Onde estava no 25 de Abril?

Era um dia normal e eu fui trabalhar. Era funcionária da UNICAL e trabalhava nos escritórios. Quando lá cheguei, alguém nos chamou e disse-nos que voltássemos para casa porque tinha havido uma revolução em Lisboa. Por acaso já me tinha apercebido porque ouvira na Rádio Renascença. Fui para casa, enquanto o meu marido, que era profissional de seguros, estava em Peniche e ainda assistiu à abertura do Forte.
Senti alegria, sabia bem no país que vivia, mas também nunca tinha tido problemas com ninguém nem sabia o que era viver com liberdade pois nunca tinha vivido de outra maneira. Fiquei à espera do futuro, de saber se o que vinha a seguir seria melhor ou não. E a verdade é que aqueles anos seguintes não foram fáceis, vivemos alguma instabilidade com vários golpes de esquerda e direita. Confesso que tive mais medo nessa altura.

Estava a fazer uma comissão no Ultramar e vim de férias a Portugal no mês de Abril. Estava a descansar, só soube da revolução a meio da manhã.
À noite, às 20h00, fui apresentar-me ao quartel-general, em Coimbra, estava tudo fechado e toda a gente com medo, porque era a rua da PIDE e havia manifestações à porta.
Comecei a namorar nesse dia e na altura a primeira perspectiva era que já não precisava de voltar a Angola. Se a revolução era feita pelos militares, era precisamente para acabar com a guerra, pensei eu, mas não.
O 25 de Abril foi feito por uma pessoa só, o Salgueiro Maia, porque foi o que enfrentou tudo. Quando veio o brigadeiro ele não fraquejou. Os outros estavam todos no posto de comando e ele estava na rua a enfrentar o regime. Se ele vacila nessa altura continuava tudo na mesma, ou pior.

Não tinha rádio em casa, então saí para trabalhar. Era estagiária num atelier de arquitectura em Lisboa. Fiquei à espera do autocarro, mas estranhei a cidade vazia e o facto de não passar nenhum transporte. Resolvi apanhar um táxi e o taxista perguntou-me: “Então mas a menina está aqui? Não sabe que houve uma revolução?”.
Assim que cheguei ao atelier e vi que não estava ninguém, o primeiro pensamento foi ir para casa da minha mãe. Quando ela me viu estava com um ar aflitíssimo – afinal não havia telemóveis e eu não tinha telefone fixo, então não havia outra forma de saber se eu estava bem. Entretanto, já tinha chegado a família toda. Estávamos expectantes. Pelas 23h00 ouvimos que tudo corria bem.
Tivemos a sorte de ter gente à frente da revolução com muita pinta e que nunca perdeu o controlo. Poderíamos ter estado à beira de uma coisa muito complicada