
Oito concelhos, mais de 60 superfícies comerciais e 19 pontos de recolha directa e 80.376 quilogramas de bens alimentares recolhidos por cerca de 1.500 voluntários. São estes os números de mais uma campanha levada a cabo na região pelo Banco Alimentar do Oeste, no passado fim-de-semana, dias 26 e 27 de Maio.
Contas feitas, “verificou-se um acréscimo de 6,8% face à campanha de Maio de 2011, mostrando que o slogan ‘Maior do que a crise que nos bate à porta, é a solidariedade dos portugueses’ é interiorizado por estes, particularmente neste tempo de crise”, refere o Banco Alimentar do Oeste.
Do total de alimentos recolhidos nos concelhos de Alcobaça, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos e Peniche, mais de 10 toneladas resultaram da angariação nos pontos de recolha directa. Esta foi uma experiência iniciada em finais de 2007 com um ponto de recolha em Santa Catarina. Depressa os responsáveis pelo Banco Alimentar do Oeste perceberam que desta foram podiam aumentar significativamente a quantidade de alimentos obtidos em cada campanha, e o número de pontos de recolha directa foi aumentando de ano para ano.
Já devidamente armazenados no cais da estação ferroviária das Caldas (cedido pela Refer), os produtos serão agora encaminhados para 56 instituições nos oito concelhos abrangidos, que os farão chegar a cerca de 1.877 famílias com comprovadas carências alimentares. Esta ajuda traduz-se no apoio a mais de 5000 pessoas todos os meses.
Sucesso Nacional
Os números da região contribuem para as 2.644 toneladas recolhidas em todo o país nos dois dias de campanha, levada a cabo em 1.655 superfícies comerciais. Numa nota à imprensa, a direcção do Banco Alimentar Contra a Fome diz que “tanto as quantidades recolhidas como o número de voluntários envolvidos ultrapassaram todas as expectativas”. A campanha mobilizou cerca de 37 mil voluntários que asseguraram a recolha, transporte, pesagem e armazenamento dos alimentos.No balanço de mais uma acção, Isabel Jonet, a presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome, diz que “as pessoas responderam ao apelo e quiseram demonstrar que, apesar da profunda crise económica que afecta tantas famílias portuguesas, não se conformam com a situação e estão disponíveis para reagir e para ajudar a minorar as dificuldades”. Em números nacionais, os bens alimentares recolhidos vão ser entregues a 337 mil pessoas através de 2.100 instituições.
A ajuda ao Banco Alimentar não se esgota, no entanto, neste fim-de-semana. Até 3 de Junho é possível contribuir online, em www.alimentestaideia.net, ou através da campanha “Ajuda Vale”, nas lojas Pingo Doce e Feira Nova, Dia e Minipreço, El Corte Inglés, Jumbo e Pão de Açúcar, Lidl e Continente.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt
A erradicação da pobreza não é mais difícil que a erradicação da escravatura e esta foi alcançada, disse Laborinho Lúcio

Já no passado dia 4 de Maio muitos caldenses se tinham juntado para apoiar o Banco Alimentar do Oeste, numa noite cujo objectivo foi angariar dinheiro para pagar uma carrinha de transporte de frios. Cerca de 200 pessoas marcaram presença no grande auditório do CCC, onde aplaudiram o trabalho levado a cabo pela instituição desde 2006 e ouviram Laborinho Lúcio falar d’”A procura, no outro, do sentido de cada um”.
O magistrado defendeu que “a pobreza, sobretudo a severa, constitui uma violação dos direitos humanos e neste sentido o nosso objectivo deve ser a erradicação da pobreza”.
Mas como fazê-lo numa altura em que o fosso entre ricos e pobres se acentua cada vez mais?
Para Laborinho Lúcio, a erradicação da pobreza não é mais difícil que a erradicação da escravatura, e esta foi alcançada. Urge, por isso, deitar mãos à obra e reivindicar a igualdade entre todos, sejam ricos ou pobres. Para isso, a “capacidade para não deixarmos que nos tornem indiferentes é essencial”. É preciso passarmos do paradigma actual “Não penso, logo ajo” para um novo: “Pensas, logo existes!”. É preciso termos “capacidade e possibilidade de intervir na vida pública”.
Porque “ser solidário é integrar, não é manter a desintegração e ajudar depois”, Laborinho Lúcio defende que “a nossa relação com pessoas em situação de pobreza não deve ver nela a sua necessidade, mas sim os seus direitos”. Nesta premissa assenta um princípio que deve ser basilar: “solidariedade não é caridade”. A primeira, a que se quer, “é sempre também uma corrida para nós, porque tal como a praticamos é para auto-satisfação, e ainda bem”.
Ainda que a erradicação da pobreza possa parecer uma utopia, Laborinho Lúcio lembra que “o Banco Alimentar é hoje uma realidade que foi uma utopia”. E aos presentes deixou um recado: “é na felicidade dos outros que podemos continuar a ser solidários, porque afinal é na solidariedade que nos fazemos felizes”.
A noite ficou ainda marcada pela actuação dos Caldas Handsaw Massacre e pelo leilão de obras de Vera Gonçalves (ESAD), Óscar Guimarães e Luís de Matos. E lembrou-se como foi fundamental o papel dos antigos dirigentes do Banco Alimentar do Oeste, chegando mesmo a apelidar-se Ana Bessa como “a alma mater” deste projecto.
No balanço desta iniciativa o presidente da instituição, José Siqueira de Carvalho, aponta para 4.500 euros o resultado da angariação de fundos e diz que a noite “superou as expectativas”.
A carrinha veio resolver os constantes problemas com a anterior viatura, mas agora o Banco Alimentar precisa de levar a cabo obras de ampliação das suas instalações. Tudo para conseguir dar resposta a um cada vez maior número de pedidos de ajuda alimentar.
J.F.