospital das Caldas são benéficas e eram necessárias, mas não são a resolução de todos os problemas.
A directora do serviço admite que estas obras são um remedeio. “Será uma mais-valia porque permite reestruturar o serviço e que as macas que habitualmente ficam no corredor deixam de ficar”, referiu a médica. Mas aquilo que na prática irá acontecer é transferir os doentes do corredor para uma sala, sendo que continuam internados no serviço de urgência sem serem transferidos para os respectivos serviços.
A médica defende que é “necessário aumentar a capacidade de internamento”, até porque os doentes que estão nos corredores não estão ali apenas em observação, são ali deixados porque não há vagas no internamento.
Do ponto do vista do doente, estar internado no respectivo serviço é benéfico, até porque no internamento existe um acompanhamento feito pelo mesmo médico, enquanto nas urgências são vistos por médicos diferentes a cada dia.
Por outro lado, se há uns anos se pensava que a medicina ia ser cada vez mais ambulatória, hoje em dia já se percebeu que não porque a população é cada vez mais idosa. “Desengane-se quem pensa que não é preciso mais camas”, disse a médica.
Também era necessário haver um reforço dos recursos humanos porque actualmente “o quadro do hospital não tem profissionais suficientes para garantir a urgência”. Um cenário que neste período de férias se agrava.
A mudança para EPE (Entidade Pública Empresarial) irá permitir uma maior liberdade de acção na contratação, que no entanto vai sempre depender da capacidade para pagar. “E a nossa capacidade de pagar é limitada”.
Actualmente, há médicos nas Caldas com centenas de horas por gozar e muitos acima da idade de fazer urgências que ainda as fazem. Há muitos profissionais em risco de burnout (esgotamento) porque, além das características inerentes a este serviço, já trabalham há anos nesta sobrecarga.
Sobre as obras, Cristina Teotónio admite que, obviamente, tem havido alguns constrangimentos, mas o projecto foi feito de forma a que não inviabilize o serviço, utilizando alguns espaços de apoio, como a sala de repouso e a copa. Ainda assim, é lógico que há taipais nas urgências, a dividir certas zonas e que há ruído (que irá aumentar quando começarem as obras no interior), mas “tem corrido muito bem, até melhor do que pensava”.
Segundo a directora do serviço, esta solução tem alguns ganhos relativamente à transferência do serviço para contentores. A começar pelo benefício económico, uma vez que o custo da obra quase duplicaria caso se optasse pela instalação provisória das urgências em contentores.
Ao nível dos equipamentos, que era uma das maiores queixas no hospital das Caldas, Cristina Teotónio revelou que tem sido feito alguma renovação, mas não tem havido um acompanhamento da evolução tecnológica.
Ainda assim, a tempestade perfeita está afastada, pelo menos para já, nas urgências das Caldas da Rainha. O plano de contingência por causa do calor ainda não foi activado porque, para tal, é necessário que durante três dias seguidos estejam mais de 28 doentes internados no serviço de urgência. O que, apesar da vaga de calor extremo, não se verificou.
No caso de ser accionado, o plano prevê a abertura de mais camas no serviço de medicina de Peniche e a colocação de macas nos corredores.
Por outro lado, nesta época balnear, o próprio CHO já se reajusta e faz um reforço em Peniche, com mais um médico no serviço de urgência de 15 de Julho a 31 de Agosto, que permite que os tempos de espera não sejam tão longos e evita que muitos doentes tenham que ser transferidos.