No seguimento dos acontecimentos trágicos do último ano relacionados com os incêndios, a OesteCIM decidiu criar uma brigada de sapadores florestais. Escolheu um armazém que era sua propriedade na Usseira para sede, lançou o concurso e começou a dar formação a 15 pessoas.
O objectivo é ter uma brigada que sirva o Oeste e que ajude no combate aos incêndios de forma directa, mas também através da prevenção (limpeza das matas) e como factor dissuasor para eventuais pirómanos.
Cada equipa de cinco pessoas tem um veículo com material de primeira intervenção em caso de incêndio, equipamento de protecção individual e máquinas e ferramentas para limpeza das matas.
Recentemente os sapadores visitaram quartéis dos bombeiros e fizeram o curso de vigilância e primeira intervenção em incêndios rurais, uma formação dada pelo IEFP que, entre outras competências, deve ensinar aos sapadores como agir em caso de incêndios em meio rural. Perceber o comportamento do fogo e como o extinguir são alguns dos objectivos.
Os sapadores aprenderam ainda a fazer faixas de contenção e segurança, que consiste em cortar cirurgicamente o combustível florestal, para fazer parar as chamas.
Subimos a serra de Montejunto e, depois de um acidentado percurso por estradas de terra enlameadas, chegamos ao local onde se encontram os sapadores.
De ferramentas às costas, com moto-roçadoras e outras ferramentas manuais, em carros com depósitos de água, os sapadores vão cortando o mato que lhes chega à altura da cintura e que mais não é do que um perigoso combustível em época de calor.
Durante os meses mais frios a gestão da silvicultura irá ocupar a brigada que, no Verão, e sob coordenação da Autoridade Nacional da Protecção Civil, irá dar apoio às operações de protecção e socorro, no âmbito do dispositivo de combate a incêndios rurais.
Segundo o chefe da brigada, Leonardo Pereira, que é credenciado em fogo controlado,
“a Brigada surge no âmbito de uma mudança de estratégia a nível nacional” e
“tem como missão principal a gestão da rede primária e secundária” que foi definida pelo Governo.
Trata-se de um mapa das freguesias que define que é prioritária a fiscalização de gestão de combustível nas freguesias de primeira e segunda prioridade, de acordo com a classificação feita pelo ICNF.
No Oeste existem várias zonas de segunda prioridade como Vau, Vidais, Benedita, Évora de Alcobaça, Turquel, Nazaré, Valado dos Frades e Peniche. Alguber, Abrigada e Cabanas de Torres, Santiago Dos Velhos, Lamas e Cercal, Ramalhal, Maxial e Monte Redondo.
Todos os anos será feito um plano de actividades, em conjunto com os 12 municípios da OesteCIM e com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, para identificar zonas de intervenção.
Paulo Simões, secretário da OesteCIM, explicou à Gazeta das Caldas que o processo de recrutamento não foi fácil, até porque inicialmente o concurso era para mobilidade dentro da administração pública e só depois optaram por um concurso externo.
A Brigada é financiada pela comunidade intermunicipal, que conta com um apoio do ICNF no pagamento dos ordenados. No total a OesteCIM estima investir cerca de 150 mil euros por ano nesta brigada (em material, combustível, ordenados, etc). “A existência da brigada permite diminuir o número e dimensão dos incêndios”, salientou Paulo Simões, relevando a importância da prevenção e não só do combate.
Actualmente a brigada está a concluir a formação, que deve estar terminada a 7 de Março, iniciando-se então o trabalho no terreno.
Estas primeiras semanas têm sido de instrução e treino até porque alguns estão a ter o primeiro contacto com esta realidade, seja com as ferramentas, seja com o fogo.
O caldense Luís Carreira é um dos sapadores. “Foi uma mudança e é uma novidade para mim, a parte da protecção civil é tudo novo”, referiu, acrescentando que está a gostar de ser sapador por poder trabalhar ao ar livre. “É um trabalho que requer destreza física e mental e, acima de tudo, é um trabalho útil para a sociedade”, resumiu.
Uma mulher num mundo masculino
Sílvia Carvalho, de Alfeizerão, trabalhou 11 anos nos Correios a fazer distribuição de carrinha, mas “estava farta do trabalho que fazia” e como gosta de aventuras, decidiu “fazer uma mudança radical” na sua vida e tornar-se sapadora florestal, a única nesta brigada.
“Está a ser muito interessante”, disse. A carga física nem a tem incomodado nestes primeiros tempos de formação. “Estou a gostar muito do que estou a fazer, aprendemos imenso e somos uma equipa”.
É uma mulher entre homens, num trabalho muitas vezes visto como masculino. “Sou a única mulher nesta brigada e tenho alguns privilégios como única menina no mundo dos homens que nem sempre me tratam como igual, apesar de o ser”, afirmou.
Sílvia Carvalho fez notar que “de acordo com o que se tem passado no país nos últimos anos e a devastação que tem acontecido nas florestas, este trabalho é muito importante na ajuda aos Bombeiros, porque desta forma existem menos incêndios”.