Já ouviu falar das mantas de Minde? Fazem lembrar as mantas que as avós tinham em casa. São pura lã e têm padrões típicos. Hoje em dia, só existe um tear manual a produzi-las. Serviram também de inspiração à Subtil Loom, uma marca caldense que pegou nas mantas para criar malas e carteiras.
O objectivo é dar novo uso a um património que se está a perder e lembrar os artesãos que ainda mantêm viva a arte da tecelagem.
O tecido e os padrões são os originais. A lã é 100% natural e é trabalhada em teares manuais, tal e qual como se fazia antigamente. Nos dias de hoje só há um tear em Minde (uma pequena aldeia da Serra d’ Aire) que ainda produz as famosas mantas recorrendo às técnicas dos antigos artesãos. Está montado no CAORG (Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro) e é de lá que saem as tiras de lã que depois Ângela Subtil adapta para fazer as malas e carteiras da Subtil Loom, cujos acabamentos são em pele ecológica.
A ideia deste projecto surgiu há quase dois anos não só pela mão de Ângela Subtil, como também de Margarida Marques (foi esta até quem pensou na possibilidade de se darem outros usos às mantas de Minde), mas actualmente Ângela é a única pessoa que está à frente da marca.
“Na altura associei-me à Margarida porque conhecia bem a Serra d’ Aire de todas as vezes que lá tinha ido ver a minha filha montar a cavalo”, explica a fisioterapeuta, acrescentando que antes de passarem ao fabrico das malas houve a preocupação em fazerem trabalho de pesquisa.
“Queríamos saber as origens destas mantas e chegar aos teares manuais, porque hoje a maioria são imitações feitas através de teares industriais”, diz Ângela Subtil, que viria e encontrar Roberto Ferreira no atelier de tecelagem da CAORG. Rapaz novo, aprendeu a arte de tecer com o sogro e é ele quem produz as tiras de manta que dão vida às malas e carteiras da Subtil Loom. Só para montar o tear naquele atelier foram necessárias seis pessoas e dois dias.
“Esta é uma arte que não é nada fácil, exige um grande esforço físico e mental porque é preciso ter uma coordenação incrível para trabalhar com quatro pedais e ao mesmo tempo muita concentração para se terem os padrões todos na cabeça”, realça Ângela, revelando que o fabrico das mantas foi a principal actividade de Minde a partir dos finais do século XIX e atingiu o seu pico nos anos 50 do século XX.
Curiosamente, o fabrico das mantas levou a que se criasse em Minde um espírito comercial muito grande, que fez até com que feirantes e mercadores desenvolvessem entre si um dialecto próprio – o mindrico. “É um português distorcido, que eles usavam para comunicarem entre si de forma a que mais ninguém percebesse”, explica Ângela Subtil, dando conta que até já há um dicionário mindrico-português.
Existem quatro padrões típicos – pardas, janotas, pretas ou sombreadas – sendo que antigamente as mantas tanto eram usadas para cobrir os pastores que trabalhavam nas serras, como para aquecer as pessoas dentro de casa. Mas hoje estão a cair em desuso.
“A manta é muito pesada e como é pura lã também pica. Com a oferta que há hoje de boas fibras, as pessoas optam por comprar mantas e cobertores que são mais confortáveis ao toque”, afirma a caldense, que viu neste património uma oportunidade para novos usos. Transformá-lo em malas foi a solução que encontrou para a preservação desta tradição.
Dependendo da forma como são combinadas, estas malas (há desde carteiras a sacos maiores) tanto podem ser usadas numa ida à praia como numa saída à noite. Adaptam-se quer a um estilo descontraído como ao rústico chique. Apesar de tradicionais, são também modernas, por isso pretendem agradar mulheres de todas as idades.
Além dos padrões típicos de Minde, Ângela Subtil também apostou recentemente na sua adaptação a cores e padrões alusivos ao Verão. O futuro da marca passará não só pelo fabrico de malas inspiradas nas mantas de Minde, como também noutros padrões que sejam tradicionais de norte a sul do país. O é que importante preservar é que os tecidos sejam produzidos apenas em teares manuais.