Ator e marionetista arrancou comemorações no Centro Escolar de Santo Onofre, com “Contos do Mundo”
Logo bem cedo, no dia 8 de abril, no Centro Escolar de Santo Onofre, o ator José Ramalho já se encontrava a preparar o espetáculo, “Contos do Mundo”. Funis, regadores, caixas de madeira, cestos de vime, rolos e escovas de vários tamanhos são alguns dos elementos que o marionetista utiliza para dar vida às personagens dos contos “A Princesa e a Ervilha”, “A Menina dos Fósforos” e “O Patinho Feio”, de H. C. Andersen (1805-1875).
“Este é um espetáculo icónico que vou fazer até ao fim da minha vida”, explicou o artista, enquanto ultimava alguns detalhes, segundos antes de entrar em cena.
Para José Ramalho, as histórias dos três contos interligam-se e falam sobre temas como ser diferente, o repeito pelo outro, a morte pela indiferença e ainda o renascer necessário nalgum ponto das nossas vidas. “Há sempre uma altura em que temos que nos reinventar”, disse o artista multidisciplinar, enquanto acertava as luzes dos projetores.
O espetáculo tem como base objetos do quotidiano e acaba por ser uma abordagem à arte contemporânea, pois mostra que os objetos utilitários “podem ser usados numa abordagem de espetáculo”. Segue-se o desempenho do ator, que tanto assume as falas das personagens como é o narrador de cada um dos contos.
A representação foi assistida pelas crianças do jardim de infância e da turma do 4º ano.
O ator repetiu a peça e teve na plateia os alunos do 1º, 2º e terceiros anos daquela escola. “Já conhecemos José Ramalho há alguns anos e ele costuma vir cá apresentar os seus trabalhos. As crianças adoram!”, garantiu Angelina Braz, a coordenadora do Centro Escolar.
Um ano de celebração
“Este ano faço 60 anos de vida e celebro 40 anos de profissão. É, por isso, um ano de afirmação e de assinalar estes momentos especiais”, disse o ator, que veio para as Caldas quando o CCC abriu, há 14 anos, ao ser convidado para ser diretor técnico do equipamento. “Foi um desafio irrecusável para qualquer profissional do mundo do espetáculo”, referiu o ator, natural de Lisboa, que inciou a vida profissional em 1982 numa companhia de marionetas da capital.
Hoje as Caldas já é a sua terra de adoção, pois foi construindo uma relação com as pessoas e com a cidade. “Já me sinto de cá!”, sintetizou José Ramalho, envolvido em vários projetos com a Universidade Sénior e outras escolas caldenses. Já trabalhou sobre o confronto entre São Jorge e o Dragão, num espetáculo de rua e que envolveu dezenas de pessoas. E no seu espetáculo “Branca de Neve e os Sete Pães” o pão transforma-se em matéria artística.
José Ramalho encarna com muita frequência a personagem de Rafael Bordalo Pinheiro. Fá-lo com mestria e, por isso, é convidado para marcar presença em vários eventos como mestre de cerimónias. “É uma figura histórica que interpreto com muito agrado, mas não o quero banalizar nem vulgarizar a personagem”, rematou o ator que, recentemente, foi desafiado a interpretar o Conde de Ourém.