Frida Baranek e Estela Sokol são duas artistas plásticas brasileiras que estiveram durante 10 dias no mês de Dezembro na Fábrica Bordallo Pinheiro a criar novas peças. São mais duas autoras que integram o grupo de “16 Artistas Brasileiros Bordalianos” e que se inspiraram na produção bordaliana para criar obras contemporâneas.
Estas novas peças – que têm vindo a ganhar vida nos últimos meses naquela unidade industrial caldense – serão postas à venda, numa série limitada e em simultâneo, no mercado português e brasileiro.
- publicidade -
Frida Baranek ficou surpreendida quando foi convidada para integrar este grupo de artistas. “É sempre um enorme desafio trabalhar com algo até então desconhecido e diferente daquilo com que você normalmente trabalha. Foipor algo que achei super-interessante”, disse a artista plástica de 50 anos que tem formação base em arquitectura.
A peça que está a trabalhar, conta, sem poder revelar muito mais, terá algo de Bordalo e de si “mas quero que seja uma peça utilitária para que as pessoas se possam identificar mais com a obra. Prefiro criar algo com uma função e não apenas uma peça que seja apenas decorativa”.
Vai usar elementos decorativos bem conhecidos da produção da fábrica. Até agora esta artista plástica que já viveu em Paris, Berlim e Nova Iorque, não conhecia a fundo a obra de Rafael Bordalo Pinheiro e por isso apreciou o conjunto de visitas ao espaço museológico da fábrica, ao Museu de Cerâmica tendo assim a oportunidade “de contextualizar a própria obra bordaliana e de ter oportunidade de ver como tudo é produzido na própria fábrica”.
Frida Baranek trabalha sobretudo com gravuras, esculturas e instalações e como aprecia o processo de fabrico industrial, trabalhar alguns dias na Bordallo Pinheiro é para a artista “como estar em casa”.
A autora está no momento a fazer o seu mestrado em design Industrial em Londres e por isso está experiência não poderia ter surgido em melhor altura. “Há aqui questões que interligam o design, a arte, os processo industriais e manuais que me interessa analisar”, disse a autora acrescentando que é uma oportunidade para analisar os limites do design e da arte nos objectos desta produção especifica. A autora de vez em quando coordena workshops, além de se dedicar ao seu trabalho artístico.
Frida Baranek gostaria de regressar às Caldas até porque ao visitar a localidade e os seus museus, “deu para entender o universo do que vê impresso na cerâmica e nos azulejos e o que vê em geral e que está retratado nas cerâmicas e deu para sentir um pouco o lugar e a relação do homem com a natureza”. A artista quer regressar até porque é confortável falar a mesma língua. Na sua opinião este tipo de experiências deveriam ser replicadas pois “trazer um artista ou um designer novo para dar uma nova visão, interpretação para o teu produto é importante para o designer e para a própria indústria”, disse.
A artista considera que Bordalo Pinheiro foi um artista que se identificou com a cerâmica e a usou como meio de expressão e que “deixou legado bastante particular que ainda hoje tem uma grande validade”. A autora considera que Bordalo tinha uma relação com a natureza muito forte, que ultrapassou várias dificuldades técnicas da própria tecnologia e que criou um sistema de trabalho que “a gente ainda vê hoje aqui a acontecer”. Frida Baranek referia-se ao aspecto de apesar da produção bordaliana ser hoje industrializada, ainda assim “tem muita finalização que é feita à mão”, referiu. Em resumo, a artista plástica considera que ainda hoje a produção da Bordallo “deveria ter ainda mais valor pois não é feita de qualquer maneira. Nota-se que há atenção, energia e um valor artístico muito grande nas peças que saem desta fábrica”.
“Acostumada ao ritmo das fábricas”
Estela Sokol, artista plástica de 32 anos, desenvolve o seu trabalho em S. Paulo, cidade onde nasceu. “Foi muito bacana quando recebi o convite de vir trabalhar aqui para a fábrica”, disse a autora que tinha
Estela Sokol é uma das autoras que pertencem aos 16 artistas brasileiros bordalianos
estado recentemente por terra lusas, a participar na Bienal de Vila Nova de Cerveira. “Foi pois uma enorme felicidade poder regressar a Portugal e de poder trabalhar com um novo material e diferente tecnologia”, acrescentou.
A artista que trabalha sobretudo com escultura em vários materiais – como as madeiras, a pedra, o granito e o acrílico – conta que é habitual trabalhar com fábricas pois precisa do trabalho industrial para o desenvolvimento das suas obras. “Os protótipos são desenvolvidos no atelier e depois encaminho o restante trabalho para a produção industrial, estou acostumada com este ritmo de fábrica”.
