Amanhã, 23 de Julho, pelas 18h00, os escultores da XVI edição vão apresentar as novas esculturas que criaram ao longo das ultimas três semanas.
São cinco os artistas que participam na edição do Simppetra (Simpósio Internacional de Escultura em Pedra) que está a assinalar o seu 30º aniversário. Em tempos áureos esta realização – uma das mais antigas do mundo que se realiza sem interrupção – chegou a custar 60 mil euros, mas nas últimas edições o seu custo reduziu para perto de metade (34 mil euros).
Segundo o director do Centro de Artes, José Antunes (que organiza o Simppetra há vários anos), este ano estão a ser trabalhados dois blocos de granito, dois mármores e dois calcários. Estas pedras “são-nos oferecidas pelos nossos patrocinadores”, disse o responsável acrescentando que vêm da Serra dos Candeeiros e de pedreiras do Alentejo. Os escultores selecionados deste ano foram Fabian Saeren (Bélgica), Fernando Pinto (Colômbia), Chris Petersen (Holanda), Canan Zongur (Turquia) e o escultor português Mário Lopes. A cada um dos cinco artistas a autarquia oferece um fundo de maneio de 2500 euros e 50% do custo das viagens até às Caldas da Rainha, bem como a estadia e as refeições.
Quando finalizadas, algumas destas obras deverão ser colocadas na Mata e no Parque, no antigo parque de campismo ou ainda no parque das merendas, agora que é a autarquia que gere aqueles espaços.
Em tempos idos, o Simpósio chegou a custar 60 mil euros, mas hoje, “eliminadas ineficiências”, segundo o organizador e director do Centro de Artes, José Antunes, a XVI edição custa apenas 34 mil euros. O Simpósio foi ainda encurtado de um mês para três semanas e como foi adquirido equipamento técnico e feitas opções de aluguer de máquinas, foi possível “descer os custos”, disse o director
José Antunes recordou que os primeiros escultores que participaram (e organizaram) este simpósio – como Antonino Mendes, António Duarte e Vidigal – chamavam a atenção para o facto dos jovens autores saberem idealizar e também executar uma obra. Só que as novas tecnologias são agora favoritas e a escultura em pedra tem tendência a desaparecer dos curriculos das escolas. Já não se ensina na ESAD há vários anos. “Hoje pensar escultura e mandar fazer tem custos muito elevados”, disse José Antunes, muito satisfeito por este ano poder contar com dois alunos da ESAD como assistentes, que “vão ficar com uma mais valia, importante no futuro”. A direcção técnica está agora com Vítor Reis, escultor que já passou pelo simpósio como assistente e que teve a missão de estabelecer a ligação entre os artistas, os assistentes e a direcção do Centro Artes. Formado na ESAD, soma já no seu currículo várias participações em simpósios por todo o mundo. Vítor Reis diz que esta 16ª edição – onde também está a fazer uma escultura – está a correr sobre rodas e dada a longa experiência da equipa do Centro de Artes na organização, “não há quase nada a apontar”.
O portuense Guilherme Silva, 23 anos, a frequentar em mestrado em Artes Plásticas veio com a algarvia Rita Ferreira, de 26 anos, que está no mestrado de Design de Produto. São assistentes deste simpósio e enquanto o primeiro auxiliou o escultor belga, a aluna esteve a ajudar sobretudo a escultora turca.
Ambos reconhecem que esta é uma excelente oportunidade para adquirir competências num material que não é leccionado na escola de artes caldense, mas que poderia voltar como disciplina opcional.
Obras para todos os gostos
Os refugiados como inspiração
O colombiano Fernando Pinto é escultor há 20 anos e trouxe o projecto “Two-gether”. Está a trabalhar mármore branco e explicou à Gazeta das Caldas que esta é composta por duas peças que apenas se tocam. É uma alegoria ao que se passa na actualidade com os refugiados e também com o seu país de origem, a Colômbia. “As guerrilhas estão a deixar as armas e não está a ser fácil reintegrarem-se na sociedade, que também tem dificuldades em voltar a integrá-los”, disse o escultor. Fernando Pinto elogiou o Simppetra, salientando o facto de permitir grande proximidade entre os participantes e de não deixar faltar nada aos escultores. O colombiano gostaria que a sua obra ficasse no parque.
Quando a água marca a pedra
“Moon Trickles” (Filetes de Lua) é como se designa a obra do holandês Chris Petersen. A trabalhar o granito, o escultor quer deixar uma obra onde reflecte sobre o impacto da água na pedra. Uma das partes da obra ficará rugosa e a outra muito polida. Chris Petersen participa em um ou dois simpósios anualmente, mas no resto do ano dedica-se ao seu trabalho artístico em atelier e nas galerias.“Acho que a peça funciona bem na cidade e também num parque”, disse o escultor.
Uma obra sobre a vida
Canan Zongur é turca e professora de escultura nas Belas Artes. É a única mulher escultora a participar e há vários anos que desejava vir ao Simppetra pois tinha as melhores referências do evento, dadas por escultores turcos seus amigos que já nele participaram. A sua obra, em calcário, é sobre a vida “pois todos vimos da terra e vamos depois de morrer para a terra”. Por isso, a peça tem várias curvas “tal como acontece na vida humana”. Viajar e trabalhar em simpósios é para a autora uma boa oportunidade para “experimentar as pedras de cada país”.
Um pinheiro abstracto
Mário Lopes, escultor de Leiria, vai deixar nas Caldas, a Pinus, uma peça onde vai estar presente uma representação abstracta de um pinheiro, após ter estudado os famosos jardins de pedra japoneses. A trabalhar em calcário, este autor já esteve em 12 simpósios pelo mundo, mas este é o primeiro que está a fazer em Portugal. Antes de frequentar as Belas Artes, começou por aprender artes de cantaria no Mosteiro de Alcobaça.
O prego e a madeira em granito
O belga Fabian Saeren está a fazer uma peça figurativa, esculpindo no granito um enorme prego. Trata-se de uma obra que se destina a ser apreciada “pela classe trabalhadora que no meu país não tem dinheiro para ir aos museus ver arte”, disse o autor, defensor de ideias de esquerda que quer que toda a gente possa apreciar arte e assim poder “ser melhor”. Um prego que é representado como se estivesse na madeira, permitindo várias leituras no que diz respeito ao uso que o homem faz dos recursos naturais. O belga está a trabalhar com o estudante Guilherme Silva, que também o está a ajudar a escolher um sitio para a sua obra.