Realizadores da região têm filmes no festival de Berlim

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A caldense filmou uma comunidade na Amazónia onde as crianças fazem tudo desde muito pequenas
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A caldense Inês Alves e o leiriense Raul Domingues. Ambos
têm películas em certame internacional

Há dois realizadores da região cujo trabalho, por estes dias, pode ser observado na 72ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que decorre entre 10 e 20 de fevereiro. A caldense Inês T. Alves filmou um documentário realizado numa comunidade indígena da Floresta da Amazónia há quatro anos. Assim nasceu “Águas do Pastazza”, que vai estrear em Berlim, como filme selecionado para a secção Generation. Mas há mais: também o filme “Terra que marca”, de Raul Domingues, que se formou na ESAD, foi selecionado na secção Forum e vai ter estreia na Berlinale 2022.
“Águas do Pastazza” é a primeira longa-metragem da realizadora caldense que, depois de ter vivido dois meses em Suwa, uma comunidade isolada de cerca de 80 habitantes na floresta amazónica equatoriana, desenvolveu uma relação próxima com as crianças e teve a ideia de criar este documentário.

O trabalhar a terra é o mote principal da longa metragem do leiriense

No filme, é possível acompanhar o dia a dia das crianças de Suwa extremamente independentes, mostrando a sua ligação íntima com a natureza, bem como a sua relação com as novas tecnologias, fenómeno bastante recente na comunidade.
Enquanto Inês Alves filmava as crianças, com idades entre os 5 e os 12 anos, elas correspondiam, filmando também com telemóveis. A película retrata “a forma colaborativa com que as crianças executam as tarefas”. Elas pescam, cozinham, lavam roupa no rio e apanham fruta das árvores, numa relação muito próxima da natureza. “É muito comum captar uma criança no topo de uma árvore a apanhar fruta”, disse a realizadora, de 34 anos, que quer voltar à Amazónia ainda este ano para apresentar o filme Águas do Pastazza” à comunidade.
Ter sido selecionada para Berlim “é algo incrível!”, disse Inês Alves à Gazeta das Caldas. A autora sente-se feliz por dar a conhecer aquela tribo num local como o festival de Berlim, “pois é um garante que o filme vai chegar a muita gente”.
A caldense revela preocupação com o ataque às comunidades indígenas pela desflorestação intensa. Quis ainda, através das crianças, chamar a atenção para a importância de se estabelecer uma relação mais sustentável com o ambiente”.
Inês Alves estudou Cinema Documental na University of the Arts London (bolseira da Gulbenkian), saiu das Caldas com 17 anos para estudar, mas volta com regularidade para visitar a família. Um documentário sobre a cidade termal é uma ideia “atraente” para esta autora até porque “não faltam assuntos para retratar”.
Quanto a Raul Domingues, formado na ESAD, deu a conhecer um pouco desta longa-metragem onde é possível contemplar os gestos de quem trabalha a terra, testemunhamos o cuidar, do semear, do regar, do cavar do solo.
Raul Domingues nasceu e cresceu na aldeia do Casal da Quinta que pertence à freguesia de Milagres (Leiria).

Raul Domingues
Inês T. Alves
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De resto, no trabalho final de curso de Som e Imagem (entre 2011 e 2014) já se tinha dedicado a retratar o quotidiano da sua aldeia natal. “Flor Azul” teve estreia em 2014 no Doc Lisboa e, a partir de então, Raul Domingues começou a trabalhar em Lisboa, com outros realizadores.
Em “Terra que marca”, o autor começou por filmar a sua avó no trabalho da terra. Seguiram-se outras pessoas da aldeia. O próprio realizador colocou as mãos na enxada, sensações que acabaram por passar para a obra.
“Percebi que o filme era sobre a experiência do trabalho na terra e fui construindo a partir dessa ideia”, contou o autor, que teve o apoio de um produtor polaco para que a longa-metragem chegasse a bom porto.
“Terra que marca” é a sua segunda longa metragem (tem 65 minutos) e foi com enorme satisfação que reagiu quando soube que tinha sido selecionado para Berlim. “É o reconhecimento do meu trabalho”, disse o realizador, que espera que a presença do filme lhe possa trazer mais oportunidades no mundo do cinema ou que, pelo menos, lhe “permita continuar a fazer filmes”.
Prosseguir estudos na área é uma hipótese para futuro, mas a prioridade é continuar a dedicar-se aos filmes. Neste momento, Raul Domingues está a trabalhar com um arqueólogo sobre Arqueologia do Som, realizando filmagens numas grutas em Palmela.

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