Os melhores alunos são também desportistas e bons amigos

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Gazeta das Caldas
Zahra Cassamo foi para Londres estudar Gestão e Economia |DR
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Organização, dedicação e um estudo contínuo. Junta-se a aptidão e a facilidade em aprender e chega-se à receita dos melhores alunos.
Eles têm médias próximas dos 20 valores e foram os melhores alunos do 12º ano nas escolas das Caldas. Perguntamos-lhes se estudam muito, eles dizem que sim. Mas acrescentam que também fazem desporto e saem com os amigos, realçando que o facto de manterem uma vida activa fora dos livros é essencial para chegarem aos bons resultados.
Eles são Patrícia Cunha, João Tomás Realinho e Zahra Cassamo e entraram agora para a faculdade.

Durante três anos, Patrícia Cunha foi a melhor aluna na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro. Terminou o último ano do curso de Ciências e Tecnologias com a média de 19,2. “A sensação de sermos os melhores é muito boa. Não falo apenas da nossa fotografia estar afixada na parede da escola, mas também do orgulho que vemos na cara dos professores no dia da cerimónia porque eles sentem que as nossas conquistas também lhes pertencem”, diz a aluna.

[caption id="attachment_101072" align="alignleft" width="850"]Gazeta das Caldas Patrícia Cunha entrou no curso de Bioengenharia no Porto |DR[/caption]

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Patrícia Cunha sempre teve claro que a área das engenharias era a que mais gostava. Acabaria por escolher Bioengenharia, mas já lá vamos. “Sabia que as médias de entrada eram altas, por isso desde o 10º ano trabalhei ao máximo para conseguir entrar no curso logo à primeira”, explica, admitindo que ao longo dos três anos sentiu bastante pressão. Não só porque não queria passar pela desilusão de falhar os seus objectivos, mas também porque sentia que tinha grandes expectativas sobre ela. Dos pais, dos amigos e dos professores.
Não existe apenas uma receita para o sucesso, mas há alguns ingredientes que são obrigatórios. “É preciso gostar das matérias, organização, dedicação e ter as metas bem definidas”, afirma Patrícia, acrescentando que conhece muitos alunos que têm todas as capacidades para serem os melhores mas aos quais faltam objetivos. Não sabem em que curso querem ingressar na faculdade, por isso não sabem também para que médias de entrada estão a trabalhar ao longo do secundário.
Patrícia Cunha sempre teve tempo para tudo e dos pais a liberdade para escolher ficar em casa a estudar ou sair com os amigos. “Eles respeitam e confiam nas minhas decisões, sabem que tenho as prioridades bem estabelecidas”, conta a jovem, que sempre conseguiu conciliar a escola com os amigos e com o grupo de dança SuperFlash. “Nunca faltei aos ensaios ou actuações por causa dos testes”, acrescenta.
Patrícia também nunca foi daquelas alunas que estudava até às tantas da manhã. Nem daquelas que deixava acumular o estudo para as vésperas dos testes. Para os exames nacionais, a estudante elaborou até um plano de estudo – das 9h00 às 12h00 e das 14h00 às 19h00, com uma pausa às 17h00 para lanchar. Na sua opinião, o estudo torna-se mais eficaz se for encarado como uma rotina.
Quando os professores pediam para fazer um trabalho de grupo, Patrícia Cunha optava por juntar-se com colegas com mais dificuldades. “Gosto de puxar por eles, incentivá-los a serem melhores. Mas nunca fui pessoa de aceitar fazer o trabalho dos outros, acho que um grupo tem que trabalhar por igual”, afirma.
Após receber a notícia que ficara colocada no Porto, no curso de Bioengenharia, Patrícia sentiu alegria e alívio. Depois veio o receio de ir viver sozinha pela primeira vez e logo a 230 quilómetros de casa. “Agora já só estou entusiasmada, porque fui muito bem recebida pelos meus colegas que me fizeram logo sentir em casa”, conta, acrescentando que tem a certeza que a experiência da faculdade a tornará numa pessoa mais forte e independente.

 “É IMPORTANTE TER OUTRAS ACTIVIDADES”

[caption id="attachment_101073" align="alignleft" width="850"]Gazeta das Caldas Zahra Cassamo foi para Londres estudar Gestão e Economia |DR[/caption]

Até ao 9º ano, Zahra Cassamo frequentou o ensino articulado de dança. Tinha 15 horas semanais de dança, por isso só chegava a casa à noite e só conseguia pegar nos livros a partir das 21h00. Isto na melhor das hipóteses, nos dias em que não tinha treinos de ténis também.
Desde cedo que a aluna do Colégio Rainha D. Leonor se habitou a gerir muito bem o pouco tempo que lhe sobrava para estudar. “Por isso quando entrei para o secundário, e deixei a dança, senti que tinha imenso tempo livre”, conta a jovem, acrescentando que – embora continuasse no ténis – nos primeiros tempos até passava muitas tardes no convívio com os amigos ou a ver séries. “Depressa me apercebi que embora tivesse mais tempo, também tinha mais matéria para estudar, por isso voltei a impor-me regras”, explica.
Para Zahra é fundamental conseguir conjugar a escola com outras actividades e é precisamente o facto do aluno não se concentrar apenas nos estudos que o faz obter bons resultados. “Seja com o desporto ou com outro tipo de ocupação, é importante desligarmo-nos das aulas, ocupar a cabeça com outras coisas, descomprimir do stress da escola”, defende.
Com uma média final de 19,7 no 12º ano do curso de Ciências Socioeconómicas, Zahra Cassamo acredita que o sucesso pode começar a ser construído logo dentro da sala de aula. Se os alunos se aplicarem e estiveram atentos durantes as aulas, menos pontos da matéria têm que estudar em casa.
“No meu caso facilitava-me muito o trabalho, porque depois só precisava de reler alguns tópicos para consolidar conhecimentos”, diz a jovem, que se preparava para os testes através da elaboração de resumos e posterior leitura em voz alta. À excepção de Matemática, disciplina em que pegava no lápis e na borracha para praticar exercícios.
Não só em casa, como na própria escola, Zahra defende que um bom ambiente é peça chave para se tirarem boas notas. “Sempre senti apoio dos professores e que podia contactá-los mesmo fora das aulas para esclarecer qualquer dúvida”, realça a aluna, que está agora de partida para Londres.
Zahara Cassamo escolheu prosseguir os estudos em Economia e Gestão noutro país, não porque Portugal não oferece um ensino de qualidade mas porque acredita que lá fora é capaz de encontrar melhores oportunidades de trabalho. “Desde pequena que tenho este sonho, poder estudar lá fora, também para ter contacto com diferentes culturas, porque acho que isso enriquece muito a nossa experiência”, acrescenta.

“PAIS SÃO ESSENCIAIS PARA A ESTABILIDADE”

João Tomás Realinho já tinha sido o melhor aluno da Escola Secundária Raul Proença no 9º ano. Voltou a sê-lo no 12º ano, após terminar o curso de Ciências e Tecnologias. “Não é que trabalhe com esse objectivo, mas acho que à medida que vamos crescendo cada vez mais damos importância a este tipo de reconhecimento, como se o nosso percurso deixasse uma marca”, afirma o estudante, que terminou o ano com uma média de 18,75.
Do 9º ano para o ensino secundário, João Tomás notou maior dificuldade nas matérias e um aumento do trabalho que passou a ter em casa. “Se no 3º ciclo ainda é possível estudar nas vésperas dos testes nalgumas disciplinas, a partir do 10º ano temos que fazer um estudo contínuo se queremos ter bons resultados”, defende, acrescentando que é importante que os alunos criem métodos de estudo logo no ensino básico.
A entrada no secundário pode mesmo ser um pouco assustadora porque todos os resultados passam a contar para uma média que determinará o futuro do aluno. “Há um abrir de olhos, tomamos consciência que a partir de agora é a sério”, afirma João Tomás, que sempre conciliou a escola, as saídas com os amigos e o desporto. Recentemente praticava vólei.
“Nunca quis abdicar disso, até porque acho que o desporto sempre me ajudou a superar os momentos maus dentro da sala de aula, quando recebia notas menos positivas”, diz o jovem. Houve um dia em que João recebeu 16 valores a Matemática – nota que estava abaixo do que costumava alcançar – e se lembrou das palavras do seu professor de vólei. “Ele tinha-me dito que se conseguimos fazer as coisas bem feitas uma vez, então somos capazes sempre. Eu agarrei-me a isso e no teste seguinte tive 19,9”, recorda.

[caption id="attachment_101071" align="alignleft" width="850"]Gazeta das Caldas Tomás Realinho entrou no curso de Medicina em Lisboa |DR[/caption]

João Tomás também acredita que é mais fácil ser-se bom aluno quando o ambiente familiar é estável e os pais se preocupam com o desempenho escolar dos seus filhos. “Nesse aspecto, acho que tive muita sorte porque os meus pais sempre me apoiaram. Talvez por serem professores, sinto que me transmitiram o que era preciso para ser um bom aluno”, acrescenta.
Medicina nem sempre foi a primeira opção ao longo dos três anos do secundário. João andava confuso, mas acabou por escolher este curso não só pelo seu prestígio, mas também porque se identifica com a interacção que os médicos têm com os pacientes. “Gosto da ideia de saber que vou contribuir para a ajudar as pessoas”, explica, acrescentando que já conheceu os colegas da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
“Já fui um bocadinho assustado com a extensão do plano de Anatomia ou Bioquímica, mas prefiro viver um dia de cada vez. Sei que amanhã tenho um jantar e quinta-feira vou à discoteca, as aulas depois só começam para a semana”, brinca João Tomás, que também acredita que a experiência de viver sozinho pela primeira vez irá revelar-se uma boa surpresa.
Até agora o jovem tem-se dedicado à “cozinha de sobrevivência” e acha que não falta muito até se tornar num verdadeiro “homem a dias”.

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