O pintor fez uma visita guiada a esta exposição constituída por telas inéditas

“Penas”, designa a exposição de pintura de Martinho Dias, patente na galeria do CCC até 19 de Abril. A não perder esta mostra, que foi criada para as Caldas e à qual não faltam referências da cidade. As telas são de grandes dimensões e não deixam ninguém indiferente

O pintor fez uma visita guiada a esta exposição constituída por telas inéditas

Abriu no sábado, 1 de Fevereiro, a exposição de Martinho Dias que começou a ser planeada há três anos. “Quis adiar, para criar obras de raiz para esta mostra”, contou à Gazeta das Caldas o pintor de Santo Tirso, formado nas Belas Artes do Porto e que trouxe grandes telas, inéditas, onde surge em realce o inusitado das mais diversas situações. Há, contudo, as mais diversas referências às Caldas, pois o autor colocou pratos, melancias, lagostas e repolhos, sugeridos por Bordalo Pinheiro nas mais diversas situações formais destacando, assim, situações paradoxais como um conjunto de homens vestidos formalmente que buscam algo importante em carteiras de senhora. Há um pianista que actua com um conjunto de louça suja em cima do piano ou um enorme repolho que está colocado numa sala de uma cimeira internacional. As propostas, repletas de ironia e de crítica social, não deixam de expor as fragilidades humanas e escolhas absurdas que por vezes fazemos e que nos levam à situação absurda de deliberadamente abraçar cactos.
Entre as obras conta-se ainda com o “Anjo Caído”, da série Corja que foi inspirada na obra homónima de Camilo Castelo Branco. Neste retrato surge o político que veio do interior do país para a capital do país e “que acabou por passar para o lado que ele tanto criticava antes”, referiu o artista, que ainda optou por deixar a pintura no chão para dar a real sensação de queda desta personagem alada.

Uma Babel, sem fronteiras

Além das pinturas de grandes dimensões e que vão povoar as paredes da galeria, há uma projecção de vídeo de Martinho Dias, situada logo à entrada do espaço. Mais uma vez, há ironia e contradição neste trabalho artístico, pois o autor uniu imagens turísticas de várias latitudes onde “se promovem praias e palmeiras e algum pedaço de um bairro pitoresco se esconde muitas vezes a miséria em que vive a maioria do povo”. Além das imagens com que se promovem os países, Martinho Dias quis também colocar notícias de jornais, postais e imagens dos canais televisivos oriundos dos diferentes países. “Nesta espécie de Babel, uni as diferentes línguas num aparente entendimento”, referiu o artista, sublinhando que neste vídeo, designado Pangea, onde quis esbater fronteiras.
Há imagens e textos de países como do Uganda, Irão, Austrália, Canadá, França Inglaterra, Alemanha, Costa do Marfim, Senegal, Portugal e Peru.
Para complementar as imagens, o artista contactou cantoras dos vários países e pediu-lhes para que colaborassem, cantando o hino do seu país. “Vi logo que não seria uma tarefa fácil”, contou o artista plástico, explicando que no processo teve que contactar com várias intérpretes e seus agentes. No processo, o autor deparou-se com “problemas, facilidades, simpatias e antipatias também”. A cantora israelita contactada informou que não participaria se fosse contactada uma palestiniana. Esta última teve reacção similar.
A intérprete cubana teve que desistir de participar neste projecto, pois um tufão arrasou o estúdio onde iria gravar o hino do seu país. A cantora que entoa A Portuguesa nesta Pangea é Amélia Muge.
“Penas” de Martinho Dias vai estar patente até 19 de Abril, na galeria do CCC.