O ceramista Eduardo Constantino, que vive e trabalha na Bretanha (França) voltou a ser convidado para fazer uma obra pública nas Caldas. A proposta partiu do presidente da Câmara, Tinta Ferreira, durante a inauguração da mostra “A Cor e a Forma”, a 14 de Outubro.
A exposição, que está patente no Museu da Cerâmica até 25 de Novembro, inclui obras deste artista e de Josselin Métivier, um jovem autor francês, que teve como mestre o ceramista caldense, numa modalidade formativa existente naquele país.
Gazeta das Caldas encontrou uma entrevista ao autor – publicada na edição de 13 de Setembro de 1978 – e reproduz o que então o novel artista que se tinha instalado na Bretanha tinha para contar.
É nos jardins do Museu de Cerâmica que se trocam dois dedos de conversa, antes da inauguração da mostra. “Matam-se” as saudades de Eduardo e Nadine Constantino dado que o regresso outonal à terra natal do mais internacional dos ceramistas caldenses é sempre um momento importante, desta vez, assinalado com a realização de mostra “A Cor e a Forma”.
Entre os muitos presentes estiveram o presidente da Câmara Tinta Ferreira e a vereadora da Cultura, Maria da Conceição, naquele que foi o último acto oficial do anterior mandato, conforme referiu o edil caldense. Tinta Ferreira convidou o artista para criar uma obra de arte pública, num projecto idêntico ao que já tinha sido pedido ao autor quando Fernando Costa ainda liderava a Câmara das Caldas e que nunca foi concretizado. Sem querer adiantar mais pormenores, dado que agora vão ser iniciadas as conversações, o autarca quer que a obra se possa desenvolver ao longo deste novo mandato.
“Faria sentido que a peça estivesse pronta até 2020, quando formalizarmos a candidatura a Cidade Criativa do Unesco”, disse. O artista apenas comentou sentir-se honrado com este novo convite.
Para “A Cor e a Forma” Eduardo Constantino trouxe peças de grande envergadura, em grés e porcelana, que resultam das suas experiências e constante investigação no que diz aos vidrados. São surpreendentes os tons que consegue obter nas altas temperaturas e no uso dos vidrados aos quais se unem metais. São efusivos os vermelhos, azuis e os amarelos, tons predominantes nas obras desta mostra e que merecem visita demorada.
As suas peças dialogam com as de Josselin Métivier (1990) que se formou na Escola Superior de Pivaut de Nantes e que fez o estágio criativo com o ceramista caldense. Este estágio muito comum naquele país, no atelier de um artista consagrado como Eduardo Constantino. Tem a duração de dois anos e segundo o ceramista
“foi muito fácil trabalhar com o Josselin” o seu pupilo, normalmente levantava-se às cinco da manhã para começar a trabalhar quatro horas antes do mestre ceramista. Além do mais
“ele é um excelente desenhador e matemático”, características essenciais para trabalhar em cerâmica.
Eduardo Constantino fez questão de sublinhar que as obras que Josselin trouxe às Caldas já foram feitas no atelier do jovem autor onde este produz desde 2014 obras em cerâmica, escultura e pintura. Do seu currículo já faz parte a selecção para concursos internacionais, como Keramikmuseum Westervald de Hohr-Grenzhausen (Alemanha), a Bienal Internacional de Manises (Espanha) e o Festival Europeu das Artes Cerâmicas de Saint-Quentin la Poterie ( França).
E se Eduardo Constantino é mestre na cor e no abstracto, Josselin trabalha as mesmas cores mas aposta no desenho, com muitas referências ao quotidiano, algumas até divertidas.
O mais internacional dos ceramistas caldenses
O caldense Eduardo Constantino (1948) é um dos mais internacionais artistas portugueses. Interessa-se pela cerâmica, após um percurso pela pintura. Aprendeu a trabalhar cerâmica com Guilherme Barroso, oleiro com quem trabalharam, no Estúdio SECLA, grande nomes das artes plásticas dos anos 1950 e 1960.
Em 1976 muda-se para a Bretanha onde cria raízes e, mais tarde, em 1991, viria a construir o seu próprio atelier.
O trabalho deste ceramista caldense tem sido reconhecido ao mais alto nível internacional, com referências em prestigiadas publicações do sector como ‘La Revue de la Céramique et eu Verre’ e ‘The Studio Potter’.
Eduardo Constantino é presença regular em grandes certames de cerâmica artística promovidos por museus e galerias inglesas, francesas e holandesas.
O caldense está representado em importantes coleções particulares. Em Portugal tem obras nos acervos do Museu de Cerâmica, no Museu Nacional do Azulejo e na Fundação Cargaleiro. Coleções públicas em França, Alemanha e Itália também dispõem de trabalhos de Eduardo Constantino.
Uma entrevista com Eduardo Constantino – um artesão cerâmico caldense
Instalado há um ano na Bretanha, Eduardo Constantino deu uma entrevista à Gazeta das Caldas que foi publicada na edição de 13 de Setembro de 1978. Nesse trabalho perguntava-se ao autor por que tinha escolhido desenvolver a sua actividade por terra gaulesas. No início contou que foi “por motivos pessoais” mas passado um tempo admitia que o seu trabalho estava a ser conhecido e que as dificuldades que encontrara no início “tinham desaparecido”. O ceramista dizia então que em França tinha mais acesso à informação cientifica relacionada com o trabalho em grês e que tinha outros autores na Bretanha que trabalhavam aquele tipo de argila, logo era mais fácil “poder debater progressos e dificuldades”. Também referia a influência de alguns autores japoneses como, por exemplo, de Hamada Kawai.
Naquela entrevista refere que já pertencia a duas associações, uma nacional (que reunia pintores, ceramistas e tecelões) e outra local que reunia os artistas e artesãos da Região de Lorient. Esta tinha sido criada em inícios de 1977 e contava com 50 artistas e artesãos. “Nesta associação temos instalações próprias onde expomos em permanência o que nos permite eliminar os intermediários”, disse o artista ao mesmo tempo que lamentava não ser possível expôr, como esteve previsto na então Casa da Cultura dado que o espaço se encontrava “em trabalhos de reparação”. Questiona-se o artista se aceita o convite de expor na sua terra natal no ano seguinte. “Não posso porque aceitei outras deslocações em França e para breve é-me impossível enviar peças para as Caldas”, tendo, no entanto, agradecido o convite da Gazeta das Caldas.