Prisioneiros da 1ª Guerra estiveram nas Caldas

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Durante a 1ª Guerra estiveram nas Caldas da Rainha prisioneiros alemães e austro-húngaros

As Caldas e a região Oeste acolheram refugiados em Portugal ao longo do século XX, num movimento iniciado com a presença dos refugiados bóeres, entre 1901 e 1902 que ficaram em instalações do Hospital Termal e posteriormente nos Pavilhões do Parque.

Durante a Primeira Guerra Mundial, “muitos alemães e austro-húngaros, considerados inimigos devido à beligerância portuguesa, também transitaram, sob regime de detenção, por espaços onde os bóeres haviam estado acolhidos, alguns anos antes”. São dados presentes no livro, recentemente lançado, “Refugiados em Portugal, entre a hospitalidade e a intransigência”, dos historiadores Carolina Pereira e Fábio Faria e que responderam a questões da Gazeta das Caldas.

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Também houve acolhimento durante o período da Guerra Civil de Espanha (1936-1939), com a passagem de vários refugiados espanhóis, e, logo a seguir, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), houve a estada de refugiados de diversas nacionalidades.

Segundo os historiadores, a utilização de novas fontes, no Arquivo Histórico Militar, na imprensa nacional e local, permitiu atualizar os números sobre a presença dos grupos.

Em abril de1901, “chegaram às Caldas mais de trezentos bóeres, assim como estiveram mais de trezentas pessoas em Alcobaça”, disseram os autores à Gazeta.

“À chegada aos espaços de acolhimento, os prisioneiros eram, divididos e agrupados em classes, cujos privilégios e condições variavam segundo a hierarquia, o que facilitava a organização e a vigilância das autoridades portuguesas”, contaram acrescentando que houve “troca frequente de prisioneiros entre os depósitos, sendo que, na maioria dos casos, iam para as Caldas por questões de saúde”.

Estes estrangeiros tinham alguma liberdade, mas esta “era bastante condicionada e muito vigiada pelas autoridades, dado que eram considerados inimigos de Portugal”. Ainda assim, foram autorizados a deslocar-se entre os depósitos – das Caldas, de Peniche e de Angra do Heroísmo -, a contactar com o exterior, por intermédio da Embaixada de Espanha (país neutral na guerra) em Lisboa, usufruindo do auxílio de algumas organizações, como a Cruz Vermelha Portuguesa.

Uma vez que eram naturais de países inimigos de Portugal, “a sua presença não foi bem recebida pelas populações, ao contrário do que havia sucedido com os bóeres”, contaram. Houve ainda tentativas e concretizações de fuga, cujos protagonistas, quando recapturados, eram castigados, aplicando-se, geralmente “uma pena de prisão de 30 dias”. Alguns estrangeiros “foram posteriormente recapturados em áreas tão diversas, como Castelo de Vide, Rio Maior ou Alcoentre”. Os dados disponíveis apontam para uma presença mais significativa de prisoneiros alemães e austro-húngaros nas Caldas para onde, só nos últimos meses de 1917, “terão sido transportadas mais de 400 pessoas de Lisboa”.

Quanto ao depósito de Peniche, terá acolhido, entre 1916 e 1919, no mínimo, “180 pessoas”.

Os historiadores, que querem continuar os seus trabalhos relacionados com o acolhimento de refugiados durante o século XX em Portugal, consideram “impossível” falar do tema sem referir a região Oeste e a cidade das Caldas da Rainha que, com estes acolhimentos, “assumiu uma dimensão verdadeiramente cosmopolita, algo que gerava muita curiosidade entre a população local”.

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