Caldas Late Nigth de baixo custo distinguiu-se com projectos mais criativos e interactivos com o público

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Uma edição lowcost que atraiu milhares de pessoas à cidade e mobilizou os comerciantes que, além de emprestarem os espaços para os artistas exporem os trabalhos, também mantiveram as suas lojas abertas até mais tarde. Foi assim a 16ª edição do Caldas Late Night (CLN) que contou com 127 intervenções inscritas e envolveu estudantes da ESAD, artistas locais e outros vindos de Lisboa.
Instalações, performances, concertos, exposições e outras propostas mais interactivas, agradaram aos visitantes, que destacaram a qualidade dos projectos. Este ano a organização tentou também fazer um evento mais abrangente, em que a “cidade em si se misturasse connosco”, contando para isso, com a ajuda dos comerciantes. Além de cederem as lojas, também patrocinaram o evento com material diverso e a impressão dos três mil mapas.


A SEXTA-FEIRA

Tal como nos últimos anos, o Caldas Late Night  abriu com uma guerra de almofadas (Pillow Fight), ao final da tarde de 25 de Maio. É na Rua Heróis da Grande Guerra que decorre esta iniciativa, que teve muito mais assistência do que participantes. É um momento divertido em que raparigas lutam contra rapazes em vários rounds até que as “armas” se destroem, deixando pedaços de penas e espuma que vão manter-se na via durante a realização do evento.
Ainda não caiu a noite e há muita gente na rua, pessoas de fora que perguntam: “onde é que há mapas?”. A organização do CLN mandou imprimir 3000 e tentou distribui-los em locais chave e disponibilizava-o no site do evento.

Os jovens estudantes mostraram a sua arte nas casas e nos espaços públicos
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Há músicos que animam as ruas e grupos que aparentam ser informais e que animam as ruas caldenses. Finalizam-se instalações e acertam-se pinturas pois a noite está para chegar e é preciso ter tudo pronto a horas.
O CLN é algo para se viver em grupo, organizado ou que se cria naquele momento, para descobrir as intervenções propostas.
Estão três jovens vestidos de negro a iniciar uma performance na Rua Dr. Miguel Bombarda que tem por título “Nós somos o que comemos”.
Já próximo do Maratona há um grupo de jovens que chegou de comboio do Barreiro para ver as intervenções do CLN.
Vieram 12 alunos, acompanhados por dois professores “e vamos ter um casal de amigos caldense que nos vai guiar pelas intervenções”, conta Isabel Tostão, professora de Desenho, que já tinha ouvido falar no CLN e que propôs a esta turma de Artes Visuais a vinda às Caldas da Rainha. “Acho que é uma iniciativa muito interessante, óptima para dinamizar a cidade e interligar a escola de artes com a comunidade”, disse a docente.
Um dos aspectos mais curiosos deste evento é a possibilidade de conhecer a arquitectura das casas. Por vezes descobrem-se terraços, ou até mesmo as escadas de incêndio ganham um outro aproveitamento. É o caso da proposta numa das casas do Hemiciclo João Paulo II, onde os convivas são conduzidos pelos jovens até ao terraço que liga vários prédios entre a Rua Raul Proença, a Miguel Bombarda, a Avenida e a zona da Igreja de N. Sra. da Conceição. Há também uma banca onde são vendidas peças de cerâmica e trabalhos pendurados na corda da roupa que decora o terraço.
Um dos locais chave na sexta-feira foi o Museu Bernardo, já que para além da exposição “Quatro”, estavam a decorrer outras performances e várias exposições. Nas traseiras do Thomaz dos Santos há quem faça graffitis ao vivo, o que atrai transeuntes. E quem está nos cafés, como no Charrua, desloca-se para a rua para assistir ao momento.
“Nunca se consegue ver tudo no CLN…”, comentava o casal caldense Adélia e Pedro Caldeano, que há vários anos não perde o evento. Ambos têm um filho a estudar na ESAD e Adélia também tirou o curso de Animação Cultural. “Creio que as pessoas da cidade podiam usufruir mais deste evento, que traz dinâmica e tem sempre motivos de interesse”, disseram.

