Faleceu a 4 de Outubro João Saavedra Machado (1932 – 2014) que foi o segundo director do Museu de José Malhoa e o primeiro director do Museu Dr. Joaquim Manso (Nazaré).
Gazeta das Caldas recolheu a opinião dos dois actuais coordenadores dos espaços museológicos e publica ainda um texto da anterior directora dos três museus oestinos, Matilde Couto, que trabalhou com Saavedra Machado durante vários anos.
Saavedra Machado era licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas e após o estágio de conservador de museus, ingressou no Museu Etnológico do Dr. Leite de Vasconcelos (Lisboa) onde desempenhou funções técnicas, de 1954 a 1972, ano em que assume a direcção do Museu José Malhoa. Logo nessa altura foi-lhe pedido que ficasse a par da direcção do Museu Dr. Joaquim Manso, de cuja fundação, dois anos antes, tinha sido o principal impulsionador.
Em 1987 cessa funções como director do Museu de José Malhoa, assumindo integralmente a direcção do museu nazareno.
Segundo Doris Santos, coordenadora daquele museu, Saavedra Machado, fez uma intensa recolha junto da comunidade piscatória e da região da Nazaré, através de entrevistas, trabalho de campo e proximidade à comunidade, dando corpo a uma colecção organizada em torno da etnografia, da arqueologia e da arte, que representa aquela vila na sua relação com o mar e a pesca.
O Museu da Nazaré abriu portas ao público em 6 de Junho de 1976 e Saavedra Machado seria seu director até aos inícios dos anos 1990, quando se aposentou.
Saavedra Machado escreveu a história do Museu Dr. Joaquim Manso, um trabalho que tinha mãos quando morreu.
Também Carlos Coutinho, actual coordenador dos museus Malhoa e Cerâmica, expressou reconhecimento pela acção dinamizadora de Saavedra Machado no museu caldense.
N.N.
“Valorizou, desenvolveu e projectou para o exterior o Museu de José Malhoa”
Quando, em 1972, o Dr. João Saavedra Machado assume a Direcção do Museu de José Malhoa vem suceder nessas funções a António Montês, fundador da instituição. É uma responsabilidade que respeita e toma com honra e como missão, através do estudo e de uma dinâmica de acção cultural que imprime e desenvolve, em torno da figura tutelar de José Malhoa.
São vertentes orientadoras do programa de Saavedra Machado que assim promove edições que aprofundam o conhecimento das colecções e homenageiam o fundador – “Roteiro do Museu” (1974) ou a reedição de “Malhoa Íntimo”, de António Montês, com estudo introdutório acerca do autor; impulsiona grandes exposições – “Expo Caldas 77 – Retrospectiva de Cerâmica” (1977), na origem do Museu de Cerâmica, “Artistas do ‘Grupo do Leão’. Exposição do Centenário” (1981), “Malhoa, Pintor de Retrato” (1983) –, fundamentadas pelo estudo aprofundado das temáticas e documentadas pela publicação dos catálogos; contribui para a investigação e valorização do património cultural – Colóquio “Caldas da Rainha, um Património a Renascer” (1981), exposição “Belchior de Matos (1595-1628), Pintor das Caldas da Rainha” (1981), investigação de Vítor Serrão, exposição “Azulejos do Hospital Termal das Caldas da Rainha. Séculos XVI-XVII” (1987), resultado da sua própria investigação – e numa intervenção consequente a nível local e regional; cria um novo Serviço Educativo do Museu; desenvolve programação cultural regular, com destaque para ciclos de conferências e para a música, que trouxeram ao Museu de José Malhoa e à cidade nomes destacados a nível nacional e internacional; não descurou os artistas contemporâneos – exposições de João Fragoso (1972, 1985), “III Exposição dos Artistas Caldenses” (1983), com itinerância no País e em França – ou mesmo relações mais longínquas, como a exposição “Cerâmica de Shek Wan” (1986); empenhou-se na beneficiação do edifício, no enriquecimento e valorização das colecções e na sua actualização possível; pugnou arduamente por uma ampliação do Museu que o dotasse de novas valências.
A actuação do Dr. Saavedra Machado em prol do Museu José Malhoa revela-se fundamental na sua história institucional. Factor de desenvolvimento sistemático num importante período social e político, potencia a vocação de Museu de Malhoa e do naturalismo português, onde a cultura acontece, não só a nível das artes visuais, mas como charneira para outras disciplinas e para outras épocas, uma instituição geradora de cultura e abrangente de todos os públicos. É uma expressiva afirmação da obra de Montês pela via da dinâmica cultural polifacetada, da intervenção patrimonial e de uma projecção nacional e internacional, afirmação e crescimento protagonizados por Saavedra Machado, personalidade da nossa cultura, da história e da museologia portuguesa, que, de 1972 a 1987, dirigiu com oportunidade e modernidade, valorizou, desenvolveu e projectou para o exterior o Museu de José Malhoa.
A minha homenagem ao Homem, ao Museólogo, ao Estudioso e à sua Obra.
Matilde Tomaz do Couto