Serão 11 os núcleos distribuídos pelos vários pisos dos blocos B e C da fortaleza Peniche que irão contar a história do monumento e a sua importância enquanto prisão política. O guião com os conteúdos foi entregue ao ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, na sexta-feira, 27 de Abril, exactamente um ano depois de um conselho de ministros se ter reunido em Peniche. O governante diz que espera inaugurar o agora museu nacional dentro de um ano.
Beatriz Lopes, 21 anos, e Rita Raposo, 20 anos, são finalistas do curso de Gestão de Restauração e Catering na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar. Estão a passear junto à fortaleza numa sexta-feira à tarde, poucas horas depois de o ministro da Cultura ter anunciado o guião com os conteúdos para aquele que será o 15º museu nacional. Faz precisamente um ano que o governo reuniu aqui um conselho de ministros e Beatriz e Rita não escondem a sua surpresa: “nós estivemos aqui no ano passado a servir o catering quando estiveram cá os ministros!”.
As duas jovens acham bem esta ideia de um museu dedicado à resistência e à liberdade, mas confessam que não conheciam a história da prisão política. “Não sabíamos nada disto, só quando viemos para cá estudar é que nos contaram.”
Joana Completo é operadora marítimo-turística e diz que se a fortaleza vier a ser “um grande museu nacional e com aquilo tudo ocupado, então vai ser uma boa iniciativa e será muito bom para Peniche”. Na sua actividade, esta empresária dá-se conta que, para os turistas, além da visita às Berlengas, não há muito mais para ver na cidade e por isso acha que o futuro museu poderá ser uma atracção importante e até uma boa alternativa para quando o mar não permitir a saída para a ilha.
Joana Completo diz ainda que “o 25 de Abril passou por aqui e o 25 de Abril também aconteceu aqui, pelo menos foi o que me contaram, porque eu na altura não era nascida”, diz. Mas, como toda a gente em Peniche, também Joana já ouviu histórias e viu as imagens, agora célebres, da libertação dos presos políticos.
Já Fernando Afonso, 48 anos, empregado de mesa, diz que a fortaleza “foi um dos pontos da Revolução e deve ser lembrado”. Ele próprio se apercebeu dessa importância porque o restaurante onde trabalha fica mesmo em frente e tem tido clientes “que vêm almoçar e me dizem que estiveram aqui presos, outros que vieram cá de visita”. Por isso, conclui: “estou convencido que vai trazer muitas pessoas e isso vai ser bom para Peniche”.
A IMPORTÂNCIA DA FORTALEZA
Foi há um ano que o governo prometeu uma verba de 3,5 milhões de euros para transformar a velha fortaleza e seu o museu municipal num grande Museu Nacional da Resistência e Liberdade.
António José Correia, ex-autarca de Peniche eleito pela CDU, gosta de recordar que o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, disse na altura que “o investimento era, para já, de 3,5 milhões para esta fase”, podendo ir depois aos 5,5 milhões. “Acho que Peniche não pode esquecer esse ‘para já’”, diz o antigo presidente da Câmara, recordando que o complexo formado pela antiga fortaleza e os blocos prisionais têm imenso espaço que pode ser aproveitado para além da componente museológica.
Acerca dos conteúdos previstos no guião, António José Correia diz que está “integralmente de acordo” com as ideias propostas e destaca o memorial com os nomes de todos os presos políticos que por ali passaram e com a parte dedicada à história da fortaleza, que remonta ao séc. XVI “e que é omnipresente na vida de Peniche”.
O actual presidente da Câmara, o independente Henrique Bertino, não quis prestar declarações.
Mas já o PSD de Peniche tornou público um comunicado onde diz que “Peniche é muito mais do que 40 anos de Salazar” e que à cidade não basta um museu sobre a ditadura pois “nos 23 mil metros quadrados da fortaleza tem de caber toda a sua história”. Também na Assembleia Municipal, o PSD foi o único partido a votar contra a moção do PCP sobre a fortaleza, que “tenta branquear um processo que pôs e continua a pôr de parte as pessoas de Peniche”.
O vereador Filipe Sales diz que o projeto museológico anunciado é “feito à medida das intenções do PCP”. Sublinhando que nada coloca em causa o seu profundo respeito pelo sofrimento dos presos políticos em Peniche, o autarca considera que “daquele plano resulta que tiraram a Fortaleza às pessoas de Peniche para a privatizar na totalidade, fazer dela propriedade privada do PCP”.
