O Lagarão abriu as portas no sábado, com um novo mural, oficinas criativas, jantar e teatro
No passado sábado foi inaugurado o Lagarão – Centro Cultural de Santa Catarina, num dia de festa. O Lagarão é um espaço que hoje é armazém da Junta de Freguesia, mas que, no pós-25 de abril, foi recuperado e construído por voluntários para ali dinamizarem atividades culturais.
“Houve quem ensaiasse o rancho, houve quem ali fizesse a sua festa de casamento. É um espaço extremamente importante para as pessoas de cá, para a comunidade e nós queremos fazer esse levantamento da relação e até de quem não tem relação, porque isso também representa a falta de utilização”, disse ao nosso jornal Cristina Ramos Cunha, que é a diretora artística dos Rabiscadores, “um movimento civil muito ligado às artes e à programação cultural, nos vários campos: na formação, na fruição, mas também numa perspectiva muito ativista”.
O evento intitulava-se “Espaços&Territórios” e estava integrado no projeto “A Liberdade Saiu à Rua Num Dia Assim”. Durante a manhã houve uma oficina que serviu de recolha de histórias relacionadas com o espaço do Lagarão, seguindo-se a inauguração do mural “Metamorphosis”, da autoria de José Paulo Ramos, na parede do Lagarão, que viria a receber um jantar e, à noite, a apresentação da peça de teatro “Povo Inquieto”, de Luana Vicente e Tomé Simão Dionísio, que são de Alcobaça. No dia seguinte realizou-se um espetáculo do Coreto Convida, “dado que é um projeto que dá vida a espaços vazios”.
Em relação ao futuro do Lagarão revela que fizeram “proposta para o dinamizarem e terem programação contínua, até dentro de um projeto que temos, que é os Dias Cruzados. O objetivo é que as instituições se possam ajudar mutuamente. Eu sou programadora cultural e faço imensas candidaturas à DG Artes e outras estruturas institucionais e posso dar esse auxílio a qualquer outra associação, da mesma forma que às vezes preciso de uma cozinheira ou de um transporte que outra associação tem”.
Cristina Ramos Cunha vive em Santa Catarina há dois anos e sente que é necessário criar oferta cultural na vila. “A cultura não pode estar restringida a espaços e a situação ideais”, afirma, notando que querem “quebrar a ideia de que a cultura é elitista e que é só para alguns”.
O autor do mural, José Paulo Ramos, tinha 15 anos quando andou a trabalhar na recuperação do espaço do Lagarão. “Era uma garagem, mas tinha sido anteriormente um lagar de vinho, pisavam-se as uvas e escavámos talvez um metro e meio, porque era muito baixo”, lembrou.
No mural, a ligação ao Lagarão faz-se, precisamente, pela vinha, com alguns elementos referentes a essa temática.
No pós-25 de abril os jovens construíram um espaço cultural, com um palco. Cristina Ramos Cunha diz que “o Lagarão é a demonstração mais pura de união da sociedade civil e da cooperação” e que o “mural é uma homenagem ao 25 de Abril, aos 50 anos de Liberdade, ao que é cumprir Abril, mas também ao Lagarão e à esperança de que se mantenha aberto a todos”.
“Em maio, por exemplo, fizemos uma iniciativa nos antigos Correios, que era um espaço que estava fechado há muito tempo e é um espaço privado, fizemos uma uma exposição com imagens da terra em desenhos do José Paulo Ramos também e algumas fotografias e jornais antigos e acabou por haver um debate sobre o território e a relação que as pessoas têm com ele”, recorda Cristina Ramos Cunha. Para o futuro pretendem criar um grupo de jovens da terra que recolha as histórias do Lagarão, mas também criar um jornal, recriando o Catarinense antigo, que nasceu no seio religioso e que durante anos fazia a História da vila. ■