
“Grandella, a Cidade e o Cidadão” é a exposição que dá a conhecer parte da vida e obra de Francisco de Almeida Grandella, comerciante e industrial que também se dedicou a impulsionar a Educação em Portugal. Das seis escolas que têm a sua marca, duas pertencem ao concelho das Caldas – Foz do Arelho e Nadadouro – e fazem hoje parte de um roteiro que passa por São Domingos de Benfica, Aveiras de Cima, Luso e Tagarro (Azambuja).
Esta mostra pode ser visitada até 28 de Maio na sede da Junta de Freguesia do Nadadouro e resulta de um parceria entre as juntas de freguesia de Nadadouro, Foz do Arelho, São Domingos de Benfica, Aveiras de Cima e Alcoentre.
Aos 12 anos, Francisco de Almeida Grandella foi para Lisboa trabalhar como marçano. Mandou-o o pai em 1865. Mais tarde (1907) acabaria por erguer os Armazéns Grandella, em plena baixa lisboeta (entre a Rua do Ouro e a Rua do Carmo) e ainda fundar unidades fabris em Alhandra e São Domingos de Benfica (dedicadas às malhas, fiação de lã e algodão, ao fabrico de luvas, à perfumaria e faiança).
Além de multimilionário e reconhecido industrial e comerciante, Francisco Grandella dedicou parte da sua vida à instrução popular. Seis foram as escolas primárias que mandou construir, duas delas no concelho de Caldas da Rainha. A Escola Bernardino Machado (Foz do Arelho) e a Escola França Borges (Nadadouro) são também as únicas que ainda se encontram a funcionar com o objectivo para que foram construídas: ensinar.
Na exposição “Grandella, a Cidade e o Cidadão” é possível conhecer a história destas seis escolas primárias e acompanhar a evolução da alfabetização em Portugal.
Por exemplo, em 1910 (ano da implementação da República), dois terços da população não sabia ler nem escrever. O combate ao analfabetismo foi precisamente uma das lutas republicanas e Francisco Almeida Grandella é reconhecido como um dos nomes mais importantes desta batalha.
Antes das escolas chegarem à Foz do Arelho e Nadadouro, Grandella recorreu à Associação de Escolas Móveis, criada para levar o ensino das primeiras letras aos lugares mais carenciados do país. Entre 1904 e 1906 registam-se missões das Escolas Móveis na Foz, Nadadouro e Serra do Bouro. Cada missão incluía 90 lições e durava cerca de quatro meses.
A inauguração das escolas primárias da Foz do Arelho (1910) e Nadadouro (1912) são contadas nesta exposição com o auxílio de recortes de jornal que noticiam o acontecimento.
A Junta de Freguesia do Nadadouro recolheu ainda testemunhos de utentes do Centro de Dia do Centro de Apoio Social do Nadadouro que recordaram os seus tempos de aluno na Escola Básica França Borges. Evaristo Baltazar, 91 anos, conta que tinha um tio muito amigo do Grandella e que o conhecia como “um homem que tinha mais dinheiro que o Estado”, relembrando que na altura “50 alunos tinham mais respeito à professora do que hoje apenas um”. E ai de quem se atrevesse a desobedecer: levava com a palmatória!
A propósito dos 105 anos da escola primária do Nadadouro, a Junta de Freguesia elaborou no ano passado um pequeno caderno sobre a origem e evolução deste estabelecimento de ensino. Páginas de história que também podem ser consultadas nesta exposição, que teve como coordenador técnico-científico o historiador João Bonifácio Serra.
De destacar ainda o trabalho que Francisco de Almeida Grandella desenvolveu em São Domingos de Benfica, onde mandou erguer um bairro para os seus operários, com pequenas casas, uma creche e uma escola (para que os filhos dos mesmos se pudessem instruir). Ainda hoje este bairro é habitado e na exposição é possível conhecer as histórias de quem lá mora.
A mostra “Grandella, a Cidade e o Cidadão” pode ser visitada até 28 de Maio e segue depois para a sede da Junta de Freguesia da Foz do Arelho.