Na sua opinião, a proposta feita para pela Bordallo Pinheiro, “é algo diferente das Artes Plásticas pois a peça criada tem que entrar no dia-a-dia da fabricação”, comentou a autora referindo-se ao facto das peças criadas pelos artistas brasileiros terem uma série de 250 exemplares que serão vendidos nos mercados português e brasileiro em 2012.
Estela Sokol conta que hoje em dia um autor pensa que uma peça que crie tem que sobreviver não apenas ao atelier do artista, tem que durar durante a montagem de uma exposição e “tem que ser questionada a manutenção da peça”.
A viabilidade da produção da obra é algo que esta artista tem em conta no seu trabalho, assim como a própria resistência dos materiais.
O convite para vir trabalhar nas Caldas teve a aceitação da autora pela possibilidade de aproximação à indústria à qual se somou a questão da estética bordaliana. “O desafio foi o de desenvolver um diálogo entre a poética de Bordalo e o meu trabalho que é super geométrico nada tem de barroco. Foi tentar desenvolver algo que incluía as duas abordagens”, revelou a artista. Estela Sokol deixou-se encantar pelo lettring de Bordalo e decidiu trabalhá-lo na sua proposta.
Esta artista plástica adorou visitar a Casa-Museu S. Rafael e o Museu de Cerâmica, tendo gostado particularmente dos seus jardins. “É diferente ver Bordalo fora e nas Caldas da Rainha. Aqui pode ver-se o contexto do surgimento do seu trabalho, é aqui tudo se relaciona!”, disse a autora que se deixou encantar com as placas toponímicas feita na fábrica e que ainda existem nalgumas ruas da cidade.
Estela Sokol formou-se no Brasil, deu aulas e trabalhou em museus e institutos culturais. No seu trabalho explora a tridimensionalidade da cor pois nas suas instalações explora as relações entre a escultura e a pintura pois por norma os materiais que usa dialogam com superfícies brancas que reverberam a cor. A artista, que diz que quer regressar a Portugal, considera que Bordalo estava à frente de seu tempo, “era muito avançado para a época e tem todo um lado barroco que me agrada de imediato nas suas obras”.
Estela Sokol também aprecia as peças utilitárias e gosta de imaginar como é servida uma refeição com toda a produção bordaliana, de terrinas que são cabeças de animais e onde há legumes que dão as formas e cores às mais variadas travessas, pratos ou até cabos de talher. “Acho tudo o máximo e é pena termos perdido tradições culinárias dessa época onde podemos imaginar como era diferente sentar para comer”.
Para Elsa Rebelo a directora artística da unidade fabril das Caldas, que acompanha de perto a vinda dos artistas brasileiros, uma refeição com as louças de Bordalo “é hoje uma autêntica performance!”. A responsável destacou ainda como a faiança pode ter um carácter pedagógico dando a conhecer aos mais novos todos os pormenores de vários animais desde os pormenores de uma cabeça de um javali ou de um porco preto até ter a oportunidade de conhecer de perto as várias texturas de outros animais como, por exemplo, dos répteis.
Este website utiliza cookies para que possamos proporcionar ao utilizador a melhor experiência possível. As informações dos cookies são armazenadas no seu browser e desempenham funções como reconhecê-lo quando regressa ao nosso website e ajudar a nossa equipa a compreender quais as secções do website que considera mais interessantes e úteis.
Cookies Necessárias
As Cookies Necessárias devem estar sempre ativadas para que possamos guardar as preferências do utilizador relativamente às definições de cookies.
Se desativar este cookie, não poderemos guardar as suas preferências. Isto significa que, sempre que visitar este sítio Web, terá de ativar ou desativar novamente os cookies.
Cookies de Terceiros
Este website utiliza o Google Analytics e o Echobox para recolher informações anónimas, como o número de visitantes do sítio e as páginas mais populares.
Manter este cookie ativado ajuda-nos a melhorar o nosso sítio Web.
Por favor, active primeiro os cookies estritamente necessários para que possamos guardar as suas preferências!
Cookies de Marketing
Este site usa as seguintes cookies para analisar como é que utiliza o site para o podermos melhorar:
Microsoft Clarity
Por favor, active primeiro os cookies estritamente necessários para que possamos guardar as suas preferências!
Oi conheçam o meu blog de design sustentavel, obrigado.