Um guia para o futuro museu
Núcleo 1 – O Parlatório e a forma como decorriam as visitas, cheias de restrições, aos presos. A solidariedade material e política da população de Peniche. A colónia de férias para filhos de presos no forte. O posto da Pide e a vigilância sobre familiares de presos e a população.
Núcleo 2 – Sala do Memorial com a história da fortaleza desde que foi praça militar. A génese do sistema defensivo de Peniche.
Núcleo 3 – Lutar pela memória: honrar todos os que se sacrificaram pela conquista da Liberdade e da Democracia.
Núcleo 4 – O regime fascista. A Europa dos fascismos, a ditadura do Estado Novo, a ideologia e a propaganda, a discriminação da mulher na sociedade e na família.
Núcleo 5 – O sistema policial e repressivo. A polícia política, a justiça política, o sistema prisional, o campo de concentração do Tarrafal, os caídos em combate contra o fascismo.
Núcleo 6 – O colonialismo e a guerra colonial – O “Império”, o sistema de opressão dos povos africanos, os movimentos de auto-determinação, a questão de Goa e a União Indiana. A guerra colonial
Núcleo 7 – A resistência antifascista e anticolonialista. A luta contra a ditadura militar, as revoltas, a guerra civil espanhola, a II Guerra Mundial e a sobrevivência do regime, as lutas sindicais, as conspirações militares, as formas de luta e organização dos movimentos de resistência
Núcleo 8 – Fugas de presos políticos. O historial de fugas do forte de Peniche.
Núcleo 9 – O 25 de Abril. O derrube da ditadura e os primeiros anos da Democracia.
Núcleo 10 – A libertação dos presos políticos do forte de Peniche.
Núcleo 11 – A cadeia do forte de Peniche: as várias fases do edifício, o papel de Peniche no sistema prisional político e as lutas dos presos políticos dentro do forte e dos seus familiares
MEMORIAL COM LISTA DE PRESOS
Estão ainda previstos outros espaços com conteúdos específicos, nomeadamente um memorial com uma listagem de todos os presos políticos que passaram pelo forte, bem como as casamatas e o segredo (celas de castigo). A cela de Álvaro Cunhal estará individualizada e conterá referências ao trabalho intelectual e artístico ali desenvolvido. Haverá ainda mais um espaço para exposições temporárias. C.C.
Peniche em destaque no The Guardian
O jornal britânico The Guardian destacou Peniche numa lista denominada “12 das melhores cidades com praia no sul da Europa”, publicada no passado dia 28 de Abril.
Peniche surge a meio da lista, no sexto lugar, e no artigo elaborado por Edwina Pitcher pode ler-se:
“Situada numa península com o mesmo nome, 100km a norte de Lisboa, Peniche é um porto rodeado por praias de areia e penhascos com grutas. Os surfistas juntam-se aqui todo o ano porque se não há ondas de um lado da península, é provável que haja do outro. A praia mais famosa é Supertubos, que tem dos melhores breaks de surf do mundo, que produzem ondas redondas e poderosos tubos. Também há enseadas para descobrir na Praia do Baleal, e a Praia da Almagreira tem dunas fantásticas. Apanhe o barco para a Berlenga Grande, uma ilha selvagem a 12 km da costa, para descobrir grutas aquáticas, e o forte João Baptista do Século XVI (os barcos são diários).”
O artigo destaca ainda o peixe fresco que abastece os restaurantes locais e recomenda a caldeirada da Marisqueira dos Cortiçais e o caranguejo fresco do Snack Bar Sol é Vida, “perfeito com uma garrafa de vinho verde”.
Para a dormida, o artigo sugere a Quinta do Juncal, uma mansão do Século XIX, que ofercee “luxo rústico por preços rústicos”, ou o campismo na Berlenga que proporciona “auroras espectaculares”.
A lista, que tem em Viana do Castelo outra presença portuguesa, inclui ainda as cidade de Šibenik e Zadar (Croatia), Sanremo e Sciacca (Itália), Sanlúcar de Barrameda e San José (Espanha), Galaxidi e Volos (Grécia) e Saint-Jean-de-Luz e Sète (França). J.R.