A exposição da Associação de Cidades e Vilas de Cerâmica abriu portas no Museu do Vinho em Alcobaça, no passado sábado, e fica até abril. Posteriormente será apresentada nas Caldas e em Leiria
É na adega dos Balseiros, no Museu do Vinho de Alcobaça, que está patente a exposição “Cerâmica Portuguesa”. Causa impacto entrar num espaço onde gigantescas pipas de vinho servem de cenário para a mostra que integra obras de cerâmica de Norte a Sul do país e que abriu portas a 22 de janeiro.
Trata-se de uma iniciativa da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas (APTCVC) e que pode ser apreciada naquele espaço museológico da cidade, até 10 abril. Sendo itinerante, a mostra nacional vai seguir para as Caldas e depois para Leiria.
A mostra pretende dar a conhecer ao público a diversidade da produção de cerâmica (artesanal e industrial) das cidades e vilas cerâmicas portuguesas aderentes. A exposição não é exaustiva, apresenta uma a duas peças de cada município, e tem como principal objetivo mostrar alguma diversidade e riqueza do que se faz na cerâmica de Portugal. Alguns municípios optaram por escolher modelos mais tradicionais, outros contemporâneos.
Molde e Secla pelas Caldas
Das Caldas da Rainha estão presentes na mostra duas peças de fabrico industrial: uma terrina da Molde e uma jarra da Secla.
Alcobaça, por sua vez, está representada por duas peças: uma da Spal e uma outra das Cerâmicas S. Bernardo, fundadas nas décadas de 1960 e de 1980, respetivamente.
A inauguração da exposição contou com responsáveis de outros municípios como a vereadora da Cultura das Caldas, Conceição Henriques e o vice-presidente da Câmara de Tondela, João Antunes.
Durante a sessão, as duas autarcas do Oeste reconheceram que a proximidade geográfica dos concelhos e o desenvolvimento da área de cerâmica nesta região “pode levar-nos a unir sinergias”, referiu a anfitriã, Inês Silva.
Segundo a vice-presidente da Câmara de Alcobaça, a cerâmica “é um setor forte, que e pujante e muitas empresas exportam cerca de 95% doque produzem”.
A vice-presidente da Câmara deu, ainda, a conhecer que foram dez as fábricas que colaboraram no projeto Percurso Pedro e Inês em cerâmica de Alcobaça, que nasce de uma interpretação do episódio de Inês de Castro de Os Lusíadas, de Luís de Camões.
As 10 fábricas participantes traduziram em cada peça o universo literário, identitário e simbólico do amor de D. Pedro I e Inês de Castro – figuras imortalizadas no Mosteiro de Alcobaça e que podem ser apreciadas neste percurso camoniano que se estende ao longo do rio Alcoa.
“Este percurso, que conta com visita guiada, é feita por todas as turmas do 9º ano das nossas escolas”, contou a autarca.
“Queremos levar o setor da cerâmica mais longe e integrar de forma mais efetiva a nossa associação nacional na entidade internacional”, disse Inês Silva.
Entretanto, a cidade de Alcobaça vai receber a nova assembleia da APTCVC e tem prevista a apresentação dos novos órgãos sociais amanhã, sexta-feira, 28 de janeiro, também no Museu do Vinho.
Bom dia Cerâmica! em maio
Em preparação está a atividade Bom dia Cerâmica!, que vai acontecer em maio e que visa a valorização da cerâmica em cada uma das localidades da APTCVC. A esta entidade aderiram recentemente os municípios Condeixa, Porto de Mós, Leiria e Oliveira do Bairro e, em breve, também entrará o Fundão.
Segundo o secretário-executivo da APTCVC, José Luís Almeida Silva já há conversações com vista à adesão dos municípios de Vila Real, Castelo Branco, Estremoz, Loulé e Tomar. O responsável salientou o facto de Portugal ser um dos países mais ricos no que diz respeito à diversidade cerâmica, pois ainda possui “mais de 40 localidades onde se fez e faz cerâmica e onde ainda se guardam traços fortes deste setor”. Esta pujança surge de forma semelhante com a Itália, Espanha, Alemanha ou França, onde ainda há produção tradicional ou contemporânea e em contraste com outros países em que se perdeu a tradição.
O caldense recorda que a cerâmica deve ser vista nas suas várias vertentes, não deve ser só artesanal e de arte mas também a industrial. Lembrou ainda que Portugal é o segundo produtor mundial de cerâmica industrial, de mesa e decorativa, logo a seguir à China.
Na sua opinião, Portugal tem possibilidade de “criar um cluster para captar clientes mas também criadores”, disse acrescentando que há empresas em Portugal que estão a criar academias dentro das fábricas para captar estes projetos.
Barro preto de Molelos em NI
José Luís Almeida deu, ainda, a conhecer que Aveiro vai abrir o museu de Cerâmica relacionado com a Bienal Internacional de Cerâmica que organiza há vários anos e que Tondela vai lançar um projeto na aldeia de Molelos, que se dedica à olaria em barro preto.
Naquela localidade vai nascer um parque, onde a soenga vai estar em destaque. Trata-se de uma forma de cozer as peças na terra, fazendo uma cova que é depois coberta com terra e lenha.
A iniciativa daquele município vai ainda ter capacidade para receber estrangeiros que queiram experimentar práticas tradicionais de fazer cerâmica. As peças de barro preto não se dedicam apenas a produzir peças tradicionais e decorativas.
As olarias de Molelos têm clientes internacionais e já vendem, por exemplo, placas feitas em barro preto que se usam nas pizzerias no serviço à mesa. Ou seja, saberes tradicionais podem ser usados para peças contemporâneas e “que são muito apreciadas em Nova Iorque”, disse o secretário-executivo da associação.
João Antunes, vice-presidente da Câmara de Tondela, refere que estes projetos ligados são para continuar, pois para além da valorização do setor, também “valorizam o território, tornando-o mais competitivo”.
As entradas para a exposição, patente no Museu do Vinho são gratuitas e podem ser feitas de terça-feira a domingo entre as 10h00 e as 13h00 e das 14h00 às 17h00.