O CLN no Centro Comercial D. Carlos I

Outro dos locais mais movimentados do CLN foi o Centro Comercial D. Carlos I.  Diogo Martins e Carolina Bilro são estudantes na ESAD e têm 22 e 21 anos, respectivamente.

Uma turma veio do Barreiro para ver o CLN

São ambos de Torres Vedras, ele estuda Artes Plásticas e ela Cerâmica e Vidro. Decidiram trabalhar em conjunto para o CLN e intitularam a sua mostra de “Anúbis”, em homenagem ao rei egípcio da Morte. Esta decorreu numa das lojas que se encontra vazia no primeiro andar do centro comercial e consistia numa reflexão sobre a morte.  “A cerâmica está a desaparecer aos bocadinhos aqui nas Caldas”, disse a jovem aluna. “Foi dos primeiros cursos da ESAD e está a decair”, comentou Carolina Bilro, acrescentando que a sua turma tem pouco alunos. “Somos muito poucos e esta apresentação serve  para mostrar à cidade que também se faz bons trabalhos neste material”, disse.
Os dois jovens estiveram no centro desde as duas da tarde e “já tivemos várias enchentes de visitantes”. Dispuseram as peças de cerâmica  como se fossem troféus de caça e, num espaço interior, simularam um caixão onde jazia uma criança.
Catarina Saraiva – responsável pelo administração e condomínio no centro comercial D. Carlos I – contou que foram concedidas à organização do CLN sete lojas e também vários espaços comuns como os corredores.
Desde body painting a concertos, houve de tudo um pouco  no centro comercial. “Tivemos o comércio aberto até às 22h30 e os portões só encerraram às 23h30 e um dos cafés do primeiro andar ainda ficou com gente”, disse.

O 16º CLN foi bastante participado por jovens e famílias inteiras

Os comerciantes também aderiram, mantiveram as portas abertas até mais tarde e fizeram várias campanhas de descontos.
“Para mim, o CLN  foi uma surpresa e serviu de grande atracção aqui ao centro de pessoas das Caldas e de outras localidades”, acrescentou Catarina Saraiva. Na sua opinião foi óptimo terem aberto as portas a este evento e, para o ano, “vamos voltar a participar!”.
Já é tarde. A maioria das casas está a encerrar e as performances também vão acabando. Há estranhas personagens de corpo pintado que passeiam pelas principiais ruas do centro da cidade, mas há um fluxo crescente que se dirige para a Praça de Touros onde decorre um concerto de música pimba que ecoa naquela zona. Lá há barracas de bebidas e bifanas. Em pequenos ou grande grupos, há convívio e conversa sobre o CLN. Elementos da organização trazem agora um grande falo (a imitar o símbolo caldense) feito de cartão, que vai marcar presença noutras iniciativas do CLN 2012. O arraial está ao rubro, com a dança a dominar a arena. Uns dançam a pares, outros fazem comboios, numa noite animada que esteve prevista durar até pelo menos… às três da manhã. Amanhã há mais CLN para ver…

