PSD manteve maioria absoluta, com quatro mandatos, contra três do PS. Subida ligeira dos socialistas não chegou
A sala não estava propriamente silenciosa, mas a cada notificação de uma mensagem de telemóvel, os apoiantes da candidatura do PSD em Óbidos presentes na sede de campanha no Senhora da Pedra, na noite do passado domingo, tinham a mesma reação instintiva: olhar para as folhas de papel em que o professor Fernando Silva assentava os resultados que chegavam das mesas de voto. Poderia ser mais fácil utilizar uma folha de cálculo, mas para o homem que dirige a Assembleia Municipal há coisas que não mudam. No final, as contas bateram certo. E se tudo começou com uma desilusão – “já perdemos a Amoreira”, gritou alguém mal se percebeu que o PS iria recuperar aquela Junta -, a noite acabaria em festa para os social-democratas, que mantiveram a maioria absoluta na Câmara.
“Estamos aqui com o sentido de responsabilidade que é o de continuar a levar o nome de Óbidos além-fronteiras”
Filipe Daniel
Habituado a lidar com a pressão, ou não tivesse sido um defesa aplicado no futebol, Filipe Daniel parecia um dos mais calmos na noite eleitoral. Atento ao telefone, dava atenção à mulher e aos filhos e trocava dois dedos de conversa com a família e os presentes. Quando chegava uma mensagem no Whatsapp ou um SMS, a feição mudava, mas rapidamente os resultados mostravam que o PSD iria manter o poder no concelho. Quando a vitória já era inevitável, a euforia instalou-se e pediu-se o “discurso” da praxe.
As primeiras palavras do novo presidente da Câmara foram de agradecimento. “Estou muito feliz, atingimos o nosso objetivo e estamos aqui com o sentido de responsabilidade que é o de continuar a levar o nome de Óbidos além-fronteiras. Sabia que tinha uma grande equipa, tive muita gente que me quis ajudar e estas eleições mostraram que na política não pode valer tudo”, assegurou o novo chefe do executivo municipal, que não se esqueceu de “dar um abraço a todos os que se envolveram nestas eleições e a quem não atingiu os objetivos”.
Foi, então, dada a palavra ao novo vereador, Telmo Félix, que tentou fintar a emoção. “Não tenho nada preparado. Há quatro anos foi por pouco que não fui eleito, desta vez entrei. Fomos uma família”, declarou o benjamim da equipa da vereação, que, depois, viu José Pereira irromper pela sala e chamar pelo “presidente!”
Margarida Reis era, então, uma das mais efusivas nos festejos. Com a bandeira erguida, valorizava o facto de, pela primeira vez, uma vereadora “fazer dois mandatos”.
Seguiu-se Fernando Silva, o homem das contas na folha de papel, que reconheceu ter vivido “a sexta campanha e a mais dura de sempre” e vaticinando que Filipe Daniel será “um presidente estupendo”.
Margarida Reis agradeceu, então, a presença de Humberto Marques na sala e chamou o incumbente, que não escondeu a emoção. “A minha família, finalmente, vai ter paz”, considerou o homem que esteve nos últimos oito anos à frente da autarquia, valorizando o sucessor. “O Filipe [Daniel] tem o seu estilo, pensa pela própria cabeça e fará a sua governação com estilo próprio”, declarou o autarca.
Assumir a derrota

Sem surpresa, na sede da candidatura do PS o clima era claramente distinto. Paulo Gonçalves ficou até ao fim da noite e deu, ele próprio, ânimo a muitos apoiantes. Já perto da meia-noite, fez um balanço dos resultados e agradeceu a confiança recebida dos eleitores.
“A votação foi a que a população entendeu ser a mais justa. Sabemos que apenas um em cada cinco candidatos que se apresentam a votos com partidos no poder consegue ganhar, por isso já sabíamos que seria uma campanha difícil”, declarou o socialista, que explica o desaire com os resultados nalgumas freguesias.
“Teríamos de ter muito apoio nas freguesias para ganhar. O problema nas Gaeiras foi desastroso”
Paulo Gonçalves
“Teríamos de ter muito apoio nas freguesias para ganhar as eleições. Conseguimos fazê-lo na Amoreira, mas não o conseguimos no Olho Marinho, que era freguesia-chave. Isto a acrescer ao problema que tivemos nas Gaeiras, com a transferência do nosso candidato, que preparámos durante muito tempo, que veio a revelar-se desastrosa”, frisou Paulo Gonçalves, valorizando, porém, a aproximação ao PSD.
“Baixámos a diferença, há aqui um ganho eleitoral, mas é uma desilusão no sentido de não conseguirmos aplicar o nosso projeto”, explicou o vereador do PS, para quem os socialistas estão “muito mais responsabilizados por esta votação” e recusando traçar cenários para 2025. “Ganhando há um projeto a desenvolver, mas perdendo a perspetiva é contrária. Não encontro razões para candidatar as mesmas pessoas que não conseguiram obter o voto de confiança das populações. Mas vamos cumprir o mandato que nos deram”, concluiu.
Contas na Assembleia
Fernando Silva (PSD) foi o candidato mais votado para a Assembleia Municipal, com 42,92% (2.587 votos) e obteve dez mandatos, enquanto o PS, com 36,05% (2.173 votos) garantiu nove eleitos.
O Chega, com 5,46% (329 votos) e a CDU, com 5,19% (313 votos) têm um deputado municipal. De fora do órgão ficam o BE, que recolheu 3,75% (226 votos) e O Nosso Partido é Óbidos, que obteve 1,49% (90 votos).
Com dois presidentes de Junta para o PSD e dois para o PS, a decisão da maioria na Assembleia Municipal resultará, deste modo, dos presidentes de Junta que foram eleitos em listas de independentes, sendo que o PSD pode, por essa via, garantir a maioria. ■
Óbidos
PSD mantém maioria absoluta, apesar da subida dos socialistas
Filipe Daniel conduziu o PSD à vitória nas autárquicas do passado domingo, com 45,19% dos votos (2.724 votos), elegendo quatro elementos para o executivo municipal. Os social-democratas mantiveram a maioria absoluta, apesar de uma ligeira diminuição na votação (233 votos).
O PS, que candidatava Paulo Gonçalves, manteve os três vereadores, tendo recolhido 36,61% dos votos (2.207 votod), mas continua afastado do poder no concelho há duas décadas, apesar de uma oscilação positiva de votos.
O Chega foi a terceira força política mais votada em Óbidos, com 4,6% (277 votos), logo seguida da CDU, com 4,6% (255 votos). O BE foi a quinta força mais votada, com 2,9% (178 votos), enquanto o movimento O Nosso Partido é Óbidos recolheu 1,2% (75 votos) e o CDS/PP ficou em último lugar, com 0,8% (48 votos). ■