
O que junta três professores de música, um funcionário de uma escola, um fotógrafo e um joalheiro? A resposta é o gosto pela música medieval e tradicional e o espírito de aventura, que os leva a passear por várias localidades, sobretudo durante o Verão, participando em recriações históricas e mercados medievais.
Os Goliardos, que têm a sua origem nas Gaeiras, existem desde 2005 e no seu repertório incluem músicas da antiguidade europeia e tradicionais, aliadas a um ritmo evoluído e festivo. Este ano são o grupo residente do Mercado Medieval de Óbidos, onde garantem animação diária.
A gaita de foles comprada na Galiza numas férias familiares, em 2005, viria a ser o motor para o nascimento de um grupo de música tradicional, que mais tarde evoluiu para os Goliardos. Os irmãos Emanuel e Edgar Libório, das Gaeiras, tinham formação clássica de música e para aprender a tocar o novo instrumento pediram a ajuda de António Silva (Quitó), que é multi-instrumentista.
Emanuel Libório aprendeu gaita de foles, o irmão Edgar tocava caixa de rufo e o primo Rodolfo Santos, que entretanto se juntara ao grupo, tocava bombo, formando assim um trio que se estreou em vésperas da festa de Setembro, recuperando a tradição dos gaiteiros a fazer o peditório pela terra. O grupo inicial chamava-se “Toca Aqui” e do repertório faziam parte modas galegas e outras músicas tradicionais portuguesas.
Como já se realizava o Mercado Medieval em Óbidos e acharam que “talvez fosse porreiro participar”, os jovens prepararam algumas músicas para actuar junto da colectividade das Gaeiras. Os sons agradaram à Vivarte, empresa que na altura coordenava a animação, que os incentivou a animar outros eventos, como foi o caso de Valença do Minho, logo no ano seguinte.
Foi também nessa altura que o grupo ganhou um novo elemento – João Maia – e começou a fazer pesquisa de musica medieval para interpretar nas suas actuações. Em 2008 chega mais um músico ao grupo – José Alves, na altura estudante universitário em Coimbra, que também aprendeu a tocar gaita de foles “em apenas um mês”, recorda o seu “professor”, Emanuel Libório.
O agrupamento ficou completo em 2011, com a entrada de Dane Rasteiro, que toca percursão, timbalão e caixa. Desde 2008 têm uma calendarização assídua de espectáculos. Inicialmente trabalhavam com a Vivarte, mas depois foram conhecendo outras empresas de animação e contactando directamente autarquias, escolas e Juntas de Freguesia. A primeira internacionalização foi em Finale Ligure (Itália), seguindo-se, em 2010, a actuação em Rhodes (Grécia) e depois Jerez de los Caballeros (Espanha). Em finais de Junho estiveram em Provinsi (França), naquele que é o maior mercado medieval do país e um dos maiores da Europa, com a presença de mais de 40 grupos de animação. Foram descobertos através do facebook, porque a “organização anda sempre à procura de novos talentos e de grupos que nunca tenham ido a França”, explica Edgar Libório. E a actuação correu tão bem que o grupo das Gaeiras está já convidado para voltar no próximo ano e, com eles, assinalar o 30º aniversário do certame.
Os jovens envergam um traje francês que era utilizado pelos trovadores na Idade Média, e que foi adquirido em 2008 com a apoio da autarquia de Óbidos. Foi também nesse ano que o grupo mudou de nome, passando a chamar-se Goliardos, expressão que apelidava os académicos errantes dedicados à aventura e boa vida.
CD de autor apresentado em França
Foi também em França, que lançaram o seu CD de estreia, com nove faixas, incluindo uma original, denominada Gobeck Dansi, a expressão turca para dança do ventre. Há também músicas tradicionais portuguesas, como é o caso de Muinheiras e Pingacho e outras medievais.
“Como muita da música medieval original é de corte, e bastante lenta, não é a mais apelativa nos mercados medievais, pelo que lhe demos uma roupagem e ritmo diferente”, explicou Emanuel Libório à Gazeta das Caldas.
Este registo e trabalho de divulgação do grupo foi gravado na sala de música do Complexo do Alvito, “que tem umas óptimas condições”, pelos próprios elementos com a ajuda de amigos. Edgar Libério fez a fotografias e o design do CD. A edição de autor é de 500 exemplares, grande parte deles já vendidos. Os que restam podem ser adquiridos junto dos próprios elementos, ou através da sua página no facebook, pelo preço de cinco euros.
Dentro de três anos comemoram uma década de existência e pretendem fazer mais uma edição discográfica, possivelmente, com a inclusão de instrumentos de corda, como é o caso da rabeca (antecedente do violino).
Estes músicos estão também disponíveis para ensinar e não colocam de parte a criação de uma escola de ensino de gaita de foles para renovar o interesse por este instrumento utilizado na música tradicional do Minho, Trás-os-Montes e a Estremadura.
Os instrumentos que usam são construídos em Torres Vedras e na sua composição utilizaram peles de cabra, oferecidas pelo grupo catalão Els Berros de la Corte, e curtidas de forma manual.
Recentemente construíram, eles próprios, um timbalão (instrumento de percursão). “Comprámos a estrutura em Ermesinde, depois fizemos o encordoamento e colocámos a pele, com os ensinamentos do Quito”, explicou Edgar Libório, acrescentando ainda que depois pediram a um barbeiro para aparar o pelo de cabra.
As actuações este ano vão terminar com o Mercado Medieval de Óbidos, o evento de excelência para estes músicos, pelo rigor, animação e envolvência que oferece.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt