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O premiado escritor Salman Rushdie estará hoje (30 de Setembro) à noite no Folio para apresentar a sua obra mais recente. A elevada procura de bilhetes para esta sessão já levou a organização a ter que alterar o local, aumentando assim o número de espectadores. O último dia, 2 de Outubro, contará com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que ao final da tarde estará à conversa com o director do JN, Afonso Camões.
O festival, que arrancou a 22 de Setembro, contou logo no primeiro dia com a presença do nobel da literatura, V.S. Naipaul, que, perante uma sala lotada, explicou que escreve para compreender o mundo que o rodeia.
O festival internacional que promove o encontro entre leitores e escritores conta com cerca de 250 eventos ao longo de 11 dias.

 

 

Os sons dos adufes de Idanha-a-Nova ecoaram à entrada da vila de Óbidos, na tarde de quinta-feira (22 de Setembro) dando as boas-vindas aos visitantes do Folio. “Uma utopia que se materializa”, como referiu o presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado, chamando a atenção para esta aproximação de culturas, potenciada pela distinção da Unesco, que elegeu, no mesmo dia, Idanha como cidade da Música e Óbidos como cidade da Literatura.
Esta aproximação de culturas tem continuidade por toda a vila. Na Casa da Música, Afonso Cruz criou uma sala intimista, onde as fotografias procuram retratar as “nossas” memórias e identidades e, logo defronte, no Padrão Camoniano, uma réplica das “Tentações de Santo Antão”, de Bosh (no ano em que se assinala cinco séculos da sua morte), surpreende os visitantes. Junto ao tríptico do pintor holandês são também dadas aulas e explicações pelos curadores do Museu da Arte Antiga.
Filipe Seems, o personagem criado por António Jorge Gonçalves e Nuno Artur Silva “vive” por estes dias na Capela de S. Martinho e mostra a todos quantos ali vão a sua visão sobre Lisboa. Poucos metros à frente, é o bailarino e coreógrafo Rui Horta, quem convida a entrar na Igreja da Misericórdia e a conhecer “Lúmen”, uma resposta ao desafio colocado pelo Folio para falar de Utopia.
O artista, que concebeu a instalação propositadamente para o local, “despiu” a igreja de praticamente todos os seus ícones, deixando apenas “o espírito do lugar”, como explicou na inauguração. Em lados opostos do templo estão duas telas gigantes onde, de um lado é projectado um vídeo de uma ruína em Sagres, e do outro, água a correr. Pelo meio muita luz, tudo a convocar a “imaterialidade para a experiência do visitante”, refere o autor.
Nos jardins do Óbidos Lounge, uma tenda gigante recebe escritores e, em certas alturas, transforma-se em sala de cinema, onde são projectados filmes, como o recente “Cartas de Guerra” de Ivo Ferreira, o “Homem Duplicado”, de Denis Vileneuve, “As casas não morrem”, de Pedro Macedo ou “Opera do Malandro”, de Ruy Guerra.
Logo no primeiro dia a casa encheu-se para ouvir Mega Ferreira dar uma aula sobre D. Quixote, o personagem de Cervantes que apesar de pertencer à nobreza “nunca lhe deram privilégios para ir muito longe, a não ser na imaginação”, contou o especialista.

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Livros que se comem

O cheiro a pão quente que sai da Capinha de Óbidos não deixa ninguém indiferente. Mas o mais curioso é que do forno a lenha desta padaria saem livros cozinhados…  e que se comem. Anabela Capinha responde ao desafio The Cooked Book Project, desenvolvido pelo Vila Joya e a Ivity.
Dentro da massa crocante e polvilhada de sementes, esconde-se um livro de fotografias que documentam as criações do chef Dieter Koshina (duas estrelas Michelin) e da sua equipa deste restaurante boutique de Albufeira.
Marita Barth, assistente da directora do Vila Joya, Joy Jung, garante a qualidade e a durabilidade do original produto, até porque a massa não leva fermento. Um regalo para os diversos sentidos, o livro que celebra a literatura e a gastronomia está à venda em diversos pontos da vila, custando 19 euros simples, ou 33 euros cozinhado. Para breve está prevista a edição grelhada.
Presente em Óbidos o australiano Dieter Koshina, partilha a sua criatividade gastronómica no lounge do Vila Joya, situado  no dos terraço  da Galeria do Pelourinho. Aí pode também ser provado o cocktail Folião, uma receita secreta feita para o Folio e à base de Licor Beirão.
No muro da entrada da vila, várias fotografias de grande dimensão, convidam a conhecer este projecto de “fazer criar água na boca”.

