Fungos e algas podem ser a solução para o problema do plástico em excesso. Investigadores universitários partilharam na Escola Raul Proença alguns dos estudos que estão em curso e que envolvem estes organismos numa tentativa de minorar este problema ambiental e melhorar a vida das pessoas.
A conferência decorreu na passada segunda-feira e marcou o arranque da Semana Raul Proença, que se estende até hoje, com dezenas de actividades.
“Uma das maiores fontes de contaminação de microplásticos é o sal de mesa”. A explicação foi dada por João Pinto da Costa, investigador da Universidade de Aveiro, dando nota que existem pequenas partículas de plástico no sal que é ingerido, mas também em praticamente todos os organismos que estão na base da cadeia alimentar.
E como se pode combater este problema? Esse é o desafio que a equipa que integra, na Universidade de Aveiro, está a tentar dar resposta com o estudo de um fungo – o Zalerion maritimum – que possui um metabolismo que faz com que seja capaz de degradar partículas de plástico. Existente na costa portuguesa, já é conhecida a sua capacidade de degradar madeira, pelo que está a ser investigada a sua intervenção noutras soluções, e com resultados: “em 21 dias o fungo foi capaz de remover grande parte do polietileno”, explicou o investigador, dando conta que através da simulação feita em laboratório verificaram que a população de fungos aumentava à medida em que a quantidade de plástico diminuía.
Também na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar (ESTM), em Peniche, há soluções para substituir o plástico. A docente, e investigadora, Teresa Mouga, partilhou com um auditório cheio de jovens, a recente descoberta do biofilme de origem marinha. Trata-se de uma película semi-sólida, feita a partir de algas, sem corantes nem conservantes e que pode ser comestível. A escola está agora a tentar patenteá-la para depois a colocar no mercado.
Estes resultados fazem parte do projecto internacional Amália, que envolve instituições portuguesas e espanholas e que tem como grande desafio a economia azul e o aproveitamento dos recursos marinhos. A asparagopsis armata, uma alga vermelha que existe em abundância nas praias de S. Martinho do Porto e de Peniche, que é invasora, tóxica e tem causado problemas ecológicos e económicos, tem também valências biotecnológicas. Teresa Mouga explicou que estão a ser estudados novos tratamentos e medicamentos pois a espécie consegue matar células cancerígenas. O problema, realçou, são os cerca de 20 anos que são necessários para conseguirem ver aprovado um novo medicamento e provar que as suas propriedades não fazem mal às outras células.
Estas plantas têm também potencial no combate ao envelhecimento e ao nível da alimentação.
Integrado no projecto está também um dispositivo, parecido com um robot, instalado no fundo do mar, junto às Berlengas, que permite a detecção precoce das algas invasoras.
As várias formas de energia que podem ser retiradas do oceano também estiveram em análise, sobretudo tendo em conta que as energias renováveis ainda só representam 10% da energia consumida mundialmente e que as energias fósseis são finitas. Roberto Gamboa, da ESTM, especificou ainda que os oceanos “dão” cerca de 30% da energia que o mundo consome, referindo-se às energias fósseis, como o petróleo e gás, que são extraídos em plataformas. Deu exemplos de energias limpas que podem também ser retiradas dos oceanos, como é o caso dos painéis fotovoltaicos colocados em cima da água, os moinhos eólicos assentes em fundações ou plataformas flutuantes, no mar e a energia provocada pelas correntes oceânicas e pelas ondas.
Estes oradores falavam na palestra “Os oceanos e a vida humana”, que decorreu no auditório da Expoeste, no passado dia 1 de Abril e que marcou o arranque da Semana Raul Proença, que termina hoje. Durante cinco dias a escolha acolhe wokshops, actividades físicas, acções de sensibilização, apresentações musicais, concursos, palestras e debates, entre outras iniciativas.