O SÁBADO
As crianças foram as primeiras a aproveitar o CLN na manhã de sábado, nos Silos. Fardos de palha distribuídos pelo parque de estacionamento serviam de obstáculos aos concorrentes do Triciclo Tunning, onde miúdos entre os dois e os quatro anos pedalavam perante o entusiasmo dos pais.
No final da competição não faltaram as taças e medalhas aos participantes. “Foi o teu primeiro prémio, filho”, dizia um pai, contente com a prestação do seu rebento. Mais tarde, no “Caldas no Caldas”, cinco bandas novas mostraram o seu talento, atraindo mais público, adolescente e jovem adulto. Uma forma de cativar mais pessoas para aquele pólo criativo.
André Rocha, da DAR, uma associação sediada nos Silos, explica que pretenderam alargar o âmbito do CLN, que até agora tem sido muito ligado aos estudantes de artes, aproximando-o mais da comunidade. “É um evento que mobiliza uma cidade e que a própria comunidade local através destas iniciativas vai começar a participar”, acredita.
Durante a tarde e a noite decorreram no espaço diversas manifestações culturais. Entre elas estava o stand interactivo de promoção do Mercado de Santana. O objectivo era divulgar os mercados tradicionais, que comercializam “produtos mais baratos e saudáveis” e investem numa relação directa entre produtor e consumidor. E qual a melhor forma de o fazer? Trazendo os sons e produtos do Mercado de Santana até ao centro da cidade. Coelhos, galinhas, codornizes, patos e perus (emprestados por amigos) conviviam com sapatos, produtos utilitários e decorativos, vestuário, hortícolas e couves. Os sons foram captados no mercado, nos últimos três domingos pelos responsáveis pela instalação: Hugo Saiote e João Margarido, de Design de Ambientes, Diogo Fidalgo e Gonçalo Abade, de Som e Imagem, e Ruben Rodrigues, de Design Gráfico, que começaram a trabalhar há cerca de mês e meio para este projecto.
Quem se dirigiu aos Silos no sábado foi recebido com cerveja artesanal, servida num copo criado especialmente para esta edição pelo designer Eduardo Silva. Para a sua concepção, o jovem, formado na ESAD e com atelier nos Silos, teve em conta que o recipiente transmitisse um bocado a manufactura, feito à roda de oleiro, uma vez que a cerveja também é artesanal.
Natural de Tomar, Eduardo Silva já tinha participado no Caldas como espectador e ajudante na organização, em edições anteriores. Considera que o evento é uma forma que os alunos da ESAD têm de comunicar para o exterior o trabalho que ia ficar na gaveta, sem ser mostrado. “Noto cada vez mais as pessoas das Caldas integradas no espírito do CNL, a andarem na cidade com o mapa na mão, a ver os pontos de interesse, até famílias inteiras com crianças”, contou à Gazeta das Caldas.
Ao final da noite já eram poucas as canecas existentes, assim como a cerveja “Sovina”. Arménio Martins, um dos responsáveis por esta cerveja artesanal produzida no Porto não escondia a satisfação com o evento. “É um movimento espontâneo  de pessoas e muito autêntico, é fantástico”, disse, acrescentando que foi a primeira vez que se fizeram representar na região.
Arménio Martins também não poupou elogios ao novo copo, destacando que o facto de ser de barro beneficia o sabor da bebida.
No edifício central dos Silos foram muitas e variadas as propostas, algumas delas por artistas que solicitaram aquele espaço para mostrar o seu trabalho. Os Silos “abriram as portas  e cederam espaços não só a participantes das Caldas da Rainha mas também, porque houve procura, para a participação de pessoas que vêm de fora”, explicou Nicola Henriques, coordenador do projecto Silos Contentor Criativo, que compreende o edifício central.
A experiência de participar no CLN começou o ano passado e, dada a adesão e a adequação do espaço a este tipo de iniciativas, este ano voltaram a repetir, com a realização de 25 intervenções.
Entre elas, tiveram a participação de uma companhia de teatro de Vila Franca, que apresentou a peça “4.48 Psicose”, de uma dupla de actores de Lisboa que apresentaram uma performance de uma hora, e três designers, também da capital, que ali expuseram os seus trabalhos. “O Caldas é de todos e para toda a gente”, resume Nicola Henriques, que com o projecto dos Silos tem por objectivo fazer a ponte entre a escola e a cidade.
Nicola Henriques mostrou-se ainda surpreendido por ver, na primeira noite, muitas pessoas a procurar os Silos, que apenas abriram as suas portas ao evento no sábado.

