Uma exposição, um laboratório para crianças, concertos e 30 ceramistas contribuíram para o êxito da segunda edição da Mostra Mercado de Cerâmica
Entre os dias 16 e 18 de junho, a cerâmica tradicional e contemporânea caldense voltou a ser rainha com a realização da Mostra Mercado da Cerâmica no Parque.
Ao todo, participaram 32 ceramistas e artesãos que mostraram e venderam as suas obras nesta segunda edição que abriu ao público na sexta-feira, 16 de junho.
A iniciativa começou com a abertura da exposição Coletiva dos Ceramistas da Mostra Mercado da Cerâmica onde estão presentes os vários tipos de peças desde as mais tradicionais às mais contemporâneas. A mostra, que contou com curadoria de Cláudia Henriques, também responsável pela Loja do Sr. Jacinto, vai continuar e poderá ser apreciada na Casa dos Barcos, até dia 9 de julho. “Quis que todos os autores tivessem o mesmo destaque e trazer um pouco do parque para o interior da Casa dos Barcos”, afirmou a curadora na inauguração. Conceição Henriques, a vereadora da Cultura das Caldas que pelo segundo ano aposta na Mostra Mercado, sucessora das anteriores Feiras de Cerâmica e que este ano teve como novidade o convite a mais duas cidades criativas da UNESCO que se reuniram à cidade termal.
“Se somos uma cidade criativa muito devemos à cerâmica”, referiu a autarca e para quem a cerâmica caldense para além de uma atividade antiga é sobretudo “um elemento de identidade, que distingue o nosso território”. A vereadora ainda referiu que Portugal tem nove cidades criativas e que a região terá as duas mais próximas: Caldas e Óbidos. E há a ideia futura para se constituir uma rede destas cidades. Conceição Henriques deixou ainda uma nota de agradecimento à anterior vereadora da Cultura, Conceição Pereira, por ter iniciado o processo de obtenção do título de Cidade Criativa da UNESCO para as Caldas.
Nesta inauguração, onde facilmente se reconhecem as peças pelas assinaturas dos seus autores, estiveram também a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Barcelos, Elisa Braga. A autarca estava satisfeita por estar nas Caldas já que a sua cidade tem o mesmo título que as Caldas, distinguidas pelas Arts and Crafts. E que também são cidades parceiras na Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica (AptCVC).
“No dia 30 de julho vamos estar as três cidades criativas em iniciativa em Barcelos e dois dias depois vamos para a Covilhã”, referiu a convidada, que veio acompanhada por dois ceramistas que trouxeram a sua cerâmica para este mercado. A Covilhã esteve representada na mostra mercado pela Associação Hand New Lab e a vereadora da Cultura, Regina Gouveia, destacou por exemplo os candeeiros feito de lã, da designer Ana Almeida e que marcaram presença no certame.
A cidade que foi um grande centro industrial têxtil que até chegou a ser apelidada de “Manchester portuguesa” mantém empresas têxteis que são referência a nível internacional e que dão novos passos relacionados, por exemplo, com o desenvolvimento de tecidos tecnológicos.
Este tipo de iniciativas, como a Mostra Mercado, “é necessário para dar espaço aos ceramistas e designers”, rematou a vereadora da cidade que foi a primeira do país a conseguir a designação de Cidade do Design, segundo a UNESCO.
Já no Parque das Bicicletas, a Mostra Mercado foi aberta pelo presidente da Câmara, Vítor Marques, que sublinhou o facto de ostentar o título de cidade criativa é um elemento distintivo das localidades e fez questão de sublinhar a diversidade de peças que os autores caldenses trouxeram para esta iniciativa desde as peças da cerâmica tradicional até às que têm traços mais contemporâneos.
Constatou-se a presença de muitos jovens da ESAD.CR e, claro, dos autores que há anos se dedicam ao seu trabalho cerâmico e que surpreendem o público com novidades a cada nova edição.
Pôr as mãos no barro
Um dos pontos mais procurados do certame ao longo dos dias foi o Laboratório de Experiências, dinamizado pelo Cencal. O espaço foi o mais procurado pelos mais novos que quiseram aproveitar a oportunidade de brincar com o barro e experimentar a roda de oleiro, sob a coordenação de formandas do Cencal.
“Passaram por aqui, pelo menos, 250 crianças que experimentaram a roda e trabalharam com moldes”, disse Renner Nunes, o diretor financeiro do centro de formação caldense.
