As comemorações dos dois momentos determinantes para a conquista da Liberdade são destacados pela Gazeta das Caldas como o acontecimento do ano de 2024
Este ano celebraram-se os 50 anos de duas importantes datas fundadoras da democracia portuguesa, o 16 de Março e o 25 de Abril de 1974. Conhecido como a Intentona ou o “levantamento” das Caldas, o 16 de março foi uma espécie de prenúncio do que viria a acontecer pouco mais de um mês depois, ao colocar em andamento um processo de revolta contra o regime, que este não conseguiu combater. Do então RI5 partiu, na madrugada desse sábado, uma coluna com cerca de duas centenas de soldados, comandada pelo capitão Piedade, rumo a Lisboa, com o objetivo de derrubar o governo de Marcello Caetano. A estes militares deveriam juntar-se outros, provenientes Lamego, Mafra e Vendas Novas, no entanto, já às portas da capital, foram informados que nenhuma dessas unidades tinha saído dos quarteis. A coluna das Caldas abortou o golpe e regressa ao quartel, onde depois seria cercada por forças, alegadamente fiéis ao regime (parte, como a EPC de Santarém, que em 25 de abril sairiam para derrubar então definitivamente a ditadura) e, mais tarde, acabaria por se render e os revoltosos detidos e levados para a Trafaria, enquanto outros elementos do regimento foram transferidos para outras unidades militares.
A data é celebrada anualmente nas Caldas, junto ao monumento que lhe é dedicado, da autoria de José Santa-Bárbara, artista plástico que este ano assinou a ilustração da edição comemorativa dos 50 anos do 25 de abril publicada pela Gazeta das Caldas. A efeméride foi ainda assinalada com a sessão “A minha liberdade é de todos”, dirigida ao público escolar, e uma tertúlia com a historiadora caldense Joana Tornada e alguns dos intervenientes na altura.
Os 50 anos do 25 de abril foram assinalados com uma sessão solene na Praça 25 de Abril, juntando largas dezenas de pessoas. Na cerimónia, a importância do 16 de Março foi comungada por todos os oradores, tal como a necessidade de continuar a lutar pela manutenção da liberdade. Teve lugar o tradicional içar das bandeiras e largada de pombos, música pelo coro do Conservatório das Caldas e também da Tuna da Universidade Sénior, mas também uma instalação com 2600 cravos de croché preenchendo as palavras 25 de Abril foi colocada na Praça 25 de Abril para assinalar o 50º aniversário da revolução. A intervenção esteve pouco tempo completa, mas já foi encontrada outra solução artística, mais perene, para decorar a estrutura, que permanece na praça. Também a Gazeta das Caldas destacou a efeméride com uma edição especial, que teve como diretor convidado o historiador e investigador caldense Luís Nuno Rodrigues que, em entrevista, refere que o “25 de Abril é a data mais importante da história contemporânea portuguesa”.
A edição, que contou com os testemunhos de jovens historiadores caldenses sobre e efeméride, incluiu também uma conversa entre o diretor convidado e três jovens caldenses, onde abordaram questões como a forma como a juventude vive a Revolução dos Cravos, a democracia e o ativismo político, assim como as suas preocupações para o futuro.
Os jornalistas Adelino Gomes, que na manhã de 25 de abril de 1974 estava no Terreiro do Paço e acompanhou a par e passo a revolução, e Avelino Rodrigues, que fora capelão do RI5 e pároco dos Vidais, no final dos anos 60, e depois na redação do Diário de Lisboa, partilharam as suas experiências numa iniciativa organizada pela Gazeta e a Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, com os municípios de Caldas e Óbidos, para assinalar a Liberdade de Imprensa, também ela uma conquista de Abril.
Os acontecimentos do 16 de Março e do 25 de Abril ficam “eternizados” em três murais. Na parede na Rua António Sérgio, está uma homenagem ao Golpe das Caldas, da autoria da dupla do projeto Ruído (Draw – Frederico Soares Campos e Alma – Rodrigo Guinea Gonçalves) e que faz parte de um conjunto de 14 “Murais de Liberdade”, inseridos nas celebrações do 50.º aniversário do 25 de Abril de 1974, criados durante em diferentes localidades do país. Na escola do Avenal, cerca de 190 alunos, do primeiro ao quarto ano, elaboraram um mural, sob a coordenação e supervisão de Bruno Prates, comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril e que tem a particularidade de ser visível do exterior deste estabelecimento de ensino. Também na Sala de Processos do Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro está um mural alusivo à data. “Janelas da Liberdade” homenageia a “Revolução dos Cravos” e questiona o papel da democracia na sociedade atual.
Gazeta das Caldas considera assim estas comemorações destes cinquentenários com os acontecimentos do ano de 2024 de maior destaque. ■