Fátima Ferreira

fferreira@gazetadascaldas.pt

Natacha Narciso

nnarciso@gazetadascaldas.pt

Obra inacabada de Ferreira da Silva inspira design do evento
Tentar fazer uma ligação entre a escola e a cidade, pegando no Jardim d’Água, de Ferreira da Silva para obter alguns elementos gráficos que deram origem ao cartaz foi a proposta de Pedro Sousa, finalista de Design Gráfico e um dos organizadores do CNL.
O jovem tentou também fazer um paralelismo entre a história do Jardim d’Água, de não se saber se está acabado ou quando o irá estar, e o CLN, em que todos os anos se diz é último, mas que acaba por ter continuidade.
A ligação à cerâmica foi conseguida através da parceria com a Molde, que ofereceu à organização do evento cerca de 140 azulejos, com os quais marcaram os locais de intervenção artística.
O resultado final agradou aos participantes e Pedro Sousa também ficou contente com a receptividade do seu trabalho.

Atrair milhares com mil euros de orçamento

Esta edição, low cost custou à organização cerca de mil euros. “Acho que a falta de recursos é a melhor forma de haver criatividade”, contou à Gazeta das Caldas Inês Manata, da organização, orgulhosa com o resultado da edição de 2012.
Para o próximo ano a organização será outra. “O engraçado do CLN é começar de novo todos os anos”, contam Monique Gomes, Inês Manata e Pedro Sousa, três dos jovens organizadores que tiveram que “descobrir tudo sozinhos”.
Começaram a empreitada de realizar o CLN seis alunos e acabaram cerca de 15 jovens, que contaram com a ajuda de muitos mais, que se mobilizaram para garantir a continuidade de um evento que já está consolidado na cidade.
“Senti que as pessoas misturaram-se mesmo, havia famílias inteiras a ver”, salientou Inês Manata, destacando que o CNL tem o nome da cidade e “só assim faz sentido”.

F.F./N.N.


O que é para ti o Caldas Late Night?

“Para mim o CLN é uma cidade transformada numa galeria. Este ano como houve muita publicidade vai atrair ainda mais gente, o que faz com que o evento vá perdendo o seu carácter underground.”
Bruno Santos, Design Gráfico,  Caldas

“É um evento único que é muito nosso, como se fosse uma mostra do que nós fazemos na ESAD. O CLN para a cidade ver o que nós fazemos”.

Diogo Martins, Artes Plásticas, Torres Vedras

“O CLN é fantástico! Nós fazemos obras de propósito para apresentar nesta iniciativa”.
Carolina Bilro, 21 anos – Cerâmica e Vidro, Torres Vedras

“O CLN é algo muito bom pois dá a conhecer os trabalhos dos alunos, e de quem mais quiser, à cidade das Caldas”.

Diogo Oliveira, Artes Plásticas,  Sintra

“Acompanho o CLN há cinco anos, creio que é bom para a cidade pois tem crescido imenso e atrai muita gente de fora”.
Ruben Ferrão, Educação Física  e Desporto, Caldas da Rainha

“O CLN é tudo o que quiserem fazer e o que quiserem ver”.
Edgar Guerreiro, músico e finalista de Artes Plásticas

“O Caldas é uma oportunidade para todos os alunos da ESAD, e outros jovens, poderem mostrar o que conseguem fazer, abrindo as portas das suas casas, pois muitas vezes não têm outros espaços para expor. Sempre que posso venho, acho que gera um movimento na cidade que é benéfico”.

Edgar Libório, fotógrafo,  Gaeiras

“Para mim o Caldas é a oportunidade de ver arte por toda a cidade. É um evento que já está consolidado e que traz milhares de pessoas às Caldas, permitindo uma noite de animação e cultura”.

Rita Dias, estudante,  Lisboa

“O Caldas é uma ruptura na animação e cultura da cidade. É uma pedrada no charco”.

José Coutinho, Sociólogo,  Caldas da Rainha

“É o evento onde as pessoas aproveitam os espaços que têm para mostrar a sua imaginação e arte ao público”.
Cláudio Pinto, estudante,  Caldas da Rainha

F.F./N.N.

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