“Afinal, é possível ganhar ao PSD nas Caldas” ouviu-se na sede de campanha do movimento na noite de domingo. PSD sofreu uma débacle
A expetativa era grande na noite eleitoral do passado domingo na sede do movimento Vamos Mudar, no centro da cidade das Caldas. Dezenas acorreram ao local para ali acompanhar a noite de eleições. Cá fora, conversam enquanto aguardam por novidades. No interior, logo à entrada, à esquerda, um grande ecrã vai mostrando os resultados à medida que chegam as votações de cada mesa. Estas chegam através dos telemóveis, em fotografias ou mensagens, por telefonema ou até em papéis e são entregues numa mesa com um computador, onde um dos filhos do cabeça de lista, Vítor Marques, e Fábio Santos (que integrava a lista à Câmara) vão inserindo os dados. Também no interior, ao fundo, há uma mesa, com comida e bebida para o que se adivinha uma noite eleitoral longa. A azáfama é grande. Os primeiros resultados são bons, mas com as freguesias rurais rapidamente o PSD se coloca na frente na contagem provisória. A expetativa mantém-se, mas o ânimo acalma entre os apoiantes. Com a chegada das votações das mesas de voto “citadinas” os apoiantes percebem que o Vamos Mudar está na discussão pela vitória.
Festejam-se, entretanto, as vitórias nas duas Uniões de Freguesias da cidade. Vítor Marques não está presente, mas o cabeça de lista à Assembleia, António Curado, e os dois eleitos não escondem a felicidade. Na sede já se percebeu que a vitória para a Câmara não foge e a dúvida é se será possível a maioria absoluta.

Ainda sem resultados oficiais, José Cardoso aparece, sai do carro eufórico e festeja a vitória. O movimento venceu as eleições para a Câmara. Canta-se vitória, há abraços, afetos e euforia. A multidão aguarda expetante a chegada do cabeça de lista. Ao seu estilo, Vítor Marques perde-se em abraços aos apoiantes. Visivelmente cansado, depois de um dia eleitoral como presidente de Junta, Vítor Marques diz-se feliz. Abraça a mãe, abraça a esposa, que lhe entrega a boina do seu pai (que não mais tirou durante a noite) e vai agradecendo a todos. A multidão aplaude, grita “Vítor” e “Vitória”, festeja. Há lágrimas e emoção, há quem agradeça ao candidato. O novo presidente de Câmara sobe a uma cadeira e, ao megafone de um carro de campanha, rodeado pela multidão, discursa. Num tom agregador e recusando polémicas, diz que conta com todos, mesmo os que não têm representação autárquica e os que não votaram nele. “Há propostas de outros candidatos que são boas para as Caldas”, frisou, notando que não é por não serem do movimento que não vão ter apoio. O discurso terminou com um agradecimento ao seu falecido pai.
Aos jornalistas, Vítor Marques admitiu a hipótese de formar executivo com o vereador do PS, obtendo maioria. O novo presidente de Câmara lembrou que no primeiro mandato na União de Freguesias o executivo tinha um elemento deste partido e mostrou-se também confiante de que a maioria do PSD na Assembleia Municipal não será um problema. E assim se fez história.
Tinta Ferreira será vereador
A euforia que se viveu na sede de campanha do VM contrastou com a consternação que foi subindo nas sedes do PSD e do PS à medida que os resultados foram sendo apurados.
Do lado do PSD, que sofreu uma autêntica débacle eleitoral no concelho, Tinta Ferreira felicitou o seu sucessor e desejou “que faça o melhor trabalho em prol dos caldenses”. Tinta Ferreira acredita que o resultado pode ter sido consequência de algum desgaste causado pelas obras de regeneração urbana e, também, pelo surgimento de um candidato que se apresentou “com uma imagem refrescada, que o povo achou que justificaria a eleição”.
No discurso de derrota, e com Hugo Oliveira ao lado do cabeça de lista, garantiu que vai assumir o cargo de vereador “e dar a minha colaboração à Câmara”. Sem uma maioria no executivo municipal, o presidente da Câmara cessante diz que cabe, agora, a Vítor Marques “criar as condições para governar com estabilidade”.
A maioria de votos na Assembleia, em função dos nove presidentes de Junta que o PSD elegeu, abre, contudo, ainda alguma esperança ao partido para a eleição de Lalanda Ribeiro para a presidência daquele órgão.
Já Luís Patacho, do PS, deu os parabéns ao novo presidente da Câmara. “Fez-se finalmente democracia nas Caldas pois estávamos há 36 anos sem alternância”, disse o socialista, o único eleito para o executivo camarário pelo seu partido, que perdeu o segundo vereador.
“Ficámos muito aquém das expectativas, assim como todos os outros partidos. Tivemos cortes de votação na ordem dos 50%…”, admitiu o socialista, acrescentando que entre os partidos mais pequenos “alguns quase que se eclipsaram” no ato eleitoral do passado domingo. Na sua opinião, houve “um mau resultado para todos e um grande resultado para Vítor Marques”. O Vamos Mudar conseguiu “seduzir o eleitorado e cativar os caldenses para a mudança”, rematou.
Os resultados nas duas juntas da cidade foram determinantes para a viragem política no concelho, dado que o movimento de independentes somou um total de 6.318 votos e o PSD se ficou pelos 3.028 votos nas mesas de voto das freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório e de Santo Onofre e Serra do Bouro.
“Gostaríamos de conseguir congregar e unir todos para termos um concelho melhor”
Vítor Marques
Equilíbrio na Assembleia
António Curado (Vamos Mudar) foi o candidato mais votado para a Assembleia Municipal, com 37,88% (8.411 votos), tendo o movimento garantido dez mandatos, enquanto o PSD caiu para os 33,73% (7.488 votos) e elegeu oito deputados. O PS foi a terceira força política para o órgão, com 12,55% e obteve três mandatos.
Os restantes partidos obtiveram votações residuais. Chega (3,42%, com 760 votos), Caldas Mais Rainha (3,32%, com 737 votos), BE (3%, com 666 votos) e CDU (2,35%, com 521 votos) ficaram longe da eleição.
Com o PSD a garantir nove das 12 Juntas de Freguesia do concelho, o equilíbrio na Assembleia Municipal é notório, mas ainda é cedo para fazer avaliações sobre a forma como ficará composto o órgão, dado que o Vamos Mudar venceu as duas Juntas da cidade. Tudo dependerá da eventual negociação para viabilizar uma maioria na Câmara. ■
Caldas da Rainha
Vamos Mudar derrotou o PSD
O Vamos Mudar conseguiu mais de 9.000 votos, sendo o mais votado, com 40,7%. O movimento conseguiu eleger três elementos, os mesmos que o PSD, que obteve 34,7% (cerca de 7.700 votos, menos quase 3.700 votos do que em 2017, perdendo dois eleitos). O PS perdeu cerca de 2.700 votos e um eleito, ficando apenas com um. O Chega foi a quarta força mais votada. Na Assembleia Municipal, o CDS, o Bloco e o PCP deixam de estar representados, o PS passa de seis para três deputados. O PSD passa de 11 para 8 (mas garante maioria absoluta com os presidentes de Junta) e o VM elegeu 10. ■