Monumento a Humberto Delgado é uma das primeiras obras de arte pública feita em liberdade

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José Aurélio junto à sua obra que foi inaugurada há 40 anos | NATACHA NARCISO

A Cela Velha (Alcobaça) acolheu no domingo, 15 de Maio, uma cerimónia que assinalou os 110 anos do nascimento do general Humberto Delgado, no mesmo dia em que também foi atribuído o seu nome ao aeroporto de Lisboa. Durante a sessão assinalou-se a passagem do 40º aniversário da escultura dedicada ao general sem medo, da autoria de José Aurélio. Esta foi das primeiras obras de arte feitas por concurso público, já no pós 25 de Abril, e contou com os contributos materiais e financeiros da própria população da Cela. A escultura rompe com os cânones habituais das estátuas e ainda hoje, passados 40 anos, o seu simbolismo contra o medo e a opressão faz que esta se mantenha de “uma grande actualidade”, diz o seu autor.

A peça de arte pública que pode ser apreciada na Cela Velha, dedicada a Humberto Delgado, foi inaugurada em 1976 e foi das primeiras do pós 25 de Abril, “quando já se vivia em liberdade”, contou o escultor José Aurélio, autor da mesma.
A obra foi feita “por processos artísticos novos” e contou com um grande entusiasmo da população, o que permitiu que se fizesse uma peça gigantesca “praticamente sem dinheiro”, contou o escultor.

A obra principal foi feita em tijolo que depois se encheu de betão. No exterior há várias palavras que José Aurelio gravou no cimento – como “medo” e “repressão” – e que o próprio conta que lhe deixaram as mãos feridas durante a construção.
Hoje José Aurélio orgulha-se “da grande actualidade” desta peça que tem dois pólos: um que está na Praça da localidade da Cela Velha e outro situado num morro, próximo do centro. A obra é constituída por um elemento central com 10 metros de altura que surge entre “gomos” que representam as forças opressoras. Estas apresentam-se fragmentadas por esse elemento central, símbolo da liberdade.
A obra de arte pública foi inaugurada em Agosto de 1976 pelo então primeiro-ministro, Mário Soares.

Aeroporto

Humberto Delgado

Ao fim da manhã do dia 15 de Maio, em Lisboa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro, António Costa, participaram na cerimónia que rebaptizou o aeroporto de Lisboa com o nome do general, dado que Delgado foi um dos fundadores da TAP.
Já à tarde, foi no pavilhão da associação da Cela Velha que se assinalaram as efemérides relacionadas com o “general sem medo”. Na sessão – designada “Humberto Delgado, o 25 de Abril e a Liberdade” – reflectiu-se sobre várias vertentes da vida deste general que enfrentou a ditadura. Deram o seu contributo o coronel da Força Aérea, Domingos Pereira, a presidente da Associação Património Histórico, Isabel Xavier, a investigadora caldense, Joana Tornada, o conservador do Museu do Ar, Mário Correia e o cantor Manuel Freire.
O director da Gazeta das Caldas, José Luís Almeida Silva, deu o seu testemunho pois esteve presente na inauguração da obra.
Iva Vieira, responsável pelo Rancho Papoilas do Campo, contou à Gazeta que este evento serviu não só para homenagear o general como também o escultor José Aurélio, o autor da obra pública. Um dos impulsionadores da sua construção foi o seu pai, Joaquim Vieira.
A Sociedade Nacional de Belas Artes foi a entidade responsável pelo lançamento do concurso público.
“O peditório para a obra foi feito entre a população e os emigrantes da Cela Velha e todos contribuíram para a sua concretização”, disse Iva Vieira.
“É preciso defender as origens, os homens de valor e os grandes ideais”, afirmou a organizadora, acrescentando que em Agosto haverá um novo momento de celebração da grande obra dedicada ao general.
Até ao dia 18 de Setembro está patente na praça da Cela Velha a exposição “Fragmentos de Liberdade. Humberto Delgado e a Cela. 40 anos”.