Arte contemporânea deu nova vida à aldeia de Moledo

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A cantora brasileira Mariana Bardan animou o Largo da Igreja de Moledo
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O evento, organizado por um artista plástico e um fotógrafo trouxe um conjunto de artistas, músicos e performers nacionais e internacionais àquela localidade onde os eventos artísticos marcam presença há vários anos com iniciativas de cidadãos que acabam por contar com apoio das entidades locais.

 

Vários palheiros, casas arruinadas, currais ou anexos onde se arrumavam as alfaias agrícolas das casas rurais de Moledo serviram de galerias para a apresentação de instalações de vídeo, de som, de pintura, fotografia ou de desenho.
Nos largos houve performances, dança e música, assim como execução de escultura em pedra ao vivo numa celebração da contemporaneidade em ambiente rural.
Moledo e os seus habitantes estão já habituados a eventos artísticos dado que há vários anos que esta aldeia recebe iniciativas artísticas que resultam de propostas de grupos de cidadãos e que já contaram com a participação de escolas como a Faculdade de Belas Artes de Lisboa e a Escola António Arroio.
O artista plástico Manuel d’Olivares, em coparceria com o fotógrafo Nicolas Lemonnier, foi o responsável por esta organização. “Sempre tive a ideia de fazer um museu de arte contemporânea num local impensável”, disse à Gazeta das Caldas explicando que até foi fácil projectar a mostra Calhau nesta aldeia pois “já há muito caminho desbravado e as pessoas de Moledo já estão habituadas a estas realizações”.

Trabalhar in loco

Manuel d’Olivares, artista que vive em Madrid, considera que as casas antigas e anexos da aldeia, actualmente já sem uso, “constituem-se como um testemunho da história e da vivência das pessoas”. Como tal, são lugares que trazem “muitas saudades e recordações à população, apesar de já não possuírem valor patrimonial”.
Além da apresentação das obras de arte, os autores coordenaram workshops e várias visitas guiadas aos locais da aldeia. “Quisemos também trazer os artistas a trabalhar na aldeia”, disse o organizador. Referia-se, por exemplo, a António da Cunha que é escultor há 20 anos e vive em Leiria. Foi a primeira vez que participou num evento artístico nesta aldeia da Lourinhã e estava a realizar uma escultura, de grande dimensão, em calcário dedicada a Inês de Castro. “Estou a fazer um grande vaso que terá uma coroa”, contou o artista, satisfeito em poder colaborar com esta edição de estreia de Calhau. Por seu lado a escultora Clara Ribeiro, do Cadaval, também esteve a trabalhar ao vivo no evento. “Estou a reproduzir uma aldeia em pedra calcária da região”, disse a artista durante uma pausa no trabalho de execução da sua peça onde quis colocar “a aldeia dentro da pedra e esta última dentro da própria localidade”.
A autora formou-se na ESAD e acha que estes eventos “são uma forma da arte sair à rua e das pessoas irem ao seu encontro”.
Clara Ribeiro soube que o Simpósio de Escultura em Pedra das Caldas foi suspenso, algo que lamenta pois passou pelo evento como assistente do escultor Rui Matos e tem pena que um dos simpósios mais antigos do país não esteja a decorrer.
Clara Ribeiro frequentou a escola de artes caldense no seu segundo ano de funcionamento e, na sua opinião, eventos como o Calhau deveriam acontecer “mais vezes”. A autora salientou que os artistas foram muito bem recebidos pela população de Moledo.

Animação e gastronomia local

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Mas nem só nas casas houve intervenções artísticas. No Largo da Igreja aconteceram duas performances. Uma onde “Inês de Castro”, numa performance de Geny Pitta, aguardava em silêncio numa grande cadeira sobre “o que se passa com o meu Paço”. Em simultâneo, a cantora brasileira Mariana Badan, descalça e de forma expressiva, tocava guitarra e entoava tristes ladainhas relacionadas com o amor.
No evento espalhavam-se pela aldeia vários pontos nas casas dos locais onde era possível provar algumas das iguarias como sandes de cabra, wraps de vegetais e águas aromatizadas, pizza do Paço, tarte de abóbora e fruta desidratada entre tantos outras opções saudáveis, para além de vinho caseiro.
Manuel d’Olivares contou que Calhau foi apresentado no início do ano à União de Freguesias de Moledo e de S. Bartolomeu dos Galegos. A presidente da Junta, Zita Silva, explicou que Calhau contou com o apoio do poder local e que, no fundo, dá continuidade à tradição de eventos artísticos desta aldeia onde “as pessoas já estão habituadas e participam de bom grado”, referiu. Gazeta das Caldas, na sua reportagem, também encontrou alguns caldenses, um dos quais tem casa de família na aldeia, e também se associou ao evento com uma exposição etnográfica.

Participação graciosa

Segundo Manuel d’Olivares a iniciativa que teve um orçamento de quatro mil euros beneficiou da participação gratuita da larga maioria dos artistas. “Alguns quiseram simplesmente fazer parte deste evento”, disse o organizador que gostaria que Calhau fosse uma iniciativa anual. O artista plástico gostaria também de apostar forte na música na próxima edição, trazendo pianistas a actuar a Moledo. Reconhece também que é necessário apostar mais e mais cedo na divulgação da iniciativa.

 

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