Gazeta das Caldas tentou perceber como é que tem sido o regresso da música ao vivo a cafés, bares e restaurantes na região e percebeu que existiram várias mudanças, algumas físicas, outras a nível mental. Um estabelecimento da cidade adaptou-se para manter esta tradição e dois músicos da região testemunharam as diferenças. Agora, devido à incerteza, a procura é maior para actuações em esplanadas e os eventos são organizados com menor antecedência. No público há um misto de ansiedade e desconforto
No restaurante Lisboa XL, na zona industrial das Caldas, a música ao vivo é uma tradição antiga. “A essência do restaurante sempre foi mais do que ser (só) um buffet, a música e animação fazem parte da nossa identidade”, nota o gerente Luís Lisboa, acrescentando que “logo na primeira semana” da reabertura “muitos clientes ligaram a perguntar pela música ao vivo”.
As portas reabriram a 18 de Maio, depois do confinamento, mas a música regressou no fim de Maio, mais precisamente no dia 30. O espaço nem precisou de muitas adaptações, porque o palco já era alto e bem afastado dos clientes. “Como o nosso espaço é muito grande, cumpre todas as normas da DGS”, frisou. Aquilo que foi feito foi delimitar duas áreas (dois quadrados de quatro metros quadrados cada um) em frente ao palco, “onde é permitido, a dois casais de cada vez, dançarem, com máscaras. Mas acredito que é melhor do que nada”, exclamou.
Luís Lisboa nota, ainda assim, muitas diferenças. Uma tem a ver com o reportório. “Ao sábado à noite, o restaurante Lisboa, era sempre um pouco mais do mesmo, música popular portuguesa”, relembra. Neste caso, a pandemia permitiu mudar o estilo musical “porque sabia que a dança já não faria parte das noites de sábado”. Assim começaram a convidar artistas caldenses com um registo musical mais acústico, “músicos que, no pré-covid, era difícil” ali tocarem num sábado a noite. Cerca de quatro meses depois, o empresário considera que “é uma aposta ganha”.
Comparando com a situação anterior explica que alguns clientes “têm saudades daquelas noites incríveis com animação, o staff em cima do palco a fazerem coreografias… Mas ninguém tem mais saudades disso tudo do que nós!”, garante Luís Lisboa, acrescentando que “aos poucos o público percebeu que é uma nova realidade e adaptou-se”.
MÚSICOS TAMBÉM SENTEM alterações
“Os primeiros espectáculos que dei depois do confinamento foram em casas de pessoas que me contratavam para tocar”, revela o músico Nelson Rodrigues. Depois, alguns bares e restaurantes voltaram a ter música ao vivo, sendo que tinham um denominador em comum: espaços ao ar livre. Uma das condicionantes é que tem actuado mais vezes sozinho e menos em banda. “Fica mais caro contratar uma banda e como quem contrata também tem um limite de clientes acaba por ter uma capacidade de investimento limitada”, explica. Além do afastamento das mesas, da utilização de máscara e do álcool-gel, há mudanças mais importantes que tem sentido. “Há um misto nas pessoas entre a ansiedade de sair e de se irem divertir a ouvir música ao vivo” com a inibição no comportamento que apresentam quando o fazem. “Não se vê pessoas a dançar”, conta, explicando que anteriormente havia uma reacção mais física e agora o público é mais contido. Ainda assim, elogia o respeito pelas regras que tem sentido.
Comparando com o último ano, a procura caiu drasticamente. “Não tem comparação”, assevera Nelson Rodrigues, que sempre actuou mais fora das Caldas do que na sua terra, mas com a pandemia tem tocado por cá. “Também há uma aposta maior em músicos locais, para não encarecer os custos”, observa.
Já a cantora e música Laura Varges, do Cadaval, retomou a música ao vivo em Junho e no início sentiu que havia “pouco público e o medo das pessoas em ir”.
Para meados de Julho começou a existir mais gente nos concertos. Nas diferenças nota que tem actuado muito mais vezes em esplanadas e, claro, a diminuição na procura.
“Em Setembro sente-se uma quebra de 80%”, contou a cadavalense, antevendo que os próximos meses também não serão fáceis para os músicos.