

Ao olhar para estas fotografias, algumas recordações se me avivam e algumas preocupações se me tornam presentes.
Comecemos pelas recordações, umas mais longínquas outras mais recentes.
Vieram-me à memória tempos da minha infância. Lembro-me de passeios às Águas Santas, com bom tempo, aos domingos, em quinta–feira de espiga (quinta-feira de Ascensão) onde havia, além do Balneário que está fotografado nas imagens acima, um aprazível jardim. Este não era muito grande, mas tinha umas mesas e cadeiras e era limitado por uma vedação de madeira, em ripas, formando losangos. Era bem arranjado, assim como o espaço limítrofe do Balneário. As águas eram utilizadas em banhos, para doenças da pele, mas também para problemas de estômago, na que se ingeria. Segundo alguns cronistas das Caldas, começaram a ser utilizadas em meados do séc. XIX, mas é provável que, devido à designação do local, Vale dos Banhos, ali tenham havido, em tempos mais antigos, alguns banhos. Era a Câmara a proprietária e administradora do Balneário.
No início da segunda metade do séc. XX começaram a degradar-se as instalações pois a água tinha desaparecido. Várias explicações foram dadas na altura, penso que sem qualquer base científica, para explicar esse desaparecimento. Entretanto, nos anos 70 do século passado, foi construída a Estação Depuradora das Caldas, cujo emissário final tem um desarnador junto ao antigo edifício do Balneário. No fim dos anos 70 início dos anos 80, sendo eu Presidente da Câmara, foram feitas algumas pesquisas no sentido de se procurarem as águas perdidas, mas resultaram infrutíferas.
Em 1994/95 o Agrupamento das Caldas do Corpo Nacional de Escutas, necessitando de uma sede onde acolher os seus mais de cem jovens e o material, fez um protocolo com a Câmara que lhe disponibilizou, por um determinado período de tempo, o edifício onde tinha funcionado o Balneário, já bastante degradado. Foi recuperado, nomeadamente o telhado que tinha uma parte abatida, pelos pais com a colaboração da Câmara e da Junta de Freguesia de Santo Onofre. Penso que foi uma boa solução, pois o património está preservado e com utilização por uma associação de jovens, que tem cuidados especiais com o ambiente e com a natureza.
Vamos às preocupações.
A nossa terra, Caldas da Rainha, é conhecida, e desde sempre, pelas suas águas, que estiveram ligadas ao seu nascimento. Não só as que deram origem ao Hospital Termal, mas também todas as que apareceram nos nossos arredores, inclusivé as Águas Santas. Estas, estão desaparecidas. E o nosso Hospital Termal? O que será que lhe vai acontecer? Não vejo que tenha havido grande interesse no passado, nem que haja no presente, por parte da tutela em o modernizar e em resolver os seus problemas pondo-o apto a dar resposta às solicitações que continua a ter. A economia local e, por consequência, também a nacional, ressente-se da situação a que se chegou e que se teima em não querer solucionar. Não é novidade que chegámos a ter cerca de oito mil utentes e que as receitas geradas suplantavam as despesas, dando para ajudar o então Hospital Distrital.
Esperemos que a degradação que atingiu as Águas Santas após o seu declínio, não tenha mais nenhuma repetição na nossa terra.
José Luís de Carvalho Lalanda Ribeiro