Região precisa de trabalhar em conjunto no turismo criativo

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Iniciativa juntou tertulianos à mesa na Mariquinhas Experience

Tertúlia de abril da ACCCRO identificou o que é necessário para que a região seja ainda mais atrativa para os turistas que procuram experiências

O Turismo Criativo foi o mote para a tertúlia do mês de abril organizada no âmbito das comemorações dos 120 anos da ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste, e as principais conclusões dos trabalhos foi que há uma necessidade de trabalhar em rede entre os operadores dos diferentes agentes económicos da região para capitalizar as potencialidades de cada um através da capacidade de atração turística da região, mas num turismo de experiências e personalizado. Os empresários presentes também pediram maior simplificação de processos no licenciamento.
A tertúlia teve lugar no espaço Mariquinhas Experience na Fábrica da Ginja Mariquinhas, na Zona Industrial de Óbidos, um espaço elogiado por vários dos tertulianos e apontado como um exemplo do que pode ser o turismo criativo, onde se pode degustar o que é um produto regional e também visitar a fábrica onde é produzido.
O turismo criativo é apontado como o oposto ao turismo massificado, um turismo que oferece, sobretudo, experiências e que podem surgir em qualquer tipo de atividade. O que faz do Oeste uma região onde o turismo criativo tem maior potencial que o massificado é a riqueza natural, paisagística, mas sobretudo a história e a cultura. Daniel Pinto, diretor da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, sublinhou que, sem pessoas não há turismo. “As pessoas são fundamentais, incluindo os residentes, quem habita, quem trabalha, todos são imprescindíveis para uma ideia de turismo criativo, pela partilha da vivência, do know-how, com quem nos visita”, afirmou.
É nessa ideia que cabem projetos como a Mariquinhas Experience, e qualquer outro que abra as portas do seu saber e que faz parte da construção da região, seja no setor agrícola, na indústria, ou no artesanato.
Citando um texto de Mariana Calaça Batista, que apresenta a A8 como “a autoestrada da Unesco”, por atravessar territórios classificados, como Óbidos na literatura, Caldas da Rainha na cerâmica e arte popular, Alcobaça pelo património edificado, Leiria pela música, e ainda o Geoparque em fase de candidatura, Daniel Pinto falou da necessidade de “haver um trabalho enorme de estruturação de tudo isto”, de modo a que a região se promova como um todo.
Também Jorge Magalhães, promotor do projeto Equinatura, que está prestes a abrir na freguesia de Alvorninha, reforçou a necessidade de todos os agentes da região trabalharem em rede, para fortalecer a região como um todo, e apontou como exemplo o seu próprio projeto, que construiu envolvendo apenas pessoas e empresas da freguesia, e que pretende continuar a explorar da mesma forma, mostrando produtos e serviços da freguesia e do concelho a quem o vier a visitar.
“É preciso criar redes, ter parcerias win win, com o produtor de mel, com o artesão que produz cestos, com barcos para as Berlengas. Falta não sermos egoístas e compartilharmos o nosso mercado”, sublinhou.
Ilda Cruz, técnica superior do Turismo do Centro, reforçou a ideia. “O meu primeiro trabalho no turismo foi um passeio de bateira, numa PAP, e imaginava uma caldeirada servida o barco, a interação com os pescadores. É preciso pôr os agentes da região a falar com os turistas, mas também trabalhar o local, com os produtos endógenos, porque temos uma região riquíssima e quem vem não quer provar ananás, quer pera rocha”, apontou.
Também Joana Marcão, empresária no ramo do alojamento local, frisou as redes de colaboração, indicando que, na sua atividade, recomenda aos visitantes as experiências que ela própria gosta de vivenciar. Mas também alertou que estas redes se devem estender aos municípios.
Foi também no regime de parcerias que Jorge Magalhães promoveu a Equinatura internacionalmente, através do convite para que fez a diversos repórteres de imagem “que vieram fotografar em várias zonas do país, incluindo o Oeste, que criou conteúdo que passou em 18 países”.
Jorge Magalhães disse que o projeto Equinatura, um projeto de agroturismo que tem alojamento para cavalos, nasceu, justamente, depois de um grupo de fotógrafos se ter juntado para fotografar cavalos na região. “Vimos uma janela de oportunidade, numa região que tem campo, serra, mar, lagoa, golfe” contou.
Mas isto aconteceu “há 10 anos atrás” e só no próximo mês de junho as portas vão abrir, um atraso que o empresário atribui à burocracia. “Tivemos o projeto parado durante anos porque os organismos não respondem à necessidade dos agentes”, rematou.
Aspeto importante quando se trata de turismo criativo é a identidade e, nas Caldas, além do artesanato e da cerâmica, o termalismo e Praça da Fruta são pontos incontornáveis.
Em relação ao termalismo, Joaquim Beato, vice-presidente da Câmara das Caldas da Rainha, diz que tem que haver uma visão estruturada e que o município “está consciente que tem que ter desenvolvimento, nomeadamente com a construção de um novo balneário”. “Temos que ter coragem de decidir a localização”, reforçou e resolver a questão dos Pavilhões do Parque, de modo a que obra avance.
Coragem que é preciso também em relação à Praça da Fruta. “É um ex-libris das Caldas, é exemplo de proximidade do turista com a comunidade local, por isso é difícil tomar decisões”, adiantou, “mas não sei se chega manter o que tinha no passado”, completou.
Agarrando nessa ideia, Joana Marcão disse que é importante “pôr a Praça a brilhar também à tarde e à noite”, sobretudo ao fim de semana, com música ao vivo e outras atividades que sejam chamariz.
A isso junta-se a necessidade de “reorganizar a mobilidade. Todas as cidades que fizeram isso bem, devolvendo o centro histórico, onde as pessoas podem andar a pé, melhoraram a sua situação”, realçou Joaquim Beato.
Ricardo Filipe, do restaurante Maria dos Cacos, falou da necessidade de criar identidade ao nível da base. “Nota-se que há pessoas a chegar às Caldas, mas não sabem o que ver e o que fazer. E as próprias pessoas que aqui vivem têm dificuldade em dar essa indicação”, afirmou, questionando “como se transforma e capitaliza o facto de Caldas ser Cidade Criativa em oportunidades para as empresas crescerem”.
A identidade passa também pelos eventos, algo que o Oeste Lusitano tem ajudado a desenvolver na última década, apoiado na tradição que a região tem ligada ao cavalo e ao touro, observou Nelson Ribeiro, da Associação de Criadores de Puro Sangue Lusitanos do Oeste. O certame já é “considerado como o terceiro ou quarto maior a nível nacional, recebemos cavaleiros de Ponte de Lima ao Algarve”, salientou.
Para que tudo isto seja potenciado, é preciso comunicar bem e é para isso que surgiu o Festival Art&Tur, um festival de produção audiovisual de promoção de territórios, que é uma oportunidade para a região, salientou Mariana Calaça Batista, que desafiou os agentes turísticos da região e demais interessados a produzirem conteúdo para submeter a concurso nas várias áreas. ■