“Várias pessoas pediram-nos para voltar a repetir a iniciativa. Notámos muito interesse por estes eventos junto dos mais novos”, acrescentou. Para Renner Nunes, “a cerâmica vive um bom momento e as instituições locais devem unir esforços para poder voltar a dar a importância e o destaque que a cerâmica merece”. Mas nem só de vendas e atividades viveu a Mostra Mercado. Ao fim da tarde e serão houve música e teatro de rua que ajudaram a animar compradores e vendedores.
O ceramista Filipe Faleiro participou pela primeira vez na Mostra Mercado e referiu que “foi muito bom” pois atraiu muitas pessoas de fora, portuguesas e estrangeiras. Muitas “ficaram muito surpreendidas com a qualidade das peças de cerâmica que temos para oferecer”. O artista crê que todos os participantes venderam e fizeram bons contactos. “Apreciei o facto de não ter aqui gastronomia pois quem veio foi para ver cerâmica exclusivamente”, rematou.
Mercado mais vezes no ano
Liliana Sousa, autora de Alcobaça, acha que foram dois dias de comunicação intensa com visitantes, muitos estrangeiros. Constatou-se que funcionou o passa a palavra pois o último dia do certame “foi ótimo em relação às vendas”. Para a autora “era bom que o evento pudesse acontecer mais vezes durante o ano”.
Para a ceramista Teresa Teodoro o segundo dia, sábado, “foi o melhor”. A autora já tinha estado na primeira edição e diz que as vendas foram idênticas ao primeiro ano. “Gostamos de mostrar o nosso trabalho mas é bom que haja compensação com vendas”, referiu a autora que tem atelier no Caldas Empreende.
Vítor Lopes que se dedica à cerâmica tradicional e malandra esteve pela primeira vez no Mercado e gostou da experiência. “Vendi algumas peças e tive um convite para ir para a Serra d’ El Rei”, contou.
De Barcelos vieram os ceramistas Inês Machado e Carlos Dias. A primeira trouxe peças de cerâmica tradicional como minhotas, galos, santos Antónios e alguns mochos, ao passo que o segundo ceramista trouxe peças de temática religiosa como Cristos, cruzes e presépios “mas com traços contemporâneos”, explicou o autor. Ambos consideram que valeu a pena vir às Caldas pois foi “uma experiência gratificante”. Segundo Carlos Dias este “é um modelo de feira diferente das nossas de Barcelos”. Na sua opinião aqui “há um público seletivo e vende-se apenas cerâmica”.
Os dois autores, oriundos da terra do figurado, esperam que as parcerias possam continuar entre as cidades criativas. A Covilhã, por seu lado, marcou presença com peças de autores ligados da Associação Hand New Lab e trouxeram produtos feitos com lã .
No final, a vereadora da Cultura ConceiçãoHenriques referiu que foi enriquecedor ter surgido esta aliança entre as três cidades criativas e que vai continuar a dar frutos. Sublinhou também o sucesso dos workshops paracrianças do Cencal.
“Temos margem para aumentar esta dimensão dos workshops da roda que podem ser alargados fora do âmbito da Mostra Mercado”, disse a autarca que constatou vários petizes fascinados e que queriam ficar mais tempo a fazer peças. “Manteremos também a aposta na música tradicional pois faz parte das artes populares e alia-se bem a este tipo de evento”.
Exposições para o Congresso
No próximo ano, as Caldas organizará uma exposição nacional de cerâmica enquanto que Alcobaça realizará uma mostra internacional.
As iniciativas decorrerão em setembro, altura em que vai decorrer o Congresso Mundial de Cerâmica da Academia Internacional.
Ainda em relação à Mostra Mercado, que custou 35,5 mil euros) o ficou por fazer este ano e que a autarquia quer retomar para o próximo ano foi o debate sobre o setor. Na primeira edição, houve um evento com o investigador João Bonifácio Serra, recentemente falecido. “Queremos voltar a incluir no próximo ano”, disse a vereadora que quer que a Mostra “vá dando passos seguros”. Depois da aposta na nível nacional com o convite às cidades criativas, “queremos apostar no âmbito internacional”, trazendo às Caldas o que se faz em cerâmica nas cidades geminadas. “Queremos ir construíndo um evento que seja significativo para os ceramistas e para a região”.
Alguns autores locais vão estar presentes em breve nos eventosde Barcelos e na Covilhã. Outros estarão no Argilla, em Aubagne (França), no mês de agosto. ■