Rotários dão a conhecer “pormenores” de Fernando Pessoa aos alunos caldenses

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Gazeta das Caldas

rotariosO investigador e poeta Francisco Queiroz, desde os 16 anos apaixonado pela obra de Fernando Pessoa, tem dado a conhecer aos alunos caldenses “pormenores” sobre a vida e obra do poeta e escritor português que não são dados nas aulas. A iniciativa é do Rotary Club das Caldas da Rainha.

“Viagens por Pessoa” foi a proposta feita por Francisco Queiroz aos alunos da ETEO, na manhã de 21 de Março, tendo por pressuposto diversas pinturas do “Grup’Arte 05”, sobre o mesmo autor. O criador de 152 personagens catalogadas nasceu a 13 de junho de 1888 em Lisboa e aí viria a morrer em 1935. De acordo com o orador, Fernando António Nogueira Pessoa ao longo da sua vida foi assombrado pela morte, desde logo do seu pai e depois do seu irmão mais novo.
Marcado pela solidão, tornou-se um rapaz tímido, que começou a usar a imaginação mas foi também um aluno brilhante. O seu primeiro “companheiro de imaginação” foi Chevalier de Pas, teria ele quatro anos, e desde então diversos personagens irão acompanhar toda a sua vida.
“Fernando Pessoa escrevia compulsivamente. Tudo era motivo e utensílio para pôr cá para fora o que o sensibilizava”, disse Francisco Queiroz, acrescentando mesmo que escrever seria a única razão da sua existência.
O escritor passaria grande parte da sua vida a escrever para a “Mensagem” cujo título resulta, de acordo com o orador, de um anagrama da frase de Dante na Divina Comédia, “o espírito move a matéria”. Francisco Queiroz fez uma síntese desta obra poética e de cada poema tirou uma frase, que explicou aos alunos, relacionando-a com outros autores e momentos históricos relevantes.
Dos heterónimos de Pessoa, Bernardo Soares é o mais parecido com ele, apesar deste “não ter tido coragem de o assumir”, disse o orador. Também a faceta de astrólogo foi abordada por Francisco Queiroz, que salientou que, em 1916, Fernando Pessoa tentou escrever um tratado de astrologia e que para a autoria da obra escolheu Raphael Baldaya, outro dos seus “heterónimos”. “Sem máquina de calcular fez estudos tão credíveis que [Aleister] Crowley o admirou”, disse, referindo-se ao poeta e mago inglês que o viria a visitar em Portugal. Pessoa chegou mesmo a calcular com grande proximidade o seu ano de morte.
Também muito comentada é a sua ligação às ordens secretas, mas de acordo com o orador, não existe nenhuma prova escrita que este tenha pertencido à maçonaria.

A vida afectiva de Pessoa

Francisco Queiroz falou também sobre o namoro de Fernando Pessoa por Ofélia Queiroz, uma funcionária do comércio, de 19 anos, e leu excertos de cartas de amor que lhe enviou. No entanto, este especialista em estudos pessoanos não acredita que o poeta se tenha apaixonado realmente pela vizinha, que morava por cima do restaurante que frequentava, até porque “o poeta é um fingidor”.
Referindo-se a Ofélia, disse tratar-se de uma mulher inteligente e que alimentava aquela situação. A partir de 1920, “todos os anos no dia 13 de Julho mandava-lhe um telegrama com os parabéns”, disse e, apesar do namoro não ter vingado, o contacto entre os dois mantém-se cordial até à morte do poeta.
Outra curiosidade é o facto de Ofélia não apenas se corresponder com Fernando Pessoa, mas também com os seus heterónimos, como é o caso de Álvaro de Campos.
Francisco Queiroz partilhou ainda com a plateia que, embora Pessoa não vivesse sozinho no sentido intelectual, foi um ser solitário a maior parte da sua vida. Após o seu regresso de Africa do Sul para Lisboa, aos 17 anos, viveu em 17 quartos na capital que, em comum tinham o facto de todos terem um sino nas proximidades.
Com interesses na área da filosofia, poesia, teatro e literatura, Pessoa é “um ser que quanto mais leio mais me parece difícil e encantador”, concluiu o estudioso que há oito anos leva estas palestras às escolas.