O CIAB – Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia foi inaugurado no passado dia 17 de Março, com uma exposição que traduz a vivência das gentes daquela freguesia, que contou com a participação activa da comunidade local.
O novo espaço, integrado na rede museológica do concelho de Peniche, engloba a recuperação da Igreja de S. José e a criação de um espaço museológico que serve de base aquele núcleo.
Trata-se de um investimento de 650 mil euros que juntou a autarquia de Peniche, a paróquia e a Junta de Freguesia da Atouguia da Baleia e contou com o apoio de fundos comunitários.
A Igreja de S. José, completamente recuperada, foi pequena para acolher mais de uma centena de pessoas que, na noite daquele sábado, fizeram questão de estar presentes na inauguração do CIAB. Integrado na Rede Museológica daquele concelho, o centro tem como objectivo o estudo e valorização do património daquela freguesia, proporcionando uma visão integrada da região histórica de Atouguia da Baleia. Para tal, abarca conhecimentos de diversas áreas científicas que vão desde a geologia e da paleontologia à arqueologia e à história, passando também pela geografia humana e pela antropologia.
O projecto implicou a reabilitação da igreja de S. José (agora integrada no circuito de visita do CIAB) e a construção de edifício anexo, que é a sede do núcleo. Para além das obras, desenvolvem-se desde 2007 trabalhos de inventário, conservação e valorização do património, como é o caso da conservação e restauro do espólio do centro de interpretação, com destaque para os trabalhos no retábulo do altar-mor da Igreja de S. José, coordenado por Jorge Martins.
Foi também feito um inventário participativo da herança cultural que, com o apoio das colectividades e populações das localidades da freguesia, permitiu um maior conhecimento da história e tradições e o levantamento do património material e imaterial atouguiense.
Desde 2010 que a antropóloga Raquel Janeirinho começou a contactar com as pessoas da Atouguia da Baleia e a partir daí desenvolver o projecto de inventário participativo. “Começámos com tertúlias de proximidade, em que fizemos o mapeamento das várias intervenções consideradas de interesse patrimonial e fomos conversando sobre cada um desses locais”, contou a técnica superior de Antropologia daquele município à Gazeta das Caldas.
De acordo com a responsável, as pessoas reagiram bem à abordagem, tendo-se tornado uma experiência muito interessante e gratificante. Prova disso mesmo é que “quase toda a gente continua a participar e a conversar connosco”, explicou.
Com a abertura do Centro Interpretativo, e a exposição de todo o espólio recolhido, é feita uma “retribuição da participação das pessoas, através desta vertente museológica, sempre aplicada à comunidade”, salienta a jovem caldense.
Dado o sucesso do projecto, o objectivo passa por aplicar a mesma metodologia aos vários espaços museológicos existentes no concelho, bem como aos que pretendem criar. “Queremos que daqui em diante continue a ser utilizada esta museologia activa, participativa, que é a maneira de fazer crescer o seu conhecimento”, afirmou Raquel Janeirinho.
Espaço devoluto transforma-se em “casa de cultura”
Na inauguração do CIAB, o presidente da Câmara de Peniche, António José Correia, lembrou que o trabalho foi despoletado por uma tese de mestrado em Gestão do Património e Desenvolvimento Local. Seguiram-se os protocolos com a Fábrica da Igreja Paroquial de S. Leonardo e a Junta de Freguesia de Atouguia da Baleia no sentido de trabalhar para transformar aquele espaço numa “casa de cultura”. António José Correia destacou ainda o envolvimento da comunidade e referiu que aquele templo irá também integrar a rotas das igrejas de Peniche.
Rui Venâncio, responsável pela cultura na Câmara e aluno do Mestrado de Gestão Cultural da ESAD.CR, realçou que este é o início de um projecto “que está longe de estar terminado”. Lembrou ainda que, numa primeira parte, o importante era colocar a comunidade a reflectir sobre o seu património e tradições e que agora é o próprio centro que a vai receber nos eventos de natureza cultural e lúdica.
Na cerimónia actuaram os coros de Geraldes e Stella Maris, assim como o Grupo de Metais da Banda da Sociedade Filarmónica União 1º de Dezembro de 1902, que fez a sua primeira apresentação pública.
“De que é feito um museu?”
O Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia vai dinamizar, até final de Março, a actividade “De que é feito um museu?”, que permitirá uma visita orientada às diversas áreas deste novo núcleo museológico.
Acompanhados pelos técnicos, os visitantes ficarão a conhecer não só as áreas expositivas normalmente abertas ao público, mas também o backoffice do núcleo museológico, como é o caso das reservas técnicas, o laboratório de conservação e restauro e o centro de documentação.
Esta actividade terá lugar de terça a sexta-feira, às 10h00 e às 15h00. As visitas são gratuitas, com marcação prévia obrigatória, até um máximo de 20 pessoas por visita. As marcações poderão ser feitas através dos seguintes contactos 262758644, ciab@cm-peniche.pt ou www.cm-peniche.pt
O CIAB fica localizado no Largo de S. José, na Atouguia da Baleia.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt