
O Pachá/Casa Antero acolheu a 29 de Junho uma sessão de poesia que decorreu na Rua do Jardim e foi liderada pelos poetas João Luís Barreto Guimarães e José Ricardo Nunes.
Em simultâneo, o Teatro da Rainha estreava a peça Troikas & Rapsódias no beco do Forno. Esta casa de “comes e bebes” continuará a servir de palco À cultura até porque a 1 de Agosto vai iniciar uma programação que visa assinalar o seu 55º aniversário.
“Depois de um jantar entre amigos no restaurante Pachá, pegámos nas cadeiras e trouxemos a poesia para a rua”, disse o poeta João Luís Barreto Guimarães, que esteve nas Caldas para dar a conhecer o seu sétimo livro “Poesia Reunida”.
A nova obra serviu de mote para este encontro onde os participantes, dispostos em círculo, na Rua do Jardim, leram em voz alta as poesias de Barreto Guimarães. A poesia na rua foi algo que surpreendeu alguns transeuntes que, quando se apercebiam do que se tratava, ficavam também para a ouvir.
“Gostei imenso deste serão pois fizemos da poesia do quotidiano, uma poesia mesmo de rua”, disse, no final, João Luís Barreto Guimarães. O autor, que é do Porto, divide-se entre a escrita poética e a cirurgia, que exerce no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia. À Gazeta das Caldas, o poeta contou que a poesia já o atraía, antes mesmo de ingressar na Faculdade de Medicina e que as duas actividades são algo compartimentadas na sua vida. “Divido-me bem entre as duas actividades, descanso de uma, entregando-me à outra”, comentou o cirurgião- poeta.Da sessão nas Caldas, sublinhou como foi agradável ouvir os participantes a ler os seus poemas. Apreciou as escolhas feitas por cada leitor e a forma como “ao lerem os meus versos, tornam o poema seu”.
Sobre os seus gostos poéticos, Barreto Guimarães conta que “já tive paixões que perdi e outras que perduraram”. Entre os autores portugueses salientou os poeta Cesário Verde, Alexandre O’Neil Manuel António Pina e entre os estrangeiros William Carlos Williams, Philip Larkin e Robert Lowell.
O autor diz-se “unido pela literatura” a José Ricardo Nunes, poeta caldense que pertence à mesma geração de autores. Lê os poetas da sua geração e “há algo que me faz identificar com a escrita de cada um deles: um certo gosto pela narratividade e uma atenção aos pequenos acontecimentos da vida quotidiana”, disse Barreto Guimarães.
Segundo este autor há, entre esta geração, “uma grande vontade de comunicar e de partilhar sentidos mas cada um com a sua linguagem e o seu tom”. Este poeta – que ombreia com Pedro Mexia, Luís Quintais, Rui Pires Cabral, entre tantos outros – concorda que esta é uma geração “forte” e que “se tem conseguido manter interessante, livro após livro”.
A sessão poética na rua só terminou sob ameaça de alguns aguaceiros e as cadeiras regressaram ao lugar base, na sala do restaurante.
O poeta – que já tem um novo livro que será publicado até ao final do ano – promete voltar às Caldas, para futuras sessões de poemas, se possível, na rua.
Paulo Feliciano, co-proprietário do Pachá, contou que a partir de Agosto se vai comemorar o 55º aniversário desta casa.
A poesia ainda está a marcar presença até ao final do mês na Casa Antero pois as paredes da espaço são agora habitadas por poesias de João Luís Barreto Guimarães, do seu livro “Lugares Comuns”.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt
O puxador da porta da cozinha
O puxador da porta da cozinha está estragado
faz um mês. Não passa dia sem que peças
que conserte o puxador
não concebes ser possível eu
sempre ter tido engenho para estas coisas da casa e
ainda não ter tido tempo para compor
o puxador. Mas
não se trata de nada disso. Já
o teria composto (se o
quisesse reparar)
teria arranjado tempo
não me ia custar mesmo nada. Mas
depois ia haver que alfinete? (encravado na rotina)
Como não estranhar a absurda
ausência da avaria?
Deixa-o
ficar assim. Deixa-o andar assim
(ternamente avariado).
Cada dia pela manhã
quando passares à cozinha
(calculo que por
entre as sete
sete e um quarto sete e meia)
e ficares com o
puxador da porta da cozinha na mão
tua voz regressará ao
exaustivo pedido
(ao alívio confortante de essa ser
nossa alegria) e
eu sentir-me-ei feliz por
ainda te ter por perto
por me
fazeres companhia.
J.L.B. Guimarães