“Beco d’Obra”, uma exposição partilhada pelo Pachá e Forno do Beco

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Deformações copyNatural da Golegã, Mariana Fialho Sampaio vive nas Caldas da Rainha desde o início da sua licenciatura em Artes Plásticas na ESAD. Aos 24 anos conta já com um prémio internacional no currículo (Jeune Creátion Européenne) e é a artista em exposição na recentemente inaugurada “Beco d’Obra”, uma mostra de pintura e escultura partilhada pelos estabelecimentos Pachá/Casa Antero e Forno do Beco.

Maria Beatriz Raposo
O convite para expor em simultâneo no restaurante e na padaria partiu dos “Paulos”. O Feliciano, proprietário do Pachá/Casa Antero e o Santos, do Forno do Beco. Dois nomes que têm apostado na divulgação do trabalho desenvolvido por artistas desta cidade. Sejam eles caldenses de gema ou “adoptados” (todos aqueles que estudaram na ESAD e acabaram por fazer das Caldas a sua residência artística). Mariana Fialho Sampaio faz parte desta segunda vaga.
Licenciada e mestre em Artes Plásticas pela ESAD, a jovem artista trabalha actualmente nos Silos Contentor Criativo e em breve irá abrir o seu próprio atelier em casa. Em “Beco d’ Obra” Mariana apresenta três projectos distintos. Descreve-os como coloridos e metafórmicos.
As paredes do restaurante Pachá exibem um conjunto de pinturas inspiradas no ambiente próprio de uma casa de petiscos. Não falta, por isso, o copo de vinho tinto, o polvo, o pão e o queijo. Produtos típicos que foram retratados ao estilo Pop Art. Isto é, “que têm por base a utilização de cores fortes, as que compõem o arco-íris, e um movimento que encara a arte como apropriação dos objectos do quotidiano”, explica Mariana Sampaio, que além de comida, também dedica um dos seus quadros aos candeeiros que decoram o restaurante.
Em frente ao Pachá, localizada no mesmo beco, está a padaria de Paulo Santos, onde se encontram em exibição dois projectos de escultura. “D. Maria, D. Celeste, D. Eduarda” reúne um conjunto de peças elaboradas no curso de Cerâmica Criativa do Cencal e que Mariana frequentou durante um ano. Inspiradas nas raízes familiares da artista, estas obras conjugam a arte feminina da costura (praticada há muitos anos pela mãe Eduarda e as avós Maria e Celeste) e a técnica de serralharia desenvolvida pelo pai e tio, que têm experiência em construir gradeamentos de metal.
“É precisamente a grelha o elemento comum aos dois objectos: os bordados e os gradeamentos”, diz Mariana Fialho Sampaio, salientando que este projecto resulta do seu olhar contemporâneo sobre duas práticas tradicionais e antigas.
Já “Deformações” compila vários objectos que, pelas mãos da artista, ganharam novas interpretações. Como as garrafas de plástico, que surgem partidas ou espalmadas, ou os cubos rubik (mágicos) que aparecem desconstruídos. “Cheguei mesmo a deixar um dos cubos cair ao chão para perceber que formas assumia”, detalha Mariana, que acrescenta a esta mostra um conjunto de anémonas, também concebidas nas classes de Cerâmica Criativa.
Sobre a sua participação no curso do Cencal, a jovem artista diz que a formação naquele centro foi essencial para aprimorar as técnicas de cerâmica, que estavam ainda “frouxas” quando terminou a formação na ESAD. “Estando a viver nas Caldas, uma cidade que transpira cerâmica, considero que o curso foi uma grande mais valia”.
Levar a arte ao povo
As obras de arte estão normalmente expostas em galerias e museus ou encontram-se acessíveis em lojas especializadas. Mas exibir obras de arte num café ou numa padaria é levar a arte ao povo e traz ganhos tanto para os estabelecimentos como para os artistas. “Por um lado os espaços comerciais tornam-se mais apelativos, por outro, nós, os autores, levamos as nossas peças directamente às pessoas, que não vão todos os dias aos museus mas vão regularmente ao restaurante ou comprar pão”, afirma Mariana Sampaio. A iniciativa de fazer dos estabelecimentos montras de arte pode mesmo tornar-se mais facilmente rentável para o artista. No dia da inauguração de “Beco d’Obra”, por exemplo, Mariana tinha já pedidos de reserva para duas das suas peças.
O reconhecimento internacional
Com apenas 24 anos, foi em 2013 que Mariana Sampaio deu um valente pulo na sua carreira de artista plástica. E muito por culpa do prémio internacional “Jeune Creátion Européenne” (Jovem Criação Europeia) que a levou expor em países como França, Holanda, Lituânia, Bélgia, Itália, Espanha, Hungria, além de Portugal. A jovem foi uma das portuguesas seleccionadas (de um conjunto de seis representantes nacionais) com a sua peça “Shadow’s Mingle”. “Estes concursos abrem portas para outros concursos, fazem currículo e são uma oportunidade para participar em várias exposições”, explicou Mariana, que, concluído o mestrado e o curso no Cencal, está novamente a dedicar-se à participação neste tipo de competições.