Paula Veiga esteve no Museu do Hospital e das Caldas para apresentar o seu romance histórico “Rainha Perfeitíssima” que é dedicado a D. Leonor. A autora, que já escreveu duas obras sobre outras “Leonores”, diz que a fundadora das Caldas da Rainha “deixou-nos um imenso legado”.
Paula Veiga acha que a Rainha D. Leonor (1458-1525) deixou ao país “um legado imenso”. Disso se apercebeu quando começou a pesquisar sobre esta figura histórica a quem se deve origem das Caldas por causa do hospital que começou a construir em 1485.
A rainha D. Leonor era uma mulher rica, muito culta e tinha preocupações sociais, sobretudo com os mais desfavorecidos. Sabia latim e mandou efectuar traduções de livros estrangeiros, além de ter sido mecenas. No seu apoio às artes contam-se, por exemplo, encomendas de obras a Gil Vicente.
Paula Veiga considera que, apesar de tudo isto, D. Leonor foi esquecida pela História e por isso o seu livro “Rainha Perfeitíssima” é
“uma singela homenagem a esta pessoa que tanto nos deu”.
A autora diz que há uma dívida de gratidão para com esta rainha que
“foi a impulsionadora desta terra”.
O livro retrata a vida de D. Leonor ao longo de três reinados: o do marido, D. João II, do irmão D. Manuel I e de D. João III. Trata-se, pois, de uma obra biográfica e fundamentada em episódios históricos.
Foi escrita como se fosse um diário, na primeira pessoa.
“Achei que a maneira mais fácil de encarnar esta personagem era pensando pela sua cabeça. Ajuda a visualizar e a conduzir os acontecimentos”, disse Paula Veiga.
A autora é da Arruda dos Vinhos e é advogada de profissão. No entanto, a escrita é a sua paixão e este é já o terceiro livro que dedica a uma Leonor. As anteriores foram uma infanta portuguesa que viveu entre 1434 e 1467, filha de D. Duarte e que casou com Frederico III da Áustria, tendo assim chegado a Imperatriz do Sacro-Império Romano-Germânico. A outra Leonor foi a terceira marquesa de Távora. Além de ter escrito sobre esta última uma obra de ficção, o livro tem traços de romance policial, explicou a autora.
A sessão de apresentação de “Rainha Perfeitíssima” decorreu no Museu do Hospital e das Caldas e contou com apresentação do autor Paulo Pimentel, também de Arruda. Paula Veiga tem familia nas Caldas e, em miúda, vinha à cidade termal passar férias.
D. Leonor deveria ser uma das marcas das Caldas
Quem também estuda D. Leonor é a historiadora Isabel Xavier que tem pesquisado as representações da rainha ao longo dos tempos. A presidente do PH acha que a cidade deveria usar mais a sua fundadora como uma das suas marcas.
“Acho que as Caldas devia explorar mais a figura de D. Leonor como uma das marcas da cidade”, disse a historiadora à Gazeta das Caldas.
“Rostos para Leonor” é como se designa a apresentação que a historiadora fez em Maio na Universidade Sénior. A sua pesquisa consiste em localizar os retratos da Rainha feitos ao longo dos tempos. E há vários. Logo na edição da Vita Christi – obra que a rainha mandou imprimir em 1495 – surge uma gravura com o seu retrato, em frente ao marido, D. João II, em oração. Há outras obras que datam de 1500, como uma pintura da escola flamenca que foi oferecida à rainha pelo seu primo, o imperador Maximiliano em 1517, em que o retrato de D. Leonor foi pintado à posteriori, depois da obra ter chegado ao Convento da Madre de Deus. É neste local que a rainha, viúva, vai viver em clausura, após a morte do marido, em 1495.
Já o Museu do Hospital e das Caldas guarda uma grande pintura de Domingos Lopes, que data de 1657, em que a monarca surge de hábito num momento em que se celebrava o fim das obras do Hospital Termal das Caldas.
Em 1924, José Malhoa imagina como seria a Rainha e pinta-a muito bela e cheia de formas. O pintor “chegou a ser criticado por ter retratado a rainha de forma tão exuberante. É um retrato muito interessante mas totalmente livre”, disse a investigadora. A obra foi oferecida pelo pintor à cidade, o que acabou por dar origem à colecção do Museu Malhoa.
Há também estátuas da época do Estado Novo que caraterizam a rainha como a de Francisco Franco, que se encontra na entrada da cidade, feita em 1935.
A sala de audiências do Tribunal das Caldas acolhe um tríptico de grandes dimensões de Lino António, feito em 1959, onde se encontram pintados momentos da fundação do hospital e das Caldas.
A caracterização da Rainha D. Leonor prossegue até aos dias de hoje. Podem ser apreciados os seus rostos em obras de Ferreira da Silva e de Armando Correia em espaços ao ar livre como o Jardim de Águas ou os Paços do Concelho. Também o Teatro da Rainha tem o seu símbolo retratando D. Leonor, assim como a autarquia criou um novo logotipo com o seu retrato.
Para Isabel Xavier, a rainha é uma figura completa: “vejo-a como construtora de cidade. Há poucas terras que têm um momento de nascimento tão determinado como as Caldas”. Na sua opinião, D. Leonor, em vez de ter edificado um hospital para servir a população de uma cidade, “fez nascer uma cidade que tornasse possível o pleno funcionamento daquela unidade”. N.N.