Está patente no Malhoa uma mostra que reflete sobre a flora que se encontra presente na cerâmica caldense
Marta Galvão Lucas adquiriu uma série de moldes à Fábrica Mendes & Nicolau, em 2011.Muitos deles referem-se à flora caldense pois a partir dos mesmos era possível reproduzir folhas das mais variadas espécies.
A partir destes moldes de plantas e flores, e passados dez anos, a autora decidiu usá-los para o seu estudo académico.
E assim surgiu também a mostra “Flora Caldense, Uma Colaboração Póstuma de Marta Galvão Lucas Com Avelino Soares Belo, José Belo, Josef Füller e José Lourenço que pode ser apreciada no Museu Malhoa até ao dia 17 de novembro.
A exposição – que integra moldes daqueles autores – resulta da investigação académica da autora – que chegou a ser diretora artística da Secla por um curto período em 2005 – e que está a doutorar-se na área da Escultura nas Belas Artes de Lisboa.
A mostra ocupa três salas do Museu José Malhoa e apresenta escultura, instalação, algumas peças de cerâmica e os vários moldes, adquiridos por Marta Galvão Lucas, que é também bolseira da FCT, e que também se ocupa da identificação dos ceramistas caldenses que muitas vezes não têm o reconhecimento merecido.
Na fotografia patente na sua mostra, Marta Galvão Lucas dá a conhecer quem são os operários da Fábrica de Faianças das Caldas e, ao contrário, do que são as legendas mais comuns em que surge quase sempre “o Mestre e seus discípulos”, a autora inverte essa lógica, dá a conhecer os nomes dos aprendizes e dos trabalhadores e escolhe tapar Rafael Bordalo Pinheiro com uma cortina negra.
“Há uma hegemonia deste artista cá nas Caldas, apagando muito do trabalho feito por outros autores”, disse a doutoranda mencionando o caso de Manuel Mafra que é muito menos conhecido mas que na verdade era fornecedor da Casa Real e há peças deste artista em museus “como no britânico Victoria and Albert Museum, em Londres”. Presente está também uma fotografia de operários da Fábrica Belo, que data de 1949, onde estão funcionários de várias idades, incluindo mulheres operárias.
Marta Galvão Lucas reuniu várias peças e documentos importantes de ceramistas caldenses que estão presentes nesta mostra como o “Livro de Empreitadas” de Avelino Soares Belo, que trabalhou com Bordalo Pinheiro e que fundou a Fábrica Belo. Há também uma peça deste autor, onde há vários elementos vegetalistas que podem ser apreciada nesta mostra.
A autora, que também trabalha em cerâmica incluiu as suas próprias botas de trabalho numa das instalações e que habitualmente usa no seu espaço de trabalho, dado que após ter estado ligada à Secla, entre 2005 e 2009, fundou o Estúdio – Caldas da Rainha dedicado à produção cerâmica.
Da aquisção de moldes que fez, Marta Galvão Lucas notou que há mais de uma dezena dedicados à nespreira e por isso esta também é alvo de destaque nesta mostra. A autora, que trabalhou com várias pessoas nesta mostra, fez um jornal de apoio a esta exposição que contém vários textos, biografias e até uma fotografia relativas a esta mostra.
“Não foi fácil encontrar uma gráfica que fizesse os jornais da exposição mas consegui em Coimbra”, disse a autora que vai continuar as suas pesquisas relacionadas com a cerâmica das Caldas.
Para Nicole Costa, a diretora dos museus Malhoa, Cerâmica e Nazaré, apresentar esta exposição – que abriu ao público a 20 de setembro -, nos 90 anos do Museu de José Malhoa “é fundamental pois traz diálogos com o próprio espaço museológico e provoca uma reflexão sobre as inscrições e de apagamentos na história da cerâmica das Caldas”.
A exposição “Flora Caldense – Uma colaboração póstuma…”vai estar patente até dia 17 de novembro de 2024. ■