A arte de dois Josés

O trio de músicos nordestinos “Solapada” conduziu as pessoas ao Museu Abílio. Lá dentro, aguardavam-nas “O Lagarto”, uma exposição de xilogravuras que junta as palavras do Nobel português José Saramago ao traço do artista brasileiro J. Borges. A curadora da Folia, Anabela Mota Ribeiro, destacou que esta é a mais a importante exposição, de entre um conjunto de 15, que estão patentes ao público em simultâneo em Óbidos.
O mentor do projecto foi o argentino Alejandro Garcia Shenetezer, que disse que a obra não tem apenas a particularidade de juntar as palavras de Saramago e desenhos de Borges. mas também a de simbolizar a devolução às origens, da madeira levada para o Brasil pelos portugueses e que agora volta em forma de arte.
O lançamento mundial do livro e da exposição foi em Óbidos e a mostra irá depois percorrer outros lugares de Portugal e até outros países, como o Brasil no início do próximo ano. Pilar del Rio, viúva de Saramago , falou do encontro entre dois Josés (Saramago e Borges) que se admiravam mutuamente e que esta exposição, no “coração” de Portugal é um presente para o artista brasileiro, de 80 anos.
Nos pisos -1 e -2 do mesmo museu está a exposição “Utopia, hoje”, onde a “Mensagem” de Fernando Pessoa e a “Jangada de Pedra” de José Saramago são interpretadas por jovens artistas plásticos, com a curadoria de Ana Matos, que é neta de José Saramago.
Também de José Saramago é o “Conto sobre a Ilha Desconhecida”, que deu origem ao espectáculo de teatro apresentado, todos os dias entre quinta e domingo,  no decorrer do festival e prosseguindo depois em digressão. A Fundação José Saramago e a Trigo Limpo Teatro ACERT de Tondela (que o ano passado trouxe a Óbidos a Viagem do Elefante), co-produziram propositadamente para o Folio esta peça que fala sobre uma mulher da limpeza e um homem que queria um barco.

Naipaul: o Nobel que encara a escrita como missão

Prémio Nobel da Literatura em 2001, e actualmente com 84 anos, V.S. Naipaul esteve em Óbidos na primeira noite do festival e falou da sua vida e dos livros. Afirmou ainda ter o mesmo prazer a escrever e que sente necessidade de o fazer, como forma de evitar o silenciamento.
“O que acontece, quando temos uma certa idade, é que estamos a ser empurrados para o silêncio. A forma de o evitar é escrevendo cada vez mais”, disse ao jornalista José Mário Silva, que conduziu a conversa.
Com cerca de 30 livros de sua autoria, V.S. Naipaul disse também que escreve para compreender o mundo que o rodeia e que a utopia (mote deste festival) não significa nada para ele.
Não sabe responder do que o mundo precisa e considera “tola” a idéia das pessoas terem sempre visões importantes sobre esse assunto. De resto, o escritor evitou sempre que pôde as perguntas difíceis e, por várias vezes, disse ao jornalista: “Não sei se era isto que querias saber…”
Naipaul encara a escrita como uma missão e sempre pensou que iria ser escritor. “Penso que é um pouco vago pensar que quis fazer isto toda a minha vida, mas foi assim e sinto-me afortunado por ter começado esta carreira”, referiu o autor que tenta ser justo com o seu trabalho.
Um dos grandes “mistérios” da escrita é o de descobrir assuntos para escrever. “A pessoa é que deve ir avançando até que, de forma milagrosa, sentir que está à vontade com o seu material”, disse, reconhecendo que essa é a parte mais difícil.
Sentada na primeira fila estava a mulher, Nadira Naipaul, que por várias vezes o ajudou nas respostas, como aconteceu quando questionado sobre o que escreveu sobre o colonialismo português, que viveu de perto e que ainda hoje lhe é um assunto difícil.
De uma sala cheia vieram algumas perguntas, como que livros e escritores está a ler. Os clássicos, foram a resposta, especificando autores como Virgilio e Horacio, que gosta de ler em latim para exercitar a mente.
Ao longo de 59 anos de carreira, Naipaul nunca deixou um livro a meio. “Não seria um escritor se pudesse fazer isso. É assim que defino a minha carreira: acabo livros.”

Ilustradores homenageiam refugiados

Mais de duas dezenas de ilustradores de todo o mundo dão cor e fantasia à galeria novaOgiva, transformando-a no lugar das narrativas extraordinárias. A PIM! Mostra de Ilustração Para Imaginar o Mundo , um dos lugares mais aguardados do festival, abriu portas na tarde de sábado com os ilustradores a chamar a atenção para o drama dos refugiados.
A curadora do Folio Ilustra, Mafalda Milhões, destacou que pretenderam chamar a atenção para a realidade actual e que aquele pretende ser um lugar de homenagem a todos eles, mas em especial às crianças e famílias. “Seria a nossa utopia que eles encontrassem rápido o seu lugar e ficassem tão felizes como vocês estão felizes a olhar para esta mostra”, disse a curadora.
Centenas de obras adornam os três pisos da galeria, algumas delas figuras feitas em madeira e de movimento, que podem ser manuseadas pelo público, coabitando com textos de Afonso Cruz. Ao centro está uma obra tridimensional de André da Loba, suspensa no tecto da galeria e que o visitante só consegue ver na totalidade subindo os seus três andares.
Este ano a convidada especial é a ilustradora Jutta Bauer, que entre outras distinções, conta no currículo com o Prémio Hans Christian Andersen (2010), considerado o Nobel da Literatura Infantil. Feliz por estar em Óbidos, a ilustradora alemã agradeceu o trabalho de Mafalda Milhões e disse não estar habituada às luzes da ribalta. “O rosto do ilustrador é o seu trabalho”, disse.
Esta mostra conta também com Cachimbos & Cartas de Amor – exposição de ilustrações de Catarina Sobral.
A par da abertura da exposição decorreu a entrega do Prémio Nacional de Ilustração – que este ano faz duas décadas – a João Fazenda. Yara Kono e Bernardo Carvalho foram distinguidos com menções honrosas.
Presente na cerimónia, o secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado (que substituiu o ministro da  Cultura) começou por dizer que estava perante uma exposição “no mínimo, utópica”.
Referindo-se ao Fólio, o governante referiu que é “notável” o trabalho da autarquia e que “apesar da pouca idade, já é uma referência em termos nacionais”.
Miguel Honrado destaca este exemplo da utilização da cultura como valorização do território, que deve inspirar outros municípios, e revelou que a sua presença no local “é um sinal do apoio efectivo ao festival”. Destacou o excelente programa desta segunda edição, assim como o papel de Anabela Mota Ribeiro (curadora da Folia), “que é fundamental para o nível de qualidade que se atingiu nesta edição”.

Camané canta Tom Jobim

Sérgio Godinho, que trouxe consigo o pianista Filipe Raposo, lotou a tenda dos concertos. “Afinal sempre vieram”, começou por dizer, bem-disposto, para depois durante perto de hora e meia presentear o seu público com várias músicas do seu repertório.
“O acesso bloqueado”, “o galo é o dono dos ovos”, “Em dias consecutivos” e “Endechas a Bárbara escrava”, foram algumas das melodias entoadas pelo cantautor. Juntamente com Pedro Lamares declamou uma poesia e, mais tarde com a cantora Márcia, interpretou “Às vezes o amor” e “Dancemos no mundo”, esta última dedicada a todos os refugiados.
Após o alinhamento previsto, Sérgio Godinho ainda voltaria ao palco para dois encores e foi aplaudido de pé pelo público. Antes, em conversa, disse que era a primeira vez que estava no Folio, um festival que assina por baixo.
Para o próximo domingo, está previsto mais um grande espectáculo na tenda situada na cerca, desta vez com Camané a cantar Tom Jobim, um músico que sempre admirou desde que ouve música.
Ainda durante esta primeira semana também houve animação musical pela vila. Na tarde de domingo passado realizou-se um original concerto para piano e pincéis, interpretado pelo pianista Fernando Santos e os ilustradores Paulo Galindro (pincel-soprano) e Marc Parchow (trincha-tenor) para homenagear a Utopia de Thomas More e a ilustradora Jutta Bauer.
A performance durou mais de uma hora, período durante o qual dois ilustradores preencheram a tela e o próprio piano com ilustrações inspiradas pela música interpretada por Fernando Santos.
Também durante o fim-de-semana, decorreu nas ruas da vila uma performance inspirada na correspondência entre Pessoa e Sá-Carneiro, coordenada por Pedro Giestas e com a participação de várias pessoas do concelho.

A viagem inaugural do comboio do Fólio

AUTOMOTORA FOLIO
A chegada a Óbidos da automotora que transporta escritores e público para o festival | FÁTIMA FERREIRA

Estação do Rossio, linha 5. Uma automotora  decorada com os motivos do Folio, espera pelos passageiros que pouco depois das 10h25 de quinta-feira deixam a capital rumo a Óbidos na viagem inaugural do Comboio Literário.
Lá dentro há escritores, artistas, autarcas, muitos jornalistas e cidadãos anónimos que não quiseram perder a oportunidade de fazer o percurso de pouco mais de hora e meia num comboio cujas “paredes” estão adornadas com 12 pranchas de seis ilustradores portugueses. Lá dentro haverá também workshops e actividades de desenho em movimento e diários gráficos em fole para entreter, principalmente, as crianças durante a viagem.
Conceição Figueira e Suzete Carinhas, residentes em A-dos-Ruivos (Bombarral), fizeram questão de embarcar na aventura. Apanharam o autocarro de manhã para Lisboa e de lá o comboio literário de novo para o Oeste. A primeira edição do Folio deslumbrou as duas amigas, que quiseram logo “apanhar a primeira onda” desta edição.
De catálogo na mão e já com vários eventos sublinhados, querem aproveitar “tudo  o que for possível”. Conceição Figueira acha que se trata de uma iniciativa excepcional: “o ano passado foi um deslumbramento e acredito que este ano o será ainda mais”.
A conversa de Clara Ferreira Alves com Salman Rushdie, o espectáculo “A Ilha desconhecida” e algumas mesas redondas estão entre as preferências, além de, claro, o concerto de Camané, “onde trazemos a família toda”, revelam.
Entre as entidades oficiais, um dos passageiros foi a deputada do PS na Assembleia da República e presidente da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, Edite Estrela, que gostou da ideia. “Acho que o comboio é um meio de transporte muito cómodo, que permite aproveitar o tempo”, disse a política, destacando que esta foi uma viagem real, mas também simbólica que “está associada à descoberta da literatura, das artes e de tudo o que a fruição cultural nos pode permitir”.
Adepta da ferrovia, Edite Estrela viu com bons olhos esta iniciativa da autarquia, que pretendeu chamar a atenção para a necessidade de revitalização da linha do Oeste. “Acho que todo o investimento que for feito na ferrovia é produtivo”, disse à Gazeta das Caldas.
O objectivo dos autarcas do Oeste foi o de, através da cultura, alertar para a necessidade de requalificação da linha. Acabariam por “perder” o comboio os autarcas de Peniche, Nazaré e Caldas da Rainha, todos por impossibilidade de agenda. Também o presidente da Infraestruturas de Portugal, António Laranjo, chegou atrasado à estação do Rossio e não conseguiu embarcar. Uma situação que não se estranha visto que a antiga Refer tem agora a sua sede em Almada.
Humberto Marques, presidente da Câmara de Óbidos, realça que o comboio é mais cómodo para quem quer visitar o festival. “Permite que as pessoas possam fazer uma viagem despreocupada com estacionamentos ou com os caminhos a seguir até chegar a Óbidos”, disse.
Já o presidente da OesteCIM, Pedro Folgado, defende que a ferrovia tem que ser uma alternativa à rodovia, mas que para isso acontecer é necessário que esta se modernize. Os autarcas oestinos têm a promessa do governo de que o pretendem fazer, pelo menos até às Caldas, mas querem que a electrificação se estenda pela linha toda até à Figueira da Foz.
Além disso, querem que os comboios para o Oeste voltem a partir do Rossio, no centro de Lisboa, permitindo assim que muitos dos turistas que visitam a capital – e que se concentram na Baixa – possam depois deslocar-se de comboio para esta região.
A OesteCIM já pediu uma reunião com os novos responsáveis das Infraestruturas de Portugal para “para perceber como está o projecto [de modernização da linha] e dar a nossa opinião relativamente a algumas das questões”, referiu o também presidente da Câmara de Alenquer, aguardando agora pelo seu agendamento.

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