Formou-se na ESAD.CR e expôs em Joutsa. Foi vítima de AVC mas não se deixa abalar por isso
Daniela Reis é da Marinha Grande mas vive nas Caldas há sete anos e formou-se na ESAD.CR em Teatro.
Tem 38 anos e foi aos 21 que sofreu o AVC enquanto estudava e acabou por usar as técnicas teatrais para recuperar das consequências do AVC.
A autora esteve durante dois meses em residência no centro de artes Haihatus, que fica em Joutsa, na Finlândia, uma experiência financiada pelo Goethe Institute através do programa europeu de mobilidade de artistas, Culture Moves Europe. No final da residência, Daniela Reis foi convidada pelo diretor e músico Risto Puurunen a expor o trabalho.
Convidou-a também a participar na 25ª Exposição de Verão do Centro de Artes Haihatus. A proposta de Monochromatic View é, em grande parte, sobre integração. Joutsa é uma cidade no centro da Finlândia “onde vivem refugiados de várias nacionalidades”.
Inspirada por esta riqueza cultural Daniel Reis realizou “11 retratos em ponto-cruz, um deles 2m x 2,50m, 10 dos quais estão em exposição”, contou a artista à Gazeta das Caldas, acrescentando que tem estado desde março a trabalhar neste projeto artístico .
Também participou no festival SLURPS – Novos Palcos para Arte Contemporânea para a qual concorreu com uma performance criada em Portugal designada Auguri! (Agouro) que estreou a 5 de julho, em Joutsa, e contou com a participação de dois artistas finlandeses. “O meu trabalho reflete sobre a fragilidade, a noção de tempo, a resistência e o amor”, disse a artista que trabalhou estes temas em Auguri! (Agouro).
“O facto de habitar um corpo não-normativo será sempre o ponto de partida para as minhas criações”, disse a autora que parte do facto de ter sofrido o AVC, algo que a obrigou a começar tudo de novo. A artista está a trabalhar numa nova performance “que tem uma narrativa será mais crua, sobre força e crueldade”.
A autora voltou aos palcos em 2022, com a Bodybuilders| Rafael Alvarez. Solos Multiplicados que estreou a 17 de março. Neste trabalho de dança contemporânea e inclusiva, “criei uma coreografia para uma bailarina normativa (e vice-versa), o que me desafiou, em grande parte, a sair da vergonha”, informou.
O lugar de co-criação “é rico para os diversos corpos, existe um espaço enorme para a vulnerabilidade e erro, o que exponencia a veracidade da criação”.
Daniela Reis vai continuar a apostar na vertente internacional pois “o olhar de artistas e público fora de Portugal é diferente e a disponibilidade das entidades também”. No geral, acha que o público “está receptivo e até curioso com estes trabalhos, mas será sempre uma luta por maior acessibilidade, mais oportunidades, mais apoio”.
Para a autora “voltar aos palcos é difícil. Felizmente, a persistência e paciência adquiridas com as circunstâncias e a idade ajudam-me a focar não no que foi perdido, mas no que se pode conseguir”. conclui. ■