Casaram, deixaram os empregos e partiram para a Ásia sem data de regresso. Agora recordam a experiência
Valéria Pereira, 32 anos, nascida nas Caldas da Rainha e criada na Amoreira (Óbidos), e Bernardo Filipe, 31 anos, natural de Mafra, “travel content creators” (criadores de conteúdo de viagens), partiram para a Ásia em outubro do ano passado, numa lua-de-mel. Esta prolongou-se até ao início de abril e durante este período tomaram o pulso de países como o Vietname, o Camboja, a Tailândia, a Malásia, a Indonésia, as Filipinas, o Sri Lanka e, por fim, as Maldivas.
Apesar de não ter sido a primeira viagem realizada pelo casal, que já tinha explorado alguns países europeus e estado num hotel resort na República Dominicana durante o período de férias laborais, esta viagem, que realizaram após terem pedido uma licença sem vencimento dos trabalhos (ambos na área do retalho, em Lisboa), “não foi só uma viagem”, explicou Bernardo Filipe.
“Foi também colocar-nos à prova, tentarmos descobrir novas culturas, religiões e formas de vida”, ao estilo do “slow travel”, permitido pela permanência média de um mês em cada país. “O nosso objetivo, como viajantes, é precisamente entrar na cultura e viver como eles [populações locais]”, sintetizou Valéria Pereira.
Se é pela gastronomia que Valéria afirma conseguirem “entrar muito na cultura de um país”, Bernardo, que partilha da visão, não desmente que, por vezes, provaram alguns dissabores. “No Sri Lanka era muito complicado tomarmos o pequeno-almoço. Íamos ao supermercado, pedíamos dois folhados de vegetais e eles vinham picantes, e eu, em jejum, a comê-lo com café”, conta, frisando que a experiência lhe “fez sentido” pela fidelidade aos costumes locais.
Esse é, de facto, o tipo de conteúdo (gastronomia local, rotinas no novo país, etc.) que atrai os seus seguidores na página de Instagram @takeapostcard, que já se contam quase em dezena e meia de milhar desde que esta foi criada, em 2021 (na altura, apenas com o fito de partilhar as viagens com os amigos e familiares, mas cujo volume de partilhas se intensificou desde o início do périplo pelo Oriente).
“O nosso objetivo é fazer com que as pessoas que, por medo ou por dificuldades financeiras, não vão conseguir ir a esse país, sintam alguma ligação com a sua cultura, e países tão diferentes como estes asiáticos que visitámos”, explicou Valéria, que acrescentou que, ao longo dos meses de viagem, receberam várias mensagens de pessoas a agradecer pela partilha da sua experiência no estrangeiro, atualizada diariamente nas “histórias” da rede social.
No entanto, a página ainda não representa uma fonte de rendimento, segundo a mesma. “O que nos ajudou em termos económicos na viagem foi fazer parcerias com hotéis e trabalhar com eles no sentido de lhes dar conteúdo [fotográfico e videográfico para divulgação nos sites das marcas, acompanhado dos respetivos direitos autorais de imagem] ou exposição, e, em troca, recebermos refeições ou alojamento”, explicou a aluna da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, cuja formação turística a auxiliou aquando do contacto com os hotéis para intercâmbio de serviços e perceção das necessidades audiovisuais dos mesmos.
Regressar aos antigos empregos não consta dos planos do casal, que conta partir de novo para o estrangeiro, no início do verão, desta feita, para trabalhar e auferir um maior salário, que lhe permita começar a montar um negócio próprio.
“Gostávamos muito de juntar a Hotelaria com a Gestão e ter um alojamento nosso, que foi o que fomos vivenciando muito na viagem, quando ficámos em casa de locais [guesthouses], em que, no mesmo edifício, há quartos para receber hóspedes. Gostávamos de apresentar esse modelo e poder fazê-lo pelo Oeste, provavelmente, pela zona de Óbidos. Agora precisamos de fundos de investimento”, explicou Valéria.
Ainda sem previsões de partida, a América Central e do Sul serão os próximos destinos de férias. ■