
Eventos acontecem mensalmente na Arcacen Capeleira e Navalha
Nasceu, em fevereiro, um movimento que se reúne na Arcacen Capeleira e Navalha, onde a música é o elemento que une as comunidades de “expats” e de locais. Na tarde de 3 de setembro, voltou a acontecer.
“Communities Unite: Comunidades Unidas”, é o nome do evento que acontece no primeiro domingo de cada mês, em que atuam, pelo menos, duas bandas, sendo obrigatoriamente uma portuguesa e outra estrangeira. O projeto foi concebido por Joe Mac, de 50 anos, natural da Califórnia (EUA) e músico na banda Wild Flowers, e pelo inglês Richard Allen, de 57 anos, a residir permanentemente na Capeleira há dois anos, pertencente aos Booze Brothers. Os músicos aliaram-se para dar vida aos sonhos de “construir uma comunidade” do inglês e de “criar um cenário musical” na região do norte-americano.
“Este não é um evento apenas para expatriados. A nossa intenção é reunir todos, os portugueses e a multidão de ‘expats'”, explicou Joe Mac, que vive perto de Rio Maior há quase cinco anos.
Os encontros têm tido centenas de participantes, com o recorde a superar as 450 pessoas e estando a média situada nos 350 foliões, contou o inglês. Apesar da chuva, que obrigou a festa a realizar-se no pavilhão, esta edição não foi exceção. Participaram no evento cerca de uma centena e meia. A música foi dada pela Modest Midas, pelos Silver Coast Blues e pelos Dead Nelson Trio, tendo os Wild Flowers atuado de surpresa.
Não houve quem ficasse indiferente à música, com dezenas, de várias idades, a acorrerem à pista de dança, onde se travam amizades num ambiente de grande animação. “Notamos que este é um dos poucos eventos onde realmente vemos 90% das pessoas a levantarem-se para ir dançar, a misturarem-se e a falarem umas com as outras. Até agora na minha experiência em Portugal, só nas festas [populares] o vejo. Tem sido muito bom que estejamos a fazer o evento uma vez por mês, e não uma vez por ano”, comentou Joe. Richard concordou, acrescentando que, “para ser honesto, quando vamos a uma festa, quantos estrangeiros vemos? Muito poucos”.
“Penso que o Communities Unite dá à região Oeste algo que não existe em mais nenhum lugar em Portugal, que misture os portugueses e os expatriados e leve a animação e a dança”, sumarizou o norte-americano, destacando o desejo de inspirar outros grupos pelo país fora a adotarem o modelo de evento.
Joe Mac também partilhou também a vontade de se “integrar na comunidade portuguesa”, o que não foi fácil ao princípio, mas ganhou um novo fôlego através do evento. “Quando me mudei para Portugal, foi difícil integrar-me porque o meu domínio do português não é assim tão bom, e também não sabia da existência das associações. Apenas sabia de alguns pubs, onde conhecemos ingleses. Mas não sabia como interagir com a comunidade portuguesa. Por isso, este evento é bom os expatriados, porque estão num ambiente familiar com outros expats, mas também têm a oportunidade de interagir com os portugueses, e terão uma boa refeição portuguesa”, afirmou ainda. “A probabilidade dos estrangeiros se integrarem é bem maior se forem a uma associação, porque é gerida na totalidade por portugueses, do que se forem a um bar”, concluiu, com base em testemunhos que lhe chegaram de pessoas que este evento aproximou das suas associações locais.
Outro dos pontos positivos do Communities Unite é o facto de ter trazido visibilidade às bandas dos estrangeiros. “Nas festas, até agora, apenas se teria bandas portuguesas a tocar. Mas isso mudou, porque já lá tocámos, e outras estão a pedir-nos para tocar também”, salientou Richard, que pertence ainda ao grupo Silver Coast Strollers, que se reúne no pavilhão da Arcacen para jogar futebol, e cuja mulher lidera a equipa feminina congénere, que também já se expandiu para o netball, e que se dá pelo nome de Silver Coast Sirens. Trata-se de uma das únicas três equipas desta modalidade que existiam em Portugal, no princípio de 2023, a que se juntam três novas no início desta época, apurou o jornal “The Portugal News”.
A equipa organiza um grande torneio na Capeleira onde participam outras de vários pontos de Portugal, tendo a próxima competição data marcada para 25 de novembro e estando a receber inscrições. “Tudo isto veio do que estamos a fazer no Communities Unite”, destacou o inglês. “É isto que queremos alcançar: uma associação portuguesa a servir de base para uma equipa desportiva de estrangeiros. É um sinal de que a integração aconteceu.”
Richard e Joe conheceram-se nos encontros de Jukejoint, organizados pelo segundo, nos quais músicos eram convidados para subir ao palco e tocar livremente. “Foi isso que me levou de volta à música”, uma “paixão” que tinha ficado em stand-by desde a adolescência, destacou Richard, explicando que, de seguida, organizou um evento de ano novo para angariar fundos para o Alzheimer, a propósito do qual ele e a mulher criaram os Boose Brothers. “Teve tanto sucesso que depois as pessoas nos queriam contratar. Efetivamente, foi assim que nos juntámos aos Wildflowers.”
Os bilhetes para o encontro do Communities Unite custam três euros, revertendo o lucro totalmente a favor das bandas. “Um dos nossos princípios é querermos pagar-lhes razoavelmente. Com o dinheiro dos bilhetes, conseguimos contratar bandas de Lisboa [e não só] e pagar-lhes o que receberiam lá”, explicou Richard. “Se tivermos um dia melhor, conseguimos contratar bandas que normalmente não viriam ao Oeste”, completou Joe. Ademais, há churrasco por 15 euros, que revertem para a associação.
As edições têm apresentado estilos diversos, como os blues, o jazz, o rock ou um tributo aos Beatles por ocasião da coroação de Charles III, numa edição que incluiu um concurso e venda de bolos cujas receitas foram para o projeto “De volta a casa” de Joaquim Sá.
Em dezembro atuarão algumas das icónicas bandas que já subiram ao palco. Mais informações são anunciadas no grupo de Facebook “Communities unite”. ■