Escrever sobre mulheres esquecidas
Com três romances e quatro contos para crianças publicados, Brigida Gallego-Coin escreve sobre mulheres que foram esquecidas ou “mal tratadas” pela História, dando-lhes o papel de protagonistas. Um encontro em Granada, com a directora executiva do projecto Óbidos Cidade Criativa da Literatura, Celeste Afonso, resultou no convite para a residência literária na vila. A escritora e jornalista granadina chegou à vila no dia 29 de Dezembro à noite, depois de uma “viagem duríssima” e de ter-se perdido em Lisboa e sem bateria no telemóvel para pedir indicações.
“Surpreendeu-me passar o arco [entrada na vila], foi uma sensação impressionante”, conta a autora, acrescentando a monumentalidade do património e o cuidado com a sua limpeza. Brigida Gallego-Coin já regressou a Granada com a informação que recolheu em Óbidos, mas acredita que durante a escrita do romance irão surgir-lhe dúvidas que a farão regressar à vila.
Os seus livros têm sido publicados em Espanha, por editoras espanholas, mas a escritora entende que este livro deveria também ser traduzido e editado em Portugal. À Gazeta das Caldas, a autora disse que escreve para fomentar o espirito curioso e que tenta fazê-lo de uma forma acessível para todos.
Brigida Gallego-Coin reconhece que o trabalho que tem pela frente é árduo, mas não se mostra preocupada. “Sou jornalista, estou habituada a lidar com o stress”, remata.
Mais residências literárias
A escritora espanhola é a quarta a fazer residência literária na vila. O primeiro foi o brasileiro João Paulo Cuenca, que nunca chegou a publicar uma obra resultado da estadia, tendo-se ficado por crónicas onde falou de Óbidos nos jornais brasileiros. Seguiram-se outros dois escritores brasileiros, João Santos, que escreveu sobretudo poesia e trabalhou com as escolas de Óbidos, e Marcela Dantés, que escreveu um livro que aguarda edição.
Em Março virá para Óbidos durante um mês um poeta granadino, no âmbito de um protocolo entre o município e a Fundação Garcia Lorca.
Celeste Afonso, directora executiva do projecto Óbidos Cidade Criativa da Literatura, gosta da escrita de Brigida Gallego-Coin e do seu trabalho, sobretudo com a obra “Juana la Loca – La Reina que nadie amó”. A responsável salienta que um dos objectivos da vila literária é que os escritores que façam residência em Óbidos possam editar os livros na sua língua, mas também ter a tradução em português.
Neste momento há apenas uma casa afecta à cidade criativa da literatura, mas estão a ser pensadas outras dentro da vila para o mesmo propósito. Recentemente a UNESCO elaborou uma lista com todas as residências das cidades criativas e Celeste Afonso acredita que após a publicação desse mapeamento haverá mais interesse por parte de escritores, pelo que será necessário aumentar estes espaços para dar resposta à procura.
A responsável explica que, ao contrário de outras cidades da literatura, que têm obras ou autores associados, Óbidos tornou-se cidade criativa da literatura com “uma dinâmica de lugar” criando uma rede de livrarias e promovendo eventos em torno da literatura.
Em 23 de Abril Óbidos vai acolher um encontro de todas as casas e fundações existentes no país ligadas aos escritores portugueses, a fim de promover um trabalho em rede.