Já regressaram às suas casas os seis amigos, residentes nos concelhos de Óbidos e Bombarral, apaixonados por todo-o-terreno, que durante uma semana partiram à aventura no deserto no norte de África.
Durante a expedição que fizeram a Marrocos, onde percorreram um total de 3.750 quilómetros, os viajantes contactaram com a cultura local, mas também deram largas à adrenalina, percorrendo as dunas do deserto com as suas moto 4.
Carlos Ribeiro quer regressar ao deserto na próxima oportunidade que tenha, ou seja, quando se juntar outro grupo de amigos com a paixão pelas motos de todo o terreno e a aventura.
O fotógrafo e viajante Carlos Ribeiro, que já fez mais de 30 expedições ao norte de África, viveu entre os dias 16 e 25 de Março, uma experiência diferente. Juntamente com cinco amigos, propôs-se a percorrer as pistas do deserto do Sahara, numa área de 300 quilómetros, com as suas moto 4.
O deserto foi uma descoberta para Álvaro Cordeiro, Carlos Penteado, Dário Pimpão, Firmino Ferreira e Marco Mineiro, que pela primeira vez tomaram contacto com as areias que conheciam apenas das transmissões da TV do rally Dakar. Mas a aventura começou muito antes, com o contacto com a vida social e cultural árabe, nas cidades de Tânger, ou de Fez, esta última o berço da primeira universidade e a capital espiritual de Marrocos.
“Há ali um contraste entre a sociedade marroquina antiga, que se rege por padrões seculares e mantém os pequenos negócios artesanais, como os alfaiates, latoeiros e vendedores de metais e legumes, e a cidade cosmopolita”, explica Carlos Ribeiro. Depois das cidades veio a descoberta das grandes planícies cerealíferas do norte de Marrocos, toda feita a bordo dos veículos todo-o-terreno.
Ao chegar à cordilheira do Atlas os aventureiros oestinos deparam-se com uma grande seca, tal como se tem verificado em Portugal até recentemente. Não apanharam neve e as temperaturas oscilaram entre os 5º e os 15º no Atlas e na ordem dos 23º no deserto.
“No Atlas era de esperar gelo na estrada e neve, mas nada disso aconteceu porque o país está a passar por uma seca”, explicou o responsável, que nas viagens anteriores costumava apanhar temperaturas negativas na travessia daquela que é a maior cadeia montanhosa do norte de África.

A grade incógnita da viagem era saber como é que as moto 4 se iriam comportar no deserto. Como “camelos mecânicos”, caracteriza Carlos Ribeiro, destacando a performance destes veículos nas dunas, um piso, “muito difícil, que cria muita prisão para que os veículos possam evoluir”.
Gerindo muito bem a relação peso, potência das motos e o sistema de tracção às quatro rodas, conseguiram ““flutuar” de duna em duna com um à vontade que eu nunca tinha experimentado na condução de jeeps”, disse.
Ao todo fizeram 300 quilómetros fora de estrada. Estiveram três dias inteiros no deserto, percorrendo com as moto 4 as pistas do Dakar, mas também “contemplando o silêncio” que só o deserto permite.
Surpresas no percurso

Durante o percurso tiveram duas surpresas marcantes. Ao quinto dia de viagem, em pleno deserto, o grupo levantou-se de madrugada para ver nascer o sol. Enquanto contemplavam a paisagem árida, uma menina, com cinco, seis anos, apareceu sozinha ao pé deles e, sem dizer nada, foi embora meia hora depois. Certamente filha de nómadas, a criança regressou à sua caravana com água, comida e até algum dinheiro que os viajantes não resistiram a dar, face a tal “aparição”.
Outro ponto importante da expedição foi o encontro com o rally Touareg, com vários pilotos europeus a participar. “Fomos várias vezes confundidos com check points da prova e auxiliámos vários participantes que estavam perdidos ou fisicamente esgotados”, recordou Carlos Ribeiro, acrescentando que este encontro fez as delícias do grupo, todos apaixonados por desportos automóveis.
Durante a viagem andaram também junto a várias cáfilas de camelos, encontraram caravanas de berberes, estiveram junto a vários acampamentos de nómadas e foram, inclusive, convidados a tomar chá com eles.
O guia Carlos Ribeiro, que há mais de duas décadas faz expedições a Marrocos (foi técnico de todo-o-terreno e proprietário de uma das maiores empresas portuguesas de todo-o-terreno desportivo), tinha várias responsabilidades: levar os amigos em segurança, navegar em segurança para que não se perdessem nas cidades, estradas e no deserto, assim como garantir o seu conforto. Destaca que a missão foi cumprida e que o maior choque para os estreantes foi mesmo a gastronomia. Nos 3.450 quilómetros que fizeram apenas tiveram um furo na estrada, num dos carros que levavam.
De acordo com o responsável, a expedição só foi possível devido aos patrocínios do grupo Auto Júlio e TNC – Telecomunicações do Centro, e apoio da AC – Reparação Automóvel Amoreira, C J Penteado, Mineiro Luz, Oppidum Ginja de Óbidos e do The English Centre – Escola de Línguas. A viagem, no total, teve um custo de 800 euros por pessoa. Os participantes gastaram cerca de 800 litros de gasóleo e mais 60 litros de gasolina em cada uma das moto4.
A pedido de várias pessoas Carlos Ribeiro já está a preparar uma próxima viagem com o patrocínio da Gazeta das Caldas.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt