O Misty Fest (festival que percorreu 16 salas de topo em todo o país) passou pelas Caldas e trouxe cerca de 500 pessoas ao CCC para assistir aos concertos de Gisela João (no sábado à noite) e de Maria de Medeiros (na tarde de domingo). Mas enquanto que a fadista quase encheu o grande auditório, a actriz, cineasta e cantora teve o público à conta para o pequeno.
O concerto de sábado, em que actuou Gisela João, trouxe mais de 300 pessoas ao grande auditório do CCC. A fadista mostrou-se uma artista ímpar e, no final, ficou perceptível a dificuldade que, tanto os críticos de música, como os jornalistas, tiveram para adjectivar esta voz única.
Uma noite inesquecível para os mais de 300 espectadores, também pela presença em palco desta pequena (mas apenas em tamanho) grande fadista.
A banda que subiu ao palco com Gisela João incluía ainda Ricardo Parreira, um caldense que toca guitarra portuguesa.
O público, durante o Malhão, aplaudiu e acompanhou a fadista que no final agradeceu ao CCC, ao público e ao Misty Fest, contando depois que os concertos que deu neste festival se traduziram em três dias espectaculares e que, num deles, celebrou o seu aniversário.
João Viola já conhecia a cantora portuguesa, mas gostou de voltar a vê-la. “Adorei, foi muito bom! Um grande concerto que valeu muito a pena” descreveu o espectador, salientando depois os arranjos musicais da artista.
Já Eduardo Pereira, que vive parte do ano na Foz do Arelho, já tinha ouvido Gisela João mais do que uma vez, mas, desta feita, não gostou particularmente. “Sinceramente, esperava mais. Ela tem fados bastante melhores do que os que cantou hoje” disse.
UM AUTÊNTICO CONCERTO DE MÚSICAS DO MUNDO
Já no domingo, apenas cerca de uma centena de pessoas se deslocou ao CCC para o concerto de Maria de Medeiros, entretanto alterado para o pequeno auditório por falta de adesão do público caldense.
Ainda assim, devem ter sido poucos mas bons, porque a artista destacou um “público óptimo, caloroso, inteligente num espaço cultural fantástico, com excelentes condições”.
Para além disso, este concerto ganhou uma vertente comemorativa por fechar esta tournée. “Foi uma grande emoção porque o meu pai, que nunca tinha visto este espectáculo, esteve presente” contou a artista.
Das Caldas a actriz, cineasta e cantora seguia, “a correr” para o Lisbon Estoril Film Festival, onde seria homenageada por Paulo Branco. “É uma emoção muito grande por poder mostrar vários filmes que nunca tive a oportunidade de mostrar ao público português”, afirmou.
Até ao Natal Maria de Medeiros dedicar-se-á a escrever dois guiões de longa-metragem para voltar à realização.
Como cantora apresentou, neste festival o seu álbum Pássaros Eternos, lançado em Fevereiro (o terceiro, depois de A Little More Blue (2007) e Penínsulas & Continentes (2010).
Para surpresa de muitos, que apenas a conheciam como actriz e cineasta, Maria de Medeiros apresentou um reportório bastante diversificado, indo do jazz ao flamenco, passando pelo blues, mas com um toque de bossa nova e com o seu quê de fado… Um verdadeiro concerto de músicas do mundo, cantado e falado em várias línguas (português, espanhol, italiano, inglês, francês…).
A artista apresentou temas originais e outros que lhe foram cedidos.
A espectadora Dulce Fernando contava, depois de ver o espectáculo, que este havia sido uma agradável surpresa. “Não conhecia, estava à espera de outra coisa, mas foi muito agradável”.
Já Manuel Dias veio de Lisboa para ver o concerto. Nunca tinha visto Maria de Medeiros cantar. “Foi a minha mulher que sugeriu que viéssemos cá e fiquei encantadíssimo”, afirmou. Na opinião deste lisboeta, “só foi pena não se conseguir fazer no grande auditório, mas pronto… Só perderam as pessoas que não vieram”.
CARLOS MOTA LAMENTA FRACA ADESÃO
No rescaldo do evento o director do CCC, Carlos Mota, insatisfeito com a fraca adesão do público ao segundo concerto, disse à Gazeta das Caldas que os caldenses “têm de fazer um pouco mais de esforço por usufruir e dignificar os seus espaços e afirmá-los como seu”.
O mesmo responsável lembrava que a vinda deste tipo de artistas tem criado vários embaixadores das Caldas, destacando ainda a sequência cultural que permite, “uma semana e meia depois do Caldas Nice Jazz receber o Misty Fest”. Quanto a esta iniciativa em concreto, “é um festival nacional com uma envergadura brutal” afirmou Carlos Mota.
Isaque Vicente
ivicente@gazetadascaldas.pt