Um filme inesperado sobre as Caldas da Rainha dos anos 40

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gado---filmeÉ hoje divulgado na nossa página electrónica e no Facebook da Gazeta um link que remete para um pequeno filme com imagens das Caldas da Rainha que, apesar de estar online era praticamente desconhecido dos caldenses.
Este singelo registo das Caldas dos anos 40 feito por refugiados da II Guerra Mundial, encontra-se no Steven Spielberg Film and Vídeo Archive e pertence ao Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos. Dura 2 minutos e 36 segundos, não tem som e é, obviamente, a preto e branco. Terá sido feito por uma família de refugiados visto que na época só pessoas muito ricas tinham acesso a uma câmara de filmar e porque parte das imagens são dos próprios.
O filme começa por mostrar a entrada da cidade com a placa Caldas da Rainha e a feira do gado que se realizava presumivelmente no Borlão, no local onde é hoje a Praça 25 de Abril. São imagens impressionantes onde se vêem muitas centenas de pessoas junto dos animais, alguns magalas em grande plano e dois guardas da GNR a patrulhar o mercado. Mas a atenção do estrangeiro que filmou a feira vai para os portugueses, para os homens das aldeias com os seus típicos barretes e dos quais se vêem grandes planos.
Subitamente passa-se para o quintal de uma casa, talvez no Bairro da Ponte, onde se vêem dois casais de refugiados a tratar da horta ou do jardim. Nota-se pela forma de vestir que são estrangeiros (dificilmente se veria uma portuguesa de calças naquela época) e que a actividade os diverte, até mesmo a simples tarefa de estender roupa que uma das mulheres desempenha com ar divertido.
Novas imagens e ainda mais surpreendentes: o Café Bocage. O seu interior está apinhado de gente numa atmosfera que faz lembrar, de facto, os cafés dos filmes daquela época. Mas consegue-se ver-se também através das janelas que a Praça da Fruta está igualmente cheia de gente.
A prova de que o Hotel Lisbonense (hoje Sana Hotel) foi muito importante no alojamento de refugiados temo-la nas imagens seguintes. O seu salão está à pinha, com inúmeros estrangeiros a jogar às cartas e a conversar. As imagens centram-se agora numa família, cujos rostos têm claramente traços judaicos, que se encontra a ler jornais nos sofás do hotel. Falam, parecendo comentar aquilo que estão a ler – provavelmente o desenrolar da guerra.
A travessa Cova da Onça aparece logo a seguir. E não por acaso: era ali que funcionava uma sinagoga improvisada que acolhia os refugiados judeus.
Em décimos de segundo vê-se a palavra Portugal pintada num navio e o filme acaba. Terão sido as últimas imagens filmadas em Portugal por estes refugiados que escaparam ao campo de concentração e terão partido para os Estados Unidos.

 

Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt

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Link para visualização do filme: www.ushmm.org/online/film/display/detail.php?file_num=1103

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Uma verdadeira pérola, que, vem demonstrar em tempo oportuno, a importância que já teve esta nossa cidade.