Pandemia trouxe perdas, mas também novas oportunidades para a cerâmica

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Empresas da região estão confiantes na retoma pós-covid e têm o rigor e a capacidade de inovação nos processos de fabrico como trunfos

A indústria cerâmica da região está a atravessar uma fase positiva e, apesar de ter sofrido algum abrandamento devido à pandemia de covid-19, as perspetivas para o futuro são positivas.
O que contribuiu para o crescimento da indústria cerâmica, sobretudo no panorama internacional, onde está o principal mercado destas empresas, é a credibilidade e o profissionalismo.
“Somos uma região de forte reconhecimento internacional de cerâmica”, aponta Ana Pacheco, administradora da Molde (Caldas). “Trabalhamos com uma grande relação de proximidade e confiança com os clientes”, acrescenta.
A este fator acresce a facilidade que as empresas têm em trabalhar projetos específicos dos clientes, contra uma produção mais massificada, mas menos personalizada de outros mercados concorrentes.

Elsa Pereira é CEO da empresa que herdou a marca Cerâmicas São Bernardo, em Alcobaça


“Trabalhamos com o fato à medida do cliente, em colaboração entre as nossas equipas de design e das dos clientes”, realça Elsa Almeida, CEO da Perpétua, Pereira e Almeida (Alcobaça), empresa que sucedeu à Cerâmicas São Bernardo. “No nosso caso temos muito trabalho de mão-de-obra, somos quase um atelier de maiores dimensões”, acrescenta.

Carla Moreira, CEO da Arfai Ceramics, também de Alcobaça, foca igualmente a capacidade de adaptação das empresas às necessidades específicas do cliente.
“Os projetos chave na mão, que representam 50% do nosso volume anual de negócios, são um dos fatores de crescimento da última década”, afirma a empresária, referindo que o setor tem feito uma aposta séria em inovação e desenvolvimento de novos produtos e técnicas, na sustentabilidade ecológica e também no marketing, o que tem sido uma receita para o crescimento.

“As empresas que existem em Portugal a fabricar cerâmica trabalham hoje em dia de modo muito profissional, com rigor e estão preparadas para trabalhar com qualquer empresa do globo, apesar das exigências”, acrescenta.
Estas características fazem acreditar que o setor tem margem para continuar a crescer. “Somos muitos bons no que fazemos, não há dúvidas que ter o “Made in Portugal” ajuda os clientes internacionais a vender”, nota Ana Pacheco, da Molde. “Estamos a desenvolver as nossas marcas, temos uma oportunidade de consolidar e crescer, no nosso caso específico nas peças especiais para construção e arte urbana”, afirma a empresária.

Carla Moreira dirige a Arfai, que se destaca no design

Carla Moreira diz que “a procura é muito elevada atualmente, quer por produtos decorativos como faz a Arfai, quer por artigos de mesa, somos diariamente solicitados para projetos novos na nossa área”. “Portugal tem reputação mundial pelo fabrico de cerâmica de qualidade e design e acredito que este setor tem futuro, se continuar nesta senda da inovação contínua e da adaptabilidade aos desafios diários”, acrescenta.
A pandemia causou algum atraso nesse desígnio. “Houve quebras, mas não muito grandes”, refere Ana Pacheco, corroborada por Carla Moreira e Elsa Almeida. Mas também trouxe oportunidades.
Um deles foi “obrigar” as empresas a acelerarem a introdução de novas tecnologias na sua forma de comunicar com os clientes e de promover os seus produtos, o que foi potenciado pelo cancelamento das feiras presenciais.
Outro aspeto positivo que as empresárias revelam é que, ao estarem mais tempo em casa, as pessoas dedicaram-se mais ao lar e isso trouxe oportunidades de negócio. “As vendas online aumentaram muito”, realça Elsa Almeida.

Renovação da mão-de-obra, os custos energéticos e a concorrência de leste são desafios para o futuro

Por outro lado, “muitas empresas europeias foram forçadas a encontrar alternativas à China, e outras fizeram-no por opção, porque lhes dá maior estabilidade, maior credibilidade e proximidade”.
Para responder às necessidades de crescimento no futuro, o setor precisa de responder a alguns desafios, como a qualificação de uma mão-de-obra que precisa de renovação, os custos energéticos, e também o crescimento de económico dos países de leste, “alguns com produção de cerâmica decorativa que rapidamente podem tornar-se competitivos e ser a concorrência na Europa que hoje não temos”, aponta Carla Moreira.
Contudo, as empresárias acreditam que as empresas de cerâmica da região têm o que é necessário para continuar a